Com fim da pesca, empresários de turismo aguardam lei da Cota Zero
Empresários de turismo de Corumbá, principal destino de pesca esportiva de Mato Grosso do Sul, festejam a boa temporada desse ano, onde manteve-se o número de pescadores (25 mil) de 2017, e aguardam com otimismo a nova legislação pesqueira que está sendo finalizada pelo Governo do Estado.
Em visita a cidade, na segunda-feira, o governador Reinaldo Azambuja disse que o Estado quer atrair mais turistas, porém preservando o estoque pesqueiro.
A fala do governador vem de encontro aos anseios do trade turístico da Capital do Pantanal. O setor, responsável pelo movimento que culminou com a proibição (no município) da captura do dourado, um dos peixes nobres da bacia pantaneira, em 2011, defende agora uma legislação mais restritiva: impedir a saída do pescado.
Hoje, conforme pesquisa realizada pelas agências de turismo, a grande maioria dos pescadores esportivos apoia a Cota Zero.
“O governador assumiu o compromisso com o trade e esperamos que a medida seja tomada ainda esse ano”, afirma Luiz Antônio Martins, pioneiros no turismo de pesca de Corumbá.
“Tem que ser uma legislação ampla, em nível estadual, não adianta apenas preservamos aqui. Sem essa lei, o futuro da natureza e da pesca amadora estará comprometido. Nos Estados Unidos e na Europa não existe mais pesca comercial em água doce”, pondera.
Peixe de cativeiro
Martins lembrou que seu segmento se manifesta há dez anos pelas mudanças na legislação pesqueira, argumentando que houve uma redução do peixe nos rios pantaneiros e, felizmente, aumentou a consciência do pescador amador.
“A natureza não se renova na proporção da população humana e temos deficiências na fiscalização dos rios, isso é fato, até pela dimensão do Pantanal”, disse ele. “Queremos ser chamados para discutir a cota zero.”
Para a empresária Joice Carla Santana, que tem uma das maiores estruturas (três barcos-hotéis) para pesca esportiva, a proibição da comercialização do peixe não prejudicará o pescador profissional, que tem uma cota diferenciada.
“Hoje esse pescador é explorado pelos intermediários de fora e você não encontra peixe nativo na cidade. O corumbaense está comendo peixe de cativeiro, com todo esse potencial que temos em nossos rios”, contesta.
Há 25 anos no mercado, Joice realiza sistematicamente uma pesquisa com seus clientes e garante que o turista de pesca não faz questão de levar o peixe, mas se divertir, comer um exemplar na beira do barranco com os amigos e curtir a natureza.
“O turista leva (o peixe) porque é permitido, mas é uma minoria. Ele tem nos questionado muito sobre a cota atual (dez quilos, mais um exemplar de qualquer tamanho e cinco piranhas)”, observa ela.
Pantanal, o diferencial
A temporada de pesca, que vai de 28 de fevereiro a 5 de novembro, mostrou esse ano que o Pantanal continua sendo o destino preferido dos pescadores amadores, apesar da redução do pescado.
O calendário dessa modalidade se compreende por 32 semanas pelo Rio Paraguai e cerca de 90% das viagens programadas foram realizadas pelos mais de 30 barcos-hotéis de Corumbá. Dos 40 mil pescadores que vieram ao Estado, 25 mil optaram por esse roteiro.
“Somos ainda o melhor Estado para a pesca em água doce”, atesta Luiz Martins. Ele realizou com a família a última viagem do seu barco, o Kalipso, antes do fechamento da pesca.
“O Pantanal é o grande diferencial, une o esporte com contemplação da natureza. Se o peixe não sai no rio, você vai para a água limpa dos banhados e pega tucunaré à vontade, toma banho ao lado das piranhas. Meus netos pegaram muitos bagres no caniço”, conta o empresário.
O fechamento da pesca por quatro meses atende ao período de reprodução da ictiofauna nos rios da bacia pantaneira, conhecido como Piracema. Época também de renovação da frota de embarcações e reprogramação do calendário do ano seguinte.
O trade turístico corumbaense tem esperança de que a nova legislação pesqueira passe a vigorar ainda em 2019. “Seremos exemplo ao praticar a pesca sustentável, melhor marketing não tem”, aposta Joice Santana.