Assim como o Rio da Prata, outros da bacia do Miranda estão sob ameaça
Faltam políticas públicas que aliem as práticas de economia com a preservação do meio ambiente e o potencial turístico da região, afirma Angelo Rebelo, diretor de relações institucionais do Instituto Homem Pantaneiro
Menos conhecidos, Salobra, Aquidabã e Betione, rios da Bacia do Miranda em Mato Grosso do Sul, também estão com risco, especialmente em suas nascentes, aponta o Instituto Homem Pantaneiro. O motivo, assim como associado ao Rio da Prata, é a atividade de produção agrícola nas proximidades e a ausência de políticas efetivas de proteção do solo.
“Algumas áreas estão sendo arrendadas para terceiros para produção de soja e estes terceiros delegam para as empreiteiras preparem o solo para o plantio. Muitas vezes o dono e o arrendatário não estão e o serviço vai sendo feito por produtividade”, aponta o coronel da reserva Angelo Rebelo, diretor de relações institucionais do Instituto Homem Pantaneiro.
Tal descontrole escancara o que, para o coronel, se resume em falta de política pública que alie as práticas de economia com a preservação do meio ambiente e o potencial turístico da região.
No caso do Salobra, em especial, o rio fica nas proximidades de Bonito e Bodoquena, 257 e 266 quilômetros de Campo Grande. As águas também cristalinas atraem turistas em passeios como a Boca da Onça.
As imagens aéreas foram registradas durante sobrevoo feito no começo do mês de dezembro. A foto acima mostra as proximidades da nascente do Rio Salobra. “Há um grau em todos os rios [que formam a Bacia do Rio Miranda], principalmente nas nascentes, de onde a água vem. Com a chuva, os rios são abastecidos no ponto mais alto para formar a nascente”.
Na imagem que mostra o Aquidabã, a situação também expõe degradação com a derrubada de vegetação. “Na sequência, o secamento vai reduzindo essa ressurgência, que é aquilo que contribui para o percolamento [filtragem] da água. Se não há reabastecimento do lençol freático, a nascente acaba não acontecendo”.
“De uma forma geral, na medida que a nascente fica comprometida, há uma redução do volume hídrico e assoreamento por falta de mata”. O coronel da reserva citou como exemplo o Rio Taquari, caso emblemático e que hoje aguarda medidas de recuperação. “Houve um entupimento, ainda há algumas áreas alagadas, mas sem a função no ecossistema”.
“Existe escrito e não praticado”
As áreas próximas são as chamadas APP (Área de Preservação Permanente), espaços protegidos, cobertos ou não por vegetação nativa. A função é justamente preservar a função ambiental de preservar os rios, a paisagem, biodiversidade, proteger o solo, entre outros.
Estes locais são protegidos e o que se cobra é política de recursos de manejo do uso e ocupação do solo. “Na prática, todas as nascentes deveriam merecer uma atenção especial”, disse o diretor do Instituto Homem Pantaneiro.
Ricardo Eboli, diretor do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS), afirma que é possível produzir nas proximidades das nascentes dentro da lei, mas que se houve desrespeito à legislação, o órgão tomará providências. “Se existe algo que não seja, é pontual. Precisa ser identificado e o Imasul tomará medidas como as que tomamos no Rio da Prata. Hoje, os rios continuam cristalinos e os passeios funcionando”.
Rio da Prata
No Rio da Prata, caso que, neste mês motivou audiência pública com autoridades de Bonito, água barrenta escoou de uma fazenda de produção de soja para o rio cristalino, deixando-o completamente em “cor de lama” por pelo menos três semanas. A situação, além de expor os reflexos negativos da produção, afasta turistas que buscam a região justamente pela transparência.
Em um dos painéis expostos na audiência, o promotor de Justiça, Alexandre Stuqui Junior, fez o alerta: “se a situação continuar como está, o Rio da Prata morre em10 anos”.
Com base em mapas, as pesquisadoras da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Darlene Gris e Helen Rezende, chegaram a conclusão que o brejão do Rio da Prata, como é chamada a nascente considerada o berçário do curso d’água, teve área de 7 mil hectares reduzida para cerca de 5 mil hectares em 34 anos – desde 1984.
Esta perda reduz a capacidade de filtragem da água da nascente e aumenta o fluxo do rio, acelerando também o carreamento dos resíduos e sedimentos. Na área da nascente, além do desmatamento, foram encontrados construções de açudes e represas.
Sobre a perda de vegetação, a pesquisa mostra que, em resumo, assim como em todo o Estado, Bonito vive há uma década o avanço da lavoura onde era pecuária. A troca de vegetação é mudança muito drástica e reduz a permeabilidade do brejão.
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