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Meio Ambiente

Com pesquisa sobre o Cerrado, cientista da Capital vence prêmio na Alemanha

Campo-grandense está entre os 25 pesquisadores que receberão reconhecimento durante cerimônia em Berlim, no dia 22

Liniker Ribeiro | 17/10/2018 14:04
Jamil Alexandre Ayach Anache, pesquisador (Foto: GREEN TALENTS)
Jamil Alexandre Ayach Anache, pesquisador (Foto: GREEN TALENTS)

O pesquisador campo-grandense Jamil Alexandre Ayach Anache, de 29 anos, é o mais novo brasileiro a receber reconhecimento internacional. Jamil foi vencedor de uma disputa que contou com 736 candidatos e está entre as 25 pessoas que receberão o prêmio Green Talents - "Fórum Internacional para Iniciativas de Alto Potencial em Desenvolvimento Sustentável", no dia 22 de outubro, em Berlim, Capital da Alemanha.

O trabalho que chamou a atenção dos jurados foi desenvolvido durante seu doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento, pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Em sua pesquisa, o campo-grandense relata as atividades desempenhadas por uma grupo que monitora a função hidrológica do Cerrado, assim como a consequência de substituir a vegetação do bioma nativo por pasto para pecuária ou cana-de-açúcar.

A vitória foi noticiada por grandes sites nacionais, como o da Revista Galileu. Segundo a publicação, o prêmio conquistado por Jamil é promovido pelo Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha, seleciona alguns dos jovens pesquisadores mais promissores do mundo nas áreas de ciência e sustentabilidade.

Jamil é o 17º brasileiro a conquistar o prêmio, lançado em 2009. No ano passado, a pesquisadora Kamila Pope, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi uma das vencedoras.

O pesquisador da Capital está na Alemanha desde o dia 12 de outubro, onde participa de visitas à instituições de pesquisa, universidades e indústrias que participam do projeto Green Talents. A premiação será no dia 22, em Berlim. Em seguida, Jamil se reunirá com outros pesquisadores, quando pretende firmar parcerias para futuros trabalhos.

A pesquisa - Segundo o site oficial da premiação, a intenção do pesquisador é estabelecer valores de referência hidrológicos no Cerrado brasileiro. Além disso, ele está trabalhando na identificação dos serviços ecossistêmicos hidrológicos do Cerrado arborizado, o que envolverá estimar a variabilidade dos componentes do balanço hídrico.

Usando modelagem computacional, ele tem como objetivo avaliar a variabilidade dos componentes do balanço de água para essas áreas. Seu objetivo é criar uma compreensão da divisão da água em diferentes usos da terra e processos de erosão do solo em conexão com as mudanças no uso da terra e a variabilidade climática.

A reportagem conversou com Jamil Alexandre e a entrevista você confere a seguir:

- Como foi receber o anúncio e como se sente sendo um dos poucos brasileiros premiados internacionalmente?
Fiquei muito feliz e ao mesmo tempo surpreso. Recebi o aviso e não acreditava que havia sido selecionado. Me sinto reconhecido pelo esforço em desenvolver pesquisa em nível internacional. Quando eu comecei minha vida acadêmica, eu jamais imaginei que conseguiria cumprir as exigências da comunidade científica internacional, mas graças aos meus colegas, universidade, supervisor e agências que apoiam minha pesquisa, eu tive algum sucesso. O sentimento é de missão cumprida depois do esforço de tantas pessoas e instituições, e também de responsabilidade em continuar meu trabalho da melhor maneira possível.

- A disputa foi grande, mais de 700 candidatos. Como foi o processo de espera até o resultado?
Foi relativamente tranquila. Aplicamos em maio deste ano graças ao incentivo do meu supervisor (prof Edson Wendland da USP São Carlos). Quando aplicamos para algum prêmio, a estratégia é submeter e não contar com o resultado. Durante a seleção não ficamos sabendo detalhes, o que nos deixou muito mais surpresos quando foi comunicado.

- Como você chegou até o tema da sua pesquisa e como foi o desenvolvimento?
Iniciei a pesquisa quando entrei no doutorado em 2014. Tive o desafio de continuar os estudos de colegas que implantaram o experimento do qual colaboro. A motivação veio do fato de que o Cerrado na sua forma natural no centro do Estado de São Paulo é algo raro de se encontrar, então resolvemos estudar como ele pode regular o ciclo da água e comparar esses resultados com usos do solo que comumente substituem o Cerrado naquela região do estudo (pastagem e cana-de-açúcar).

- O que você acha que mais chamou atenção dos jurados?
Acredito que a obstinação do nosso grupo de pesquisa em dar continuidade aos estudos hidrológicos no Cerrado e apontar resultados relevantes para a comunidade científica.

- E agora, qual o próximo passo?
Estou na Alemanha para receber o prêmio. Antes e depois da cerimônia, os vencedores participam de um tour por instituições de pesquisa e indústrias. Eles ainda oferecem 3 meses de intercâmbio com algum pesquisador alemão que tenha interesse, mas isso será feito em 2019.

- Que conselho você deixa para jovens que desejam seguir o mesmo caminho, ou seja, o que é preciso para chegar até aí?
Primeiro, ingressar em algum programa de pós-graduação (mestrado e doutorado) em alguma universidade. Além disso, não se pautar em apenas obter os títulos mas também vivenciar a pesquisa e manter em mente de que nosso país depende muito dos pós-graduandos para o desenvolvimento científico e tecnológico.

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