É possível ter sommelier para chamar de seu e tomar vinho à vontade no calor
Ivan Ferreira é o sommelier cearense que, há 15 anos, chegou em Campo Grande para desmitificar a bebida
Os dias com temperaturas mais baixas combinam perfeitamente com um vinho, mas com a chegada da estação quente é comum a bebida perder o reinado para a cerveja. Mas 15 anos de experiência levam o sommelier cearense Ivan Ferreira a garantir que vinho cabe bem em todos os meses do ano, inclusive, no calor intenso.
O problema é que muita gente deixa de levar a garrafa para casa por não sabe escolher o vinho ideal. Todos aqueles termos específicos e características sobre a produção da bebida, inibem o consumo. Em Campo Grande, Ivan é um dos que se empenha a quebrar esse medo e provar que "vinho não é bebida de rico, muito menos difícil de escolher".
E é possível fazer isso por dois caminhos, seguindo dicas ou investindo cerca de R$ 500,00 para ter um "sommelier particular" em casa, para chamar de seu. E o luxo é mais comum do que se imagina, principalmente, em Campo Grande. "No Nordeste as pessoas não consomem tanto vinho, mas aqui é bem diferente, tanto que a gente considera como o Sul do país, fazendo uma comparação em consumo e o gosto do campo-grandense pela bebida".
Uma aparição de Ivan envolve análise do cardápio, listagem de rótulos e explicação de forma clara e descontraída sobre os tipos de vinhos. "O cliente me manda o cardápio que pretende servir em casa ou em um evento. Tecnicamente, vou harmonizar com os vinhos e passo uma lista de rótulos para serem comprados. Depois, durante a refeição, explico sobre cada bebida e isso torna relação com o vinho muito harmoniosa", diz o sommelier.
Mas se o jeito for escolher a bebida sozinho, não é preciso desespero, garante o especialista. "Primeiramente é preciso entender que seja branco ou tinto, o que se vê nas prateleiras é realmente vinho, com determinado tipo de uva que passa por um processo de fermentação.
Sem papas na língua e com uma abordagem mais descontraída, Ivan diz que "quando alguém me pede para falar qual é o vinho bom eu sinto que 'ferrou'. Vinho é vinho, o que muda é o termo de fermentação e a qualidade da uva, isso não significa que um vinho é pior do que outro. Basta ter tato para saber o que se adapta melhor ao seu paladar".".
O maior erro, normalmente, é a escolha entre o seco e o suave. "Quem não olha o rótulo acaba levando pra casa algo mais adocicado ou não. A diferença é que em vinhos suaves, há adição de açúcar e os vinhos secos, eles são feitos com baixo teor de açúcar, naturalmente da uva".
Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay são nomes que também causam confusão na hora da escolha, mas são apenas os tipos de uva usada na produção da bebida. "O que é importante saber é o corpo do vinho e as pessoas me perguntam: o que é corpo? É simplesmente o peso do vinho na boca com sua textura. Como saber isso? Experimentando e descobrindo aquele que você mais gosta".
Sem listar uma infinidade de sugestões para harmonizar com outros alimentos, Ivan segue a linha da desarmonização. "Sugiro que tomem o vinho seco, porque o vinho suave ele continua vinho, mesmo com açúcar, mas acontece que eu descaracterizo ele. E na hora de harmonizar com a comida, escolha alimentos salgados que vão fazer toda a diferença".
O sommelier sugere uma regra simples. Vinhos brancos e rosês Chardonnay combinam perfeitamente com carnes brancas, molhos brancos e alimentos lactosos. Já os vinhos tintos encorpados como Malbec e Cabernet Sauvignon harmonizam com carnes vermelhas, por exemplo.
"Na verdade, sugestões como essas não devem ser encaradas como regras, apenas como uma direção, você é livre para criar novas combinações e a melhor harmonização sempre será aquilo que mais agrada".
Sobre beber vinho no calor, ele deixa a sugestão. "No Brasil temos vinhos brancos e espumantes excelentes, por valores menores que R$ 50,00 e super refrescantes. É possível substituir a cerveja e tomá-lo na temperatura que preferir, inclusive, bem gelado".
Carreira - O que atraiu Ivan para a carreira de sommelier não foi nada sofisticado. Depois anos trabalhando no ramo de Turismo Receptivo, sem tempo com a família ou férias, uma demissão fez ele trabalhar em um restaurante do Ceará. De lá, surgiu a oportunidade de trabalhar em Campo Grande e foi aqui que redescobriu o universo dos vinhos.
"Observei durante muito tempo, um garçom que apresentava os vinhos de uma forma diferente, sem aquele padrão de roupa ou fala. Chegando aqui eu aprendi muita coisa e quis me empenhar em desmitificar o vinho. Meu trabalho é com naturalidade".