Amigos se reúnem em Confraria para aprender a preservar sabor único da carne
Quem gosta de churrasco e cerveja na companhia dos amigos tem deixado tradições de lado para uma preparação cada vez mais requintada da carne. Reunidos a cada 15 dias, novos amigos vão chegando até a Confraria da Carne, que nasceu como primeiro passo para unir curiosidade e técnica sobre os mais diferentes cortes que são comercializados no País.
A ideia foi dos empresários Thiago Chiarapa e Vinícius Moreira, proprietários de uma casa de carne em Campo Grande, levando em conta dúvidas dos clientes. "Muitos têm dificuldade em conhecer cortes, os tipos de carne, raça e informações mais técnicas", explica Thiago.
A apresentação é montada em um restaurante onde o grupo se reúne sempre. A maioria é homem entre 25 e 40 anos. Entre advogados, médicos veterinários e empresários, todos se dizem apaixonados por churrasco.
Thiago é quem esclarece detalhes da carne durante duas horas de reunião em que os participantes escolhem o tema. Ele deixa claro o quanto as características influenciam no sabor e textura da carne.
"Dessa vez falaremos de cortes, levando em consideração o ponto, padrão de peça, marmoreio, raças e acabamento da carne bovina", diz.
A principal dúvida é sobre o marmoreio, definido pelo acúmulo de gordura entremeada na carne que hoje é quase um requisito na hora do churrasco. "Há diferença de marmoreio por idade, raça e níveis. É importante saber porque a quantidade dessa gordura quando em contato com o fogo, ela se transforma em sabor, além de ser uma carne mais macia e suculenta".
Thiago também esclarece que na hora da escolha é preciso levar em consideração a validade e, principalmente, a cor da carne. "Ela tem que estar um vermelho bem aberto, não pode ser aquela cor escuro, quase vinho", específica.
A reunião também serve para quebrar alguns mitos, desde a compra até a hora de assar o corte. "Falamos principalmente da picanha, que é mais comum em nossos churrascos. O pessoal mais antigo diz que a picanha vai de 900g a 1,2 kg. Mas com os cruzamentos que vem acontecendo, conseguimos tirar picanhas maiores com até 1,8 kg. Então precisamos diferenciar a picanha de um colchão duro, por exemplo".
Na hora de assar, engana-se quem ainda guarda dezenas de espetos ao lado da churrasqueira. "Sinceramente? Usar o espeto em um corte especial é uma judiação. Antes havia um aproveitamento maior, mas com a chegada dos cortes especiais e o steak, a peça que geralmente é uma fatia de 2 dedos, a qualidade é em fazer um churrasco na grelha".
Mas se alguém não abre mão do espeto, Thiago ensina os cuidados. "A gente fala para nunca furar a carne, porque senão acaba jogando fora toda suculência. Caso não há opção, o certo é furar a carne com o espeto quente para não perder as propriedades", detalha.
Veterinária, Gabriela Ferreira, de 29 anos, é uma das poucas mulheres a participar da Confraria. "Há uma discriminação deles que dizem que a gente não sabe escolher uma carne, mas não é bem assim. Chega dessa visão que só homem tem que ir ao mercado para escolher, sem contar que hoje em dia as mulheres são independentes e não casam cedo, a gente faz churrasco só entre amigas também", explica Gabriele.
A empresária Duanny Karoline, de 23 anos, esbarrou na cobrança de especialização por conta do trabalho e por isso decidiu participar da Confraria. "Trabalho com eventos e descobri que já foi o tempo da massa, escondidinho e filé ao molho madeira na hora de servir o buffet. Hoje temos muitos casamentos que escolhem o churrasco no cardápio, mas não é qualquer preparo, as noivas querem cortes especiais à mesa. Então preciso aprender e atender esse público", comenta.
Para quem se diz apaixonado por churrasco, a carne é até desculpa para conviver com os amigos. "Gosto muito de churrasco e uma conversa com os amigos. Mas hoje os cortes fogem do tradicional, então para fazer um bom churrasco é preciso entender", diz o advogado Fernando Pache, de 27 anos.
As nomenclaturas e os diferentes tipos de carne pelo mundo foram as dúvidas do advogado, Mário Domingos, de 32 anos, que já participa de 4 grupos de churrasco no Whatsapp. "Isso gera muita curiosidade, porque antigamente era só o nosso churrasco, hoje fala tanto em uruguaio e argentino que a gente precisa entender um pouquinho, porque as casas de carne estão trazendo cada vez mais um requinte".
A Confraria da Carne acontece a cada 15 dias com vagas para 20 pessoas. Quem quiser participar pode entrar em contato pelo telefone (67) 3201-5790.
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