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Meio Ambiente

Pesquisa encontrou 2.159 carcaças de animais silvestres em 3 anos

Antas, tamanduás-bandeiras e capivaras são as maiores vítimas da velocidade nas estradas de MS

Gabriela Couto | 06/04/2023 17:39
Imagem de acidente entre veículo de passeio e anta destruiu picape e matou animal. (Foto: ICAS)
Imagem de acidente entre veículo de passeio e anta destruiu picape e matou animal. (Foto: ICAS)

Um estudo realizado pelo ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres) identificou os pontos mais críticos em 15% das estradas de Mato Grosso do Sul. O levantamento realizado entre os anos de 2017 e 2020 encontrou 2.159 carcaças de animais silvestres de grande porte que morreram atropelados.

Dentre as vítimas, estavam 425 antas, 766 tamanduás-bandeiras e 968 capivaras. A publicação saiu na revista científica Austral Ecology, da Wiley (Austrália), e comprovou a necessidade e a importância da implementação de diversas medidas de mitigação.

O mestre em recursos florestais e primeiro autor do artigo, Yuri Ribeiro, explica que a pesquisa realizou a indicação dos pontos mais críticos nas estradas e rodovias em todo o território de MS através de modelos espaciais.

Perda irreparável para espécie: mãe e filho de tamanduá-bandeira tiveram encontro fatal nas estradas de Mato Grosso do Sul. (Foto: ICAS)
Perda irreparável para espécie: mãe e filho de tamanduá-bandeira tiveram encontro fatal nas estradas de Mato Grosso do Sul. (Foto: ICAS)

Para chegar neste resultado o pesquisador utilizou informações de base ecológica, ou seja, as variáveis que avaliam o uso do solo, a distância de rios e a topografia da região, além dos dados de colisões coletados pelo projeto Bandeiras e Rodovias, executado pelo ICAS, no período de 3 anos, cerca de 2.000 quilômetros de rodovias no MS.

“Nós pegamos estes dados e fizemos a predição de risco para o sistema de estradas pavimentadas e não pavimentadas do Estado. Isso possibilitou o mapeamento dos pontos mais críticos e onde as medidas de mitigação serão mais eficientes para proteger a vida das pessoas e dos animais. Este estudo mostra que as colisões veiculares com fauna não é simplesmente uma fatalidade. Ela é sim uma tragédia anunciada”, explica o pesquisador.

Mestre em recursos florestais e primeiro autor do artigo, Yuri Ribeiro, analisando dados na beira da estrada. (Foto: ICAS)
Mestre em recursos florestais e primeiro autor do artigo, Yuri Ribeiro, analisando dados na beira da estrada. (Foto: ICAS)

Metodologia - O primeiro passo do estudo foi compreender a distribuição das colisões veiculares com as três espécies que representam maior risco à segurança humana e que são amplamente impactadas e atingidas no Mato Grosso do Sul.

Posteriormente, foi realizada a identificação das características do ambiente, como, por exemplo, a distribuição de áreas de vegetação nativa, se tem a presença de rios, córregos, relevo mais acidentado, altitude, entre outras informações.

Os dados foram analisados em grandes escalas no entorno de estradas, resultando na modelagem da probabilidade de ocorrência destes animais e o risco de colisões com cada uma delas ao longo das rodovias.

Ameaçado de extinção, tatu canastra foi uma das várias carcaças catalogadas nos três anos de análise de dados. (Foto: ICAS)
Ameaçado de extinção, tatu canastra foi uma das várias carcaças catalogadas nos três anos de análise de dados. (Foto: ICAS)

De acordo com o fundador do ICAS, Arnaud Desbiez, o monitoramento das rodovias serviram de base para a modelagem deste novo estudo, que classificou uma grande extensão da malha rodoviária de MS como prioritária para mitigação. Com isso, a pesquisa oferece importantes informações com o objetivo de proporcionar uma melhor segurança viária para as pessoas e à biodiversidade.

“É preciso que haja o diálogo entre os diferentes setores público, privado, instituições de pesquisas e sociedade civil, para que haja um consenso sobre a priorização, especialmente no que diz respeito a melhoraria no processo de licenciamento ambiental, que deve, obrigatoriamente, incluir informações e orientações embasadas cientificamente, sobre onde as medidas de mitigação devem ser implementadas primeiro”, ressaltou o presidente do ICAS.

Família de capivaras morta na estrada que corta o Estado. (Foto: ICAS)
Família de capivaras morta na estrada que corta o Estado. (Foto: ICAS)

Estrada Viva - Vale ressaltar que o Governo de Mato Grosso do Sul já vem implantando o programa "Estrada Viva - a fauna pede passagem" com monitoramento permanente e mantém ações de redução de atropelamento de animais silvestres nas rodovias MS-040, MS-178, MS-382, MS-339, MS-345 e MS-450, além da BR-359.

As ações são desenvolvidas desde 2016 em parceria com o Cemap/UEMS (Centro de Estudo em Meio Ambiente e Áreas Protegidas  da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), que cataloga as espécies atropeladas e identifica os principais pontos de passagem dos animais para propor medidas preventivas e de mitigação dos incidentes.

Desde 2022, todos os novos projetos de rodovias passaram a seguir o “Manual de orientações técnicas para mitigação de colisões veiculares com a fauna silvestre nas rodovias de Mato Grosso do Sul”, que foi elaborado pelo Governo do Estado em parceria com ONGs (Organizações Não-Governamentais) ambientais.

O documento é utilizado como base na contratação de projetos viários para que novas obras tenham dispositivos de segurança para os bichos. O Mato Grosso do Sul é o único estado do Brasil que possui e segue um manual deste formato.

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