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Meio Ambiente

“Melhor falar que é cocaineiro do que fazendeiro”: diz produtor de Bonito

Cidade turística, Bonito vivencia a troca da pecuária por soja e setor rebate papel de vilão no turvamento dos rios

Aline dos Santos | 27/12/2018 12:51
Com soja em alta, município de Bonito vive expansão da lavoura (Foto: Kisie Ainoã)
Com soja em alta, município de Bonito vive expansão da lavoura (Foto: Kisie Ainoã)

Um dos problemas responsáveis pelo turvamento das águas dos rios cênicos de Bonito, a lavoura é defendida pelo Sindicato Rural do município, que enviou vídeos ao Campo Grande News mostrando a enxurrada tomando as águas do rio Formoso, no balneário da cidade administrado pela prefeitura; e também escoando rapidamente pela rodovia.

Além da lavoura, os outros dois problemas que refletem nas águas enlameadas dos rios são excesso de chuva e as estradas sem as devidas medidas de contenção para “segurar” os sedimentos.

Contudo, de acordo com o secretário do Sindicato Rural de Bonito, Jefferson Doretto de Souza, apesar desse contexto, a agricultura tem ficado com o papel de vilã.

“Tem bons profissionais no agronegócio. Essa é a luta que a gente tem vivido, tem nos marginalizado, machucado. Melhor falar que é cocaineiro do que fazendeiro. O produtor rural fica como destruidor do meio ambiente. Mas ninguém lembra do produtor rural quando vai fazer compra no supermercado”, afirma Jefferson, que há 20 anos tem imóvel rural em Bonito.

No município, que desde a década de 1990 passou a equilibrar a economia entre turismo e pecuária, o turvamento dos rios que atraem os visitantes deixa um claro clima de animosidade entre os representantes das duas atividades econômicas.

“Cria uma rivalidade, mas o sindicato tem buscado soluções, feito palestras. Há uma preocupação com isso. O sindicato já procurou a prefeitura, o meio turístico para poder compor solução. Mas não houve muito interesse”, diz Jefferson.

Sobre a transição da pecuária para lavoura, ele explica que a mudança atende a uma tendência de mercado, porque a soja está muito valorizada. Além de defender que há agricultura com boas práticas em Bonito, cobra que as estradas tenham caixas de contenção, citando a disposição de ceder máquinas e colaborar com as despesas.

No mês de novembro, o turvamento das águas do Rio da Prata, que passa por Bonito e Jardim, foi decorrente do excesso de chuva e os sedimentos que saíram de duas fazendas, e processo de troca de pasto por lavoura. Os proprietários foram multados.

“São situações pontuais que têm generalizado a classe produtora. Se você visitar todos os passeios turísticos de Bonito, vai ver beirada de rio sem proteção, fossa séptica a curta distância dos rios. Uma série de irregularidades. O turismo é destrutivo? Não. Como também tem bons profissionais no agronegócio”, afirma.

Bonito tem 4,5 mil quilômetros de estradas vicinais, que também são caminhos para conduzir as enxurradas até os rios. Mas, para a prefeitura, a “culpa” das estradas é relativa, porque a água vem das propriedades rurais.

Já o governo do Estado faz reparo em duas rodovias: MS- 178 (que liga Bonito a Bodoquena) e MS-382 (Bonito a Guia Lopes). Estão sendo executadas bacias de contenção com três metros de profundidade nas laterais das rodovias para segurar os sedimentos.

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