Na estrada, trailer é cenário para história de amor com sabor de galeto frito
Casal se conheceu no berço, os dois foram amamentados pela mesma mulher e há 32 vivem juntos
Quando o repórter pergunta sobre a história de amor, a resposta vem com um sorriso largo, de quem não consegue esquecer a melhor casualidade de infância que um dia levou Camilo e Loreni a dizerem “sim” um para o outro. Casal que, há 20 anos, tem trailer às margens da rodovia BR-163, no município de São Gabriel do Oeste, a 137 quilômetros de Campo Grande, também faz um sucesso danado vendendo galeto frito para reforçar o lanche dos viajantes.
Camilo Babinski e Loreni Elois Babinski, ambos de 52 anos, tocam o negócio desde que o trabalho como borracheiro trouxe problemas de saúde a Camilo. Sem poder mais bater a marreta pesada, o casal foi vender caldo de cana às margens da rodovia. Local que começou pequeno hoje é ponto de parada conhecido e foi um caminho importante na formação dos filhos.
Os dois são amigos de infância, praticamente, nasceram juntos, narra seu Camilo. “Ela é só um mês mais velha do que eu”, conta. Loreni é afilhada da mãe de Camilo que na infância amamentava os dois ao mesmo tempo. “Quando a gente começava com birra, ela colocava um de cada lado do seio e amamentava. A gente dividia até o leite de criança”, diz rindo.
Foi dali que surgiu uma amizade inseparável. Juntos brincaram, dividiram histórias, estudaram e até fizeram primeira eucaristia. “Eu brinco que quem mama do mesmo leite vai aguentar tudo”, diz o marido.
Dos 52 anos de vida, apenas dois foram de distância entre eles. “Só fiquei longe dela quando passei um ao no seminário e outro no Exército. Depois disso nunca mais nos separamos”, comemora.
Casados desde 1986, eles deixaram Pato Branco, no Paraná, naquela época para tentar uma vida melhor em Mato Grosso do Sul. Seu Camilo veio trabalhar como tratorista em uma propriedade rural e depois seguiu a profissão como borracheiro. Foram anos trocando pneus do jeito mais rudimentar, batendo marreta pesada, até que um dia os reflexos da força atingiram a coluna. “Eu não tinha mais condições”.
Foi quando um conhecido da rodovia colocou à venda o trailer que até então só vendia caldo de cana. Camilo e Loreni investiram no ponto e foram para estrada moer cana em busca de sustentar a família.
E há 20 anos o investimento deu certo. A garantia está no sorriso largo do casal sulista, que nunca perdeu o sotaque e recebe viajantes com muita simpatia, apesar de uma jornada, consideravelmente extensa, das 5h às 21h, todos os dias, no km 614.
Com tempo eles foram aprimorando a técnica para fazer os salgados, priorizando o atendimento e hoje contam com o trailer cheio e preparam, diariamente, cerca de 300 salgados. Entre eles o que chama atenção é o galeto, que diferente da receita típica assada, ali é servido frito para o cliente comer com garfo ou com as mãos. “Gostoso mesmo é comer frango com a mão, né”, sugere o dono.
Amor e companheirismo no casamento são características que se repetem nos dias de trabalho. Por isso, em 20 anos, Camilo garante isso foi o que lhe ajudou a aumentar os negócios. “Eu e a Loreni trabalhamos com muito amor, não é à toa que hoje temos cinco funcionários”, comemora.
E como a atividade depende de quem passa na rodovia, o receio que fica é de um dia ter que sair dali. “A rodovia está sendo duplicada e quando a concessionária começou a fazer, nosso maior medo foi de pensarem em nos tirar. Mas eu calculo que não, porque não estamos atrapalhando, Deus há de ter piedade”, suplica.
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