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Meio Ambiente

Organização esclarece o que é mito e verdade sobre queimadas no Pantanal

Com dados científicos e oficiais, WWF-Brasil traz informações sobre tragédia ambiental ocorrida neste ano

Por Mylena Fraiha | 05/09/2024 15:40
Vista do Pantanal pegando fogo de Corumbá, em junho deste ano (Foto: Ângelo Rabelo)
Vista do Pantanal pegando fogo de Corumbá, em junho deste ano (Foto: Ângelo Rabelo)

Em meio à crescente disseminação de informações falsas nas redes sociais, até mesmo as queimadas no Pantanal têm sido alvo de desinformação. Para esclarecer o assunto, a organização não-governamental WWF-Brasil divulgou dados científicos e oficiais, em um esforço para combater as "fake news" e trazer clareza à situação crítica que o bioma enfrenta.

Conforme noticiado pelo Campo Grande News, as queimadas no Pantanal em 2024 começaram mais cedo e com maior intensidade que o habitual. A temporada de fogo, que normalmente se inicia entre o fim de julho e o começo de agosto, neste ano teve registros já no início de janeiro.

Dados do programa BDQueimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que, entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2024, foram detectados 3.538 focos de incêndio no Pantanal. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2023, apenas 167 focos foram registrados.

Além disso, Mato Grosso do Sul concentrou 77,8% dos focos de incêndio no Pantanal brasileiro, com 2.753 focos, enquanto Mato Grosso registrou 22,2%, totalizando 785 focos identificados por satélites.

No meio dessa tragédia, algumas perguntas surgem: é verdade que o bioma se queima sozinho? Os incêndios na região são algo natural e acontecem todos os anos? Confira o que a WWF-Brasil esclarece sobre o assunto:

Os incêndios deste ano fazem parte da dinâmica natural do Pantanal?

WWF-Brasil: Não. Os incêndios que estão atingindo a região, este ano, não têm relação com o processo natural do bioma. No primeiro semestre deste ano, o Pantanal bateu recordes de queimadas. Entre 1º de janeiro de 30 de junho foram detectados 3.538 focos de queimadas, um número mais de 20 vezes acima que o registrado no mesmo período no ano passado (+2.018%), sendo o maior número da série histórica do Inpe, iniciada em 1998. Os números oficiais apontam que as atuais queimadas no bioma estão completamente fora do padrão da dinâmica natural do fogo no bioma.

WWF-Brasil: O fogo faz parte da dinâmica do Pantanal, que tem ciclos naturais de cheias e secas, quando ocorre na época certa. Com o emprego de técnicas adequadas e seguras, o manejo controlado do fogo é aliado a diversos processos naturais, incluindo a quebra de dormência das sementes. Não é o que estamos vendo este ano.

As queimadas no Pantanal deste ano são de origem criminosa?

WWF-Brasil: É possível que uma parte dos focos seja mesmo provocada por criminosos, mas as causas estão em investigação e ainda não é possível definir.  Essa hipótese está sendo investigada por autoridades policiais com base em informações enviadas por órgãos ambientais, como o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

O clima seco favorece o surgimento de novos focos na hora da lida no campo?

WWF-Brasil: As condições climáticas produziram uma seca severa no Pantanal, que favorece o alastramento do fogo, mas não necessariamente seu início. Ou seja, queimadas controladas para manejo, para pasto ou para qualquer cultivo, muitas vezes fogem do controle, transformando-se em incêndios de grandes proporções. Parte dos incêndios deve ser decorrente de uma perda de controle acidental do fogo, durante o manejo feito por moradores locais.

WWF-Brasil: Além das mudanças climáticas, as queimadas no Pantanal também estão associadas à ação humana na BAP (Bacia do Alto Paraguai). O desmatamento onde estão as cabeceiras dos rios que abastecem a Planície Pantaneira contribui para a seca extrema no bioma. Todos esses elementos afetam diretamente o ciclo de chuvas e a redução de água no território, favorecendo o alastramento do fogo no Pantanal em 2024.

WWF-Brasil: De acordo com especialistas, o Pantanal  vive uma seca severa e as chuvas escassas e irregulares nos primeiros meses de 2024 foram insuficientes para transbordar os rios e conectar lagoas e o rio Paraguai, o principal do bioma, atingindo níveis baixos para esta época do ano. Essa combinação de fatores têm colaborado para o aumento das queimadas no Pantanal.

O fogo no Pantanal pode reacender mesmo 15 dias depois de ter sido combatido?

WWF-Brasil: Sim. Trata-se do fenômeno que os pantaneiros chamam de “fogo subterrâneo”, ou “incêndio de turfa”. A turfa é um tipo de material orgânico resultante da decomposição da vegetação que se acumula no solo, formando uma camada de material inflamável.

É verdade que 95% do fogo está localizado em áreas privadas?

WWF-Brasil: Sim. Segundo imagens via satélite feitas pelo BDQueimadas, do Inpe, e pelo Lasa/UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro), cerca de 95% das queimadas no Pantanal, em 2024, tiveram origem em propriedades privadas, com um registro recorde de 3.372 focos de incêndio de 1º de janeiro até 25 de junho de 2024.

WWF-Brasil: Apenas 189 deles foram registrados em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. E quase nenhum incêndio tem indício de ter sido iniciado por causas naturais, como raios, o que torna a ação humana o principal vetor do fogo.

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