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Meio Ambiente

Pesquisa diz que só metade da área de banhados do Prata sobrevive até 2100

Levantamento afirma que se agronegócio continuar a avançar nos banhados vai degradar e reduzir a área

Izabela Sanchez | 30/04/2020 13:00
Área de banhado na Bacia do Rio da Prata em fazenda de Bonito (Foto: Fábio Pellegrini/Ecoa)
Área de banhado na Bacia do Rio da Prata em fazenda de Bonito (Foto: Fábio Pellegrini/Ecoa)

Se as atividades agropastoris, o agronegócio, seguir no mesmo ritmo e modelo até 2100 a áreas dos banhados na Bacia Hidrográfica do Rio da Prata vai ser reduzida a metade do tamanho de hoje. Na prática, significa que uma criança que nascer em 2020 e viver até os 80 anos ou mesmo as próximas gerações só vão ver metade dos pontos úmidos essenciais para a sobrevivência do Rio.

É o que mostra a pesquisa “Predições do uso e ocupação do solo e seus impactos na erosão do solo no ecótono Cerrado/Mata Atlântica: estudo de caso da bacia hidrográfica do Rio da Prata”. O projeto é coordenado pelo geógrafo e técnico do laboratório de Geoprocessamento na UFMS/CPAQUFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Elias faz o doutorado em geografia na UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e estuda a bacia. Ele afirma que o modelo atual de atividades de plantio e pecuária extensiva têm provocado a erosão do solo e cita os drenos nas regiões de banhados, as áreas úmidas que compõem a bacia, conforme divulgou a UFMS.

“Além do desmatamento da vegetação nativa, a existência de canais de drenagens artificiais no banhado é um fator alarmante. O objetivo destes canais é drenar o excesso de água dessa região alagada para incorporar essas áreas na produção agrícola. Esse tipo de intervenção compromete todo o ecossistema local, e tem sido um dos fatores que vem causando a turbidez das águas do Rio da Prata, visto que esses canais potencializam o escoamento superficial das águas pluviais aumentando a capacidade da chuva em levar sedimentos para o rio, impacto que tem ocorrido nos últimos anos”, comenta.

Esta é a agua cristalina do Prata que atrai tantos turistas (Foto: Divulgação/Amigos do Prata)
Esta é a agua cristalina do Prata que atrai tantos turistas (Foto: Divulgação/Amigos do Prata)

Análise -  O objeto da pesquisa são as mudanças no uso e ocupação do solo entre os anos de 1986 e 2016. Usou, entre as metodologias, imagens dos satélites Landsat 5 e 8. “Em seguida, foi aplicado o estimador de transição markoviana nos mapas de 1999 e 2007 com objetivo de calcular a matriz de probabilidade de transição de uma classe de uso e ocupação do solo para todas as outras classes no ano de 2016”, citou.

Com esse mapa de probabilidades, seguiu o caminho de 13 fatores naturais e socieconômicos: canais de drenagem, focos de incêndio, desmatamento, estradas, chuvas etc.

Divulgada pela UFMS, a pesquisa foi dividida em três fases. Primeiro a equipe coordenada por Elias analisou as mudanças no uso e ocupação do solo nas últimas três décadas (1986- 2016);  depois simulou cenários futuros de uso e ocupação do solo para os anos de 2033, 2050, 2080 e 2100. Por último, ainda em desenvolvimento pelo pesquisador, a equipe avalia os cenários futuros de uso e ocupação do solo, de mudanças climáticas e seus os impactos na erosão do solo.

Histórico de ocupação -   Elias afirmou à UFMS que até 2007, a pecuária se expandia nos banhados mais do que a agricultura, mas o cenário se inverte a partir de 2007, com aumento intenso do plantio de monoculturas. “O avanço das monoculturas agrícolas na região do banhado foi influenciado pelas suas características que favorecem as atividades agropastoris como relevo plano e solo com boa aptidão agrícola”, explica ele.

 “Os resultados demonstraram que as mudanças no uso e ocupação do solo na bacia do Rio da Prata ao longo das três décadas foram causadas pela expansão da agropecuária. Inicialmente, com a pecuária extensiva, que se desenvolve no Estado desde o início dos anos 70, com destaque para lavouras de milho e soja, que se desenvolvem nas áreas que antes eram ocupadas por pastagens”, esclarece.

Imagem de 21/06/2018 (Foto: Instituto do Homem Pantaneiro)
Imagem de 21/06/2018 (Foto: Instituto do Homem Pantaneiro)

Correu Brasil afora – A região está nos holofotes brasileiros desde 2018 quando as águas do Rio da Prata turvaram com volume de chuvas que levou muito sedimento para o leito e demoraram, de forma atípica, a clarear. Desde então a questão é discutida especialmente em Bonito, o polo turístico da região, mas Jardim também entra nessa conta porque as duas cidades guardam a Bacia do Prata.

Algumas medidas foram aplicadas depois de decreto da Semagro (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) em março de 2019. Envolvem, por exemplo, barreiras para reduzir a velocidade e direcionar as águas tanto nas lavouras quanto nas estradas vicinais, conservação de estradas e maior rigor sobre os projetos técnicos de manejo e conservação do solo.

Alerta – As estimativas do pesquisador não levam em conta todas as probabilidades possíveis, impossível para a ciência, mas alertam que se as atividades seguirem o mesmo modelo, a área de banhados não chega a 2100 da mesma forma.

“E essas mudanças na paisagem alterarão inquestionavelmente todo o ecossistema da bacia. Vale ressaltar que os impactos negativos na vegetação nativa, principalmente no banhado, influenciam diretamente o setor econômico das cidades de Bonito e Jardim, pois a preservação da qualidade ambiental da bacia do rio Prata é essencial para o desenvolvimento de atividades de ecoturismo”, lembra ele.

A pesquisa foi publicada em uma revista que circula na Holanda desde a década de 1980, a Environmental Monitoring and Assessment (Monitoramento e Avaliação Ambiental, em tradução livre).

Para o pesquisador, é possível aliar boas práticas com conservação ambiental. "A cooperação entre os setores governamentais, institutos de pesquisa e iniciativas privadas é crucial para a criação de ações com planejamento e gestão integradas".

Área de banhado, as áreas úmidas, na Bacia do Prata (Foto: Fábio Pellegrin/Ecoa)
Área de banhado, as áreas úmidas, na Bacia do Prata (Foto: Fábio Pellegrin/Ecoa)

Secretário de Meio Ambiente em Bonito, Edmundo Dinelli Costa Jr. Afirmou que o município tem realizado uma série de levantamentos específicos sobre os drenos e que é difícil chegar a conclusão sobre o dano ambiental, especialmente porque alguns já ultrapassam 30 anos.

“Você tem dreno de quilômetros de extensão, são mais antigos, na divisa”, comentou, sobre Bonito e Jardim e comparou os drenos em questão “a verdadeiros córregos”.

“Na verdade ela foi abandonada há uns 15 anos [instalação de drenos nos banhados], o que houve foi em algumas localidades a manutenção de alguns drenos menores. O segundo é que está se associando uma questão de banhados sem levar em consideração o regime e volume de chuva atípico que tivemos em 2017 e 2018, é uma análise parcial.”, citou Edmundo

O secretário citou que é “indiscutível que a pressão sobre os banhados é uma ameaça”. “Ninguém tem dúvida, os banhados continuam”, comentou ao citar que os problemas de turvamento foram provocados por volumes atípicos de chuva que costumam ocorrer em ciclos de 7 a 10 anos. “Então eu me sinto pouco confortável em endossar uma previsão catastrófica sem saber o teor da análise”, comentou.

O presidente do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), André Bordes Barros de Araújo disse desconhecer o estudo e citou que o Imasul “é um executor”. “O Imasul não discute nada, aguarda definição política e executa”, disse.

Entre outras determinações, o decreto estadual que protege a região do Rio da Prata e Formoso estabelece a rotina de apresentação e de aprovação do projeto técnico de manejo e de conservação de solo e água, para obtenção de declaração ambiental atestando a conformidade para a realização de trabalhos de mecanização de solos (aração, gradagem, subsolagem).

Toda a documentação precede renovação ou recuperação de pastagens ou implantação de lavouras permanentes ou temporárias e de outras atividades de movimentação de solo na bacia de contribuição dos rios Formoso e da Prata.

O documento também cria a Câmara Técnica de Conservação de Solo e Água, vinculada à Semagro, tendo como atribuição a emissão de pareceres e de recomendações técnicas sobre o projeto técnico de manejo e de conservação de solo e água.


*matéria alterada às 16h10 do dia 01/05/2020 para correção e informações.

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