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Meio Ambiente

Registros de fotógrafo dão dimensão de efeitos da seca no Pantanal de Corumbá

Paisagem completamente diferente no Parque Marina Gatass chamou a atenção nas redes sociais

Por Gustavo Bonotto | 09/09/2024 13:05
Escadaria no Parque Marina Gatass, em Corumbá, em 2014 e em 2024 (Fotos: Guilherme Giovanni/Divulgação)
Escadaria no Parque Marina Gatass, em Corumbá, em 2014 e em 2024 (Fotos: Guilherme Giovanni/Divulgação)

Os efeitos da estiagem no Pantanal sul-mato-grossense de Corumbá, município a 428 quilômetros de Campo Grande, são claros quando comparamos registros fotográficos. Nos últimos dias, os rios da bacia do Paraguai registraram níveis abaixo da média histórica e trecho da hidrovia teve navegabilidade suspensa.

Estudo publicado em julho, pelo MapBiomas, apontou que o bioma foi o que mais perdeu superfície de água nos últimos 38 anos em relação ao próprio tamanho. Havia 61% menos água em 2023 na comparação com a média histórica analisada desde 1985 pela organização.

Marina Gatass, um dos parques mais tradicionais da cidade que faz fronteira com a Bolívia, também teve a paisagem alterada em 10 anos. Escadaria usada para o acesso ao rio em julho de 2014 agora está inutilizada. Parte do trecho secou e hoje o espaço destinado à hidrovia tem carros estacionados em sua margem.

O fotógrafo responsável pelo registro, Guilherme Provenzano Giovanni, de 51 anos, contou para a reportagem que a fotografia deu a dimensão da falta de chuvas, e também do tempo. "Aquilo que está aqui hoje, pode estar diferente amanhã, ou talvez nem exista mais. E meu trabalho é registrar coisas que chamam a atenção".

Nível da água pode ser observado em farol no Rio Paraguai (Foto: Guilherme Giovanni/Divulgação)
Nível da água pode ser observado em farol no Rio Paraguai (Foto: Guilherme Giovanni/Divulgação)

Guilherme também é conhecido como Guigui nas redes sociais e possui um acervo com mais de seis mil registros do Pantanal sul-mato-grossense desde que iniciou na profissão, há cerca de 15 anos. "Estou sempre registrando cada estação porque praticamente eu fico na estrada o tempo todo. Sem querer acabo acompanhando bem de perto essa diferença do bioma".

Para o corumbaense, o parque municipal tem potencial turístico, mas foi abandonado. Marina Gattas fica na BR-262, próximo à fronteira com Puerto Quijaro e dá acesso às margens do Rio Paraguai. "É um parque frequentado por várias pessoas para pescar, e muitos usam para mergulhar na época de cheias. Mas eu vejo que está secando cada vez mais e que enchendo cada vez menos".

O fotógrafo diz que a além da estiagem, o acúmulo de lixo prejudicam as paisagens pantaneiras. "Infelizmente, o ato de fazer chuva foge do nosso controle, mas podemos colaborar com o descarte regular. É triste pra gente ver que isso vai acontecendo e que as pessoas também não cuidam desse trecho pantaneiro. Eu acho que isso deveria haver uma conscientização bem maior, eu acho que isso poderia ser mais trabalhado aqui na cidade, por ser uma cidade turística, que recebe muita gente".

Vejo o lixo associado ao fogo e à seca. Infelizmente e indiretamente, isso tem a mão do homem por questões de desmatamento, por questões de plantação em excesso. E a natureza reflete as ações que fazemos. Por exemplo, o que acontece lá na Amazônia vai refletir aqui. Pouca chuva lá, é pouca chuva aqui", descreve Guilherme.

Além da seca, Guilherme destaca que seus registros buscam criar alertas sobre problemas crônicos que já foram manchetes no Campo Grande News, como o atropelamento de animais nas rodovias do Estado.

"Por exemplo, a BR-262, que é uma estrada que mais atropela a fauna aqui no Brasil, então é uma estrada que eu percorro sempre e eu venho sempre cobrando também das pessoas que são responsáveis através de fotografias, de imagens, que eu acho que isso é importante".

Outro destaque, garantido por meio das fotografias, foi a sinalização do ninho artificial de tuiuiús, patrimônio da natureza que foi destruído nos incêndios florestais de 2020. "É algo que me importo. O Pantanal me fez fotógrafo. Houve uma interação com animais que mexeu muito comigo. Ver algumas cenas que até me emocionava. Cansei de filmar ninho a longa distância, ver o crescimento dos filhotes, parece que eles são mais humanos que a gente. Em alguns momentos você chega muito perto de um animal desses e é algo de energia, eles sabem que não vou fazer mal e eles não saem de perto”, finaliza.

Tuiuiú, símbolo do Pantanal, alimentando filhotes em ninho artificial, que foi destruído em 2020 (Foto: Guilherme Giovanni e PRF/Divulgação)
Tuiuiú, símbolo do Pantanal, alimentando filhotes em ninho artificial, que foi destruído em 2020 (Foto: Guilherme Giovanni e PRF/Divulgação)

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