Com oferta limitada, preço do leite ao produtor sobe 1,4% na “Média Brasil”
La Niña, com fortes chuvas no Sudeste e estiagem no Sul, tem impactado diretamente sobre a produção leiteira
![Criaçãode gado leiteiro em estação experimental da Embrapa-CNPGL, em Minas Gerais. Estiagem e preço dos grãos tem impacto no aumento do custo de produção de leite. (Foto: Arquivo/Embrapa)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2022/02/26/zoijrw70vxzv.jpg)
Depois de registrar consecutivas quedas desde setembro de 2021, o preço do leite captado em janeiro/22 e pago aos produtores em fevereiro/22 registrou alta de 1,4% em relação ao mês anterior, chegando a R$ 2,1397/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
O enfraquecimento do consumo por lácteos era o fator preponderante que vinha ditando os movimentos de preços para toda cadeia produtiva desde o último trimestre do ano passado. Contudo, a desvalorização do leite no campo somada ao clima adverso e aos elevados custos de produção limitaram a produção de leite em janeiro, especialmente no Sul do País. Esse cenário, por sua vez, resultou em altas nas cotações – e essa inversão na tendência dos preços pode ser considerada um adiantamento do período de entressafra.
![Preços líquidos nominais pagos aos produtores em fevereiro/2022 referentes ao leite captado em janeiro/22 nos estados que não estão incluídos na “Média Brasil”. (Fonte: Cepea-Esalq/USP.)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2022/02/26/3o5u6fm25zeos.jpg)
Os efeitos do fenômeno La Niña, com fortes chuvas no Sudeste e estiagem no Sul, têm impactado diretamente sobre a produção de leite, visto que a baixa qualidade das pastagens e da silagem prejudicam a alimentação do rebanho. Além disso, é preciso considerar que a oferta de grãos tem sido afetada negativamente pelo clima – o que também eleva o preço deste insumo. Se, em dezembro, eram precisos, em média, 41,5 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho, em janeiro, com a queda no preço do leite e a valorização do milho, o pecuarista precisou de, em média, 45,5 litros para a mesma compra. Isso significou uma redução de 9,7% no poder de compra do pecuarista de um mês para o outro. Para piorar, os preços de outros insumos, como suplementos minerais, antibióticos, adubos e corretivos, continuaram subindo, corroendo a margem do produtor de leite.
![O sinal * indica que há informações, mas que o dado não pode ser divulgado por questão de amostra limitada. O sinal - indica que não houve informação coletada. Para o cálculo da média estadual são consideradas todas as informações obtidas](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2022/02/26/3e12whprr4u8w.jpg)
Nesse contexto, os investimentos na pecuária leiteira têm sido comprometidos. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea caiu 3,54% de dezembro/21 para janeiro/22 na “Média Brasil”, puxado sobretudo pela queda média de 4,34% na captação do Sul.
Oferta limitada – Mesmo com a fragilidade da demanda por lácteos, a oferta limitada no campo levou os laticínios a acirrarem a disputa pela compra de matéria-prima durante janeiro e fevereiro. O acompanhamento do Cepea do mercado spot (leite negociado entre indústrias) mostra que, em Minas Gerais, o preço médio do leite spot saltou de R$ 2,05/litro na primeira quinzena de janeiro para R$ 2,43/litro na segunda metade de fevereiro, valorização de 18% no período. Com matéria-prima mais cara, as indústrias vêm forçando o repasse da alta no campo para o preço dos derivados desde a segunda quinzena de janeiro. A diminuição das importações nos últimos meses e o aumento das exportações de leite em pó em janeiro colaboraram para o controle dos estoques, o que elevou o poder de negociação das indústrias frente aos canais de distribuição.
* Colaborou Natália Grigol, do Cepea