Comunidade pantaneira ganha casas sustentáveis para fugir das cheias
Expulsa do lugar de origem após a criação de uma reserva particular, e forçada a viver em um local frequentemente atingido por cheias, a pequena comunidade pantaneira Barra do São Lourenço tem a esperança de viver com saúde e dignidade. Isso graças a um projeto de construção de casas sustentáveis especialmente desenvolvidas para atender às necessidades das famílias.
Os ribeirinhos viviam em um local onde no passado índios guatós haviam elaborado aterros para escaparem dos altos e baixos no nível da água.
“Era uma fazenda que foi comprada para ser transformada na reserva por uma entidade que entendeu que as famílias que ali moravam não seriam importantes nesse processo e não deveriam estar ali”, explica André Siqueira, diretor-presidente da ONG (Organização Não Governamental) Ecoa, que encabeçou a iniciativa.
Os habitantes da comunidade se mudaram para um local na confluência dos rios Paraguai e Cuiabá e desde então passaram a ser prejudicados.
“Qualquer cheia os atingem, mesmo sendo comunidades tradicionais que viveram sempre em consonância com o regime de inundação. Há muito tempo eles eram povos invisíveis, vivendo no limite da sobrevivência. Vinha uma cheia maior e eles ficavam ilhados”, afirma Siqueira.
Muitas vezes as famílias não tinham alternativa senão mudarem temporariamente para outros locais durante as enchentes e, ao retornarem, descobriam que haviam perdido todos os pertences.
Ajuda – A ONG desenvolveu um projeto de casas voltados especificamente para os ribeirinhos. A ideia foi realizar uma adaptação moderna e sustentável das palafitas, que são casas comumente construídas por famílias que moram nas margens de rios suspensas por estruturas de madeira para não serem afetadas pelos altos e baixos do nível da água.
Para a Barra do São Lourenço, as casas foram instaladas sobre estruturas de aço galvanizado que não deterioram.
Os imóveis foram criados com placas fabricadas a partir do reaproveitamento de alumínio, plástico e resíduos industriais. O material já existia, mas era pouquíssimo usado. As características dele chamaram a atenção da ONG pela leveza e resistência, ideal para colocar em prática a ideia de ajudar a população ribeirinha.
“Eles não encharcam com a água, não queimam e têm um conforto técnico enorme”, explica André. Além disso, as casas são desmontáveis. Se algum dia os ribeirinhos quiserem mudar a comunidade para outro lugar, eles podem carregar as residências nos barcos.
Todas as residências têm telas nas janelas e um sistema de reaproveitamento da água da chuva, já que em períodos de decoada, quando o nível de oxigênio da água cai, o líquido fica impróprio para uso. Também foram implementados banheiros com fossas biodigestoras, que devem minimizar a incidência de verminoses, principalmente nas crianças.
Por ser um local distante da civilização, também foi implantada uma pequena central elétrica que funciona com energia solar para gerar iluminação na pequena vila.
A verba para a construção foi obtida graças a um convênio com o MPT (Ministério Público do Trabalho), que destinou dinheiro de multas oriundas de TACs (Termos de Ajuste de Conduta). As plantas e a elaboração do projeto das casas foram executadas voluntariamente pelos arquitetos Juliano Thomé e Bruno Pacello e suas respectivas equipes.
No desenvolvimento dos projetos colaboraram o campus de Corumbá da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o MPF (Ministério Público Federal), a Superintendência do Patrimônio da União de Campo Grande e a Receita Federal de Corumbá
Com o dinheiro já encaminhado, foi possível construir apenas quatro casas. Como existem 21 famílias no local, 17 ainda aguardam serem contempladas. “Dependemos de nossos parceiros. São recursos que muitas vezes vêm de TACs e ainda não tem prazo para a construção da próxima, mas a proposta é concluí-las o mais rápido possível”, conclui Siqueira.