Em rua escondida, nordestino serve pizza, pastel e refri a vontade no Nova Lima
Mas o dono cobra R$ 3,00 por cada pedaço de pizza desperdiçado.
Georges da Silva Vieira, de 38 anos, trabalhava dia e noite como encarregado de supermercado, no Nova Lima, em Campo Grande, quando resolveu abrir uma pizzaria. Ele começou "do nada" há 4 anos e hoje acumula algumas proezas, como conseguir emplacar um cantinho escondido da periferia da cidade e servir um self service a la carte de pizza, pastel e refrigerante a R$ 20,00.
A Avenida Cândido Garcia de Lima é o endereço do lugar que leva o nome de "Pizza Grega - Auavózec" e é anunciado como franquia por telefone. Mas o próprio dono revela a simplicidade e admite que o lugar não é exatamente como a franquia que ele sempre sonhou. "É muito caro, custaria quase 2 milhões pra trazer uma franquia da Grécia, então a gente fez essa que também é ajeitadinha", diz o dono.
Mesmo assim, o ambiente revela que Georges faz de tudo para deixar o lugar agradável. Em um espaço de aproximadamente 40m² as paredes são revestidas de tijolinho à vista, o pé direito baixo de gesso com direito a luzes de LED e um lustre bem na entrada para quem chega apé ou de carro na rua mais "esburacada" do Nova Lima.
O que faz até o dono se desculpar. "Eu sempre peço desculpa para os clientes, fim de semana teve até guincho vindo resgatar motorista aqui", diz.
Na mesa o cardápio é simples, o cliente pode pedir quantas pizzas quiser. Os sabores estão escritos à mão em um sulfite e pizzas "meio-a-meio" já são definidas pelo estabelecimento. E não é possível alternar os sabores pedindo metade disso e metade daquilo. Basta pedir o que está no cardápio e pronto.
O pedido fica pronto em torno de 10 minutos. Além da pizza, há opções de pasteis de carne e queijo, no freezer o dono mostra quantos tipos de refrigerante e coloca de imediato 2 litros na mesa. A desvantagem é que com tanto refrigerante para beber, no fim o cliente só vai tomar apenas um sabor.
Mas como o interesse maior era a comida, a surpresa é com um pizza saborosa. Vale pelo recheio e pela massa fininha. E a borda vem crocante ao sair do forno à lenha. Com sabores de estrogonofe de frango, carne, calabresa, siciliana, baiana, portuguesa, quatro queijos, frango com catupiry, lombo ao creme e mineira.
Mas antes que você pense em deixar um pedaço de lado, o dono se encarrega de informar sobre o desperdício. "Cada pedaço desperdiçado custa R$ 3,00, mas você pode levar pra casa", afirma na mesa e repetindo o aviso para cada cliente que chega.
Georges também serve um cardápio a la carte com as pizzas tradicionais, doces e gregas que chegam a custar R$ 80,00 como a "Béikon" que, segundo ele, tem mussarela, bacon de javali, parmesão e alecrim ou a grega "Solomo" com mussarela, salmão, parmesão e alecrim a R$ 60,00.
A pizzaria entrega para toda a cidade e dependendo da região a taxa pode chegar a R$ 15,00. "Mas o pessoal pede bastante pizza e compensa", justifica.
O dono diz ser um homem simples, que chegou em Campo Grande aos 18 anos, mas não perdeu a humildade que aprendeu em Sertão do Ipanema, no Alagoas. Tanto que, segundo ele, o jeitão simples de falar já foi motivo de discórdia entre ele e os clientes. "Estou começando agora, ainda não tenho o jeito de falar do povo daqui, todo engomadinho, então as pessoas acham ruim porque a gente é simples demais. Mas a gente sempre tenta melhorar", diz sobre o padrão que na maioria das vezes garçons ou maitres adotam para servir.
Sobre continuar no Nova Lima, ele justifica na gratidão. "Logo que eu cheguei em Campo Grande pra tentar uma vida diferente, eu vim pra esse bairro. E aqui eu aprendi a ser gente", afirma. "E sair daqui é lidar com outro mundo, muita coisa é diferente fora do Nova Lima. Aqui pelo menos eu conheço todos os moradores, todo mundo sabe que é a gente", completa.
A pizzaria fica na Avenida Cândido Garcia de Lima, 2472, Nova Lima. Abre de terça a domingo, das 19h às 23h.