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Meio Ambiente

Bairros ganham cor cinza com cidade "pegando fogo" diariamente

Apesar de ser crime ambiental, muitos ainda ateiam fogo para limpar terrenos baldios

Por Clara Farias | 13/09/2024 15:35
Cinzas cobrem terreno de área queimada no Guanandi ll (Foto: Paulo Francis)
Cinzas cobrem terreno de área queimada no Guanandi ll (Foto: Paulo Francis)

Terrenos baldios, áreas de proteção ambiental e áreas particulares estão cobertas por cinzas decorrentes de incêndios em vegetação. O Campo Grande News percorreu bairros em todas as regiões da Capital na manhã desta sexta-feira (13) para verificar o efeito do tempo seco e ouvir a opinião sobre as queimadas urbanas, que é unânime: "não está dando para aguentar mais".

Conforme último levantamento do Corpo de Bombeiros, de janeiro a setembro foram registradas 883 ocorrências de combate a incêndio aqui, a maioria por ação humana.

Para tentar lidar com o fumaceiro em casa, os entrevistados passaram a fechar as portas e janelas, compraram umidificador de ar e estão usando mais ventiladores pela casa. O consumo de água e frutas também aumentou por parte da população que está sofrendo com as doenças advindas da fumaça.

Conferente, João Lopes, de 28 anos, em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)
Conferente, João Lopes, de 28 anos, em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)

Morador do Tiradentes, o conferente João Lopes, de 28 anos, contou que os incêndios em vegetação têm sido frequentes no bairro. "Essa semana teve muita queimada por aqui. Pegou fogo ao redor da Lagoa Itatiaia, próximo ao Cristo Redentor também", disse ele.

O conferente relatou que mora com o irmão, que tem problema respiratório, e a sobrinha de 2 anos. "É muito complicado para gente, ainda mais com o tempo seco. Temos que precaver dobrado. Para não entrar fumaça dentro de casa e prejudicar a 'bebezinha', estamos ficando com as portas fechadas. Aí a gente sofre com o calor", afirmou João.

As margens da BR-262, na saída para Três Lagoas, voltaram a ficar em chamas na manhã desta sexta-feira (13). Imagens enviadas no canal Direto das Ruas mostram que o Corpo de Bombeiros estava atuando no combate ao incêndio e que a rodovia está parcialmente encoberta pela fumaça.

O caminhoneiro Somair Lourdes, que passou pelo local por volta das 10h30, conta que apesar da visibilidade comprometida, o trânsito flui normalmente.  "Mas tem que passar bem devagar porque está muito perigoso, com muita fumaça. No horário de pico, o perigo vai aumentar mais ainda", explicou o leitor.

Nas avenidas Frida Puxian e  Gerval Bernadino de Souza, no Bairro Rita Vieira, o mesmo cenário de cinzas foi encontrado pela reportagem. Segundo o autônomo Guilherme dos Santos, de 24 anos, os vizinhos costumam atear fogo nos lixos e acaba se espalhando para a vegetação seca.

Para tentar minimizar os problemas causados pela fumaça, o autônomo comprou um umidificador, que ainda não chegou. "Estou usando colírio para os olhos não arderem. Estamos sofrendo com o calor, o cheiro de fumaça e o tempo extremamente seco", finalizou.

Terreno queimado na Rua Olinda Alves, no Bairro Rita Vieira (Foto: Paulo Francis)
Terreno queimado na Rua Olinda Alves, no Bairro Rita Vieira (Foto: Paulo Francis)
Área queimada na Avenida Vereador Thyrson de Almeida, em frente ao Parque Ayrton Senna (Foto: Paulo Francis)
Área queimada na Avenida Vereador Thyrson de Almeida, em frente ao Parque Ayrton Senna (Foto: Paulo Francis)

Na região do Aero Rancho, a grande quantidade de fumaça cobria o céu enquanto a servidora pública Felipa Arse, de 54 anos, praticava seus exercícios. Ela contou que mora no
Bairro Santa Emília e vai até o Parque Ayrton Senna três vezes por semana. "Com esse tempo é muito complicado fazer musculação. Está muito feio, né? Para respirar está horrível", disse ela.

Os treinos da servidora foram reduzidos em 15 minutos para evitar o desgaste físico. "Está muito cansativo. Não dá nem para respirar. Costumo ficar revezando nos equipamentos, mas ultimamente até isso está difícil", afirmou.

O autônomo Carlos de Lima, de 58 anos afirmou que hoje mesmo estava filmando a cidade para mostrar aos familiares que moram em São Paulo. "Está pegando fogo em geral, o pessoal aqui já começou a passar mal por causa dessa fumaceira, né?! A minha filha, que mora em Nova Andradina, disse que lá está desse jeito também", contou.

Carlos de Lima em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)
Carlos de Lima em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)

Segundo ele, todos os bairros estão do mesmo jeito. "Mas isso aí é culpa um pouco do pessoal que cuida de lavoura, que aumenta o fogo e está acabando com tudo. Então o que nós estamos sentindo hoje é por causa disso. Não está dando para aguentar mais", afirmou Carlos.

Com o clima seco e as altas temperaturas, o autônomo sente que as vendas aumentaram. "Eu vendo coco e melancia, e muita gente tem vindo comprar. É importante repor a água perdida no calor. O consumo aumentou bastante. Tem que se hidratar senão a saúde vai complicar", finalizou.

Apesar de comum, atear fogo em terrenos ou matas é considerado ilegal pelo Código de Polícia Administrativa do Município, de 2009. A multa neste caso varia entre R$ 3.091,50 e R$ 12.366, conforme a área afetada.

O Campo Grande News procurou a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) e questionou como está sendo a fiscalização para coibir queimadas urbanas na Capital, bem como o número de pessoas multadas por este crime nos últimos dois meses, mas não obteve o retorno até a publicação do material.

Segundo a Decat (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista), no primeiro semestre deste ano ocorreu uma reunião com a Planurb e GCM (Guarda Civil Metropolitana) para alinhar os procedimentos em relação às queimadas, mas isso não foi suficiente para colocar um plano em ação que evitasse as chamas.

Em casos de queimada urbana, a primeira orientação é acionar o Corpo de Bombeiros. "Se a queimada foi intencional e a pessoa suspeita ainda estiver no local, o solicitante deve acionar a GCM pelo telefone 153; se não for caso de flagrante, o cidadão deve denunciar o fato pelo telefone 156, da Prefeitura. Com a materialização do delito, a Decat será comunicada para a apuração dos fatos e responsabilização do culpado", explicou a nota.

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