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Política

Após casos de machismo, vereadora e prefeita usam plenário para expor agressores

Vítimas de violência de gênero receberam apoio da Assembleia Legislativa nesta terça-feira

Por Natália Olliver e Gabriela Couto | 26/03/2024 13:16
Vereadora de Cassilândia, Sumara Leal, PDT, usou plenário para falar do caso (Foto: Wagner Guimarães)
Vereadora de Cassilândia, Sumara Leal, PDT, usou plenário para falar do caso (Foto: Wagner Guimarães)

A vereadora de Cassilândia, Sumara Leal (PDT), e a prefeita de Naviraí, Rhaiza Mattos (PSDB), usaram o plenário da Assembleia Legislativa em Campo Grande, na manhã desta terça-feira (26), para expor os crimes de violência de gênero sofridos na última semana nos municípios. Apesar de os casos serem diferentes e terem acontecido há 650 quilômetros um do outro, os sentimentos de ambas mulheres diante dos episódios são iguais: medo, revolta, desconforto e espanto.

Os atos aconteceram com colegas de trabalho, diretos, durante o exercício das atividades políticas. No caso da vereadora de Cassilândia, Sumara Leal, o presidente da Câmara de Vereadores do município, Arthur Barbosa Souza Filho (União Brasil), disse que a parlamentar precisava usar mais o corpo como usa a língua.

O comentário viralizou e ele chegou a virar réu em ação penal eleitoral, após denúncia do Ministério Público de Mato Grosso do Sul à Justiça Eleitoral. O órgão alegou crime de violência política de gênero. Em defesa, ele afirmou que foi mal interpretado. Nesta manhã (26), Sumara falou no plenário como se sente com o acontecido e que está sendo perseguida.

“Não gostaria de estar aqui por esse motivo. Me sinto com medo, eu tenho família, estão tentando me atingir por ameaças pelas redes sociais. Na última semana, estava na estrada, de Campo Grande a Cassilândia, e fui perseguida por um veículo com quatro vereadores. Três servidoras públicas estavam comigo, tinha autorização, eu estava com o carro oficial, pois estava a serviço. Eles saíram na minha frente, depois eu ultrapassei, eles me perseguiram por uns 10 km. Nós começamos a ficar assustados e jogamos o carro no acostamento.”

Segundo a parlamentar, antes de entrar na cidade ela teria recebido um telefonema da polícia perguntando se estava tudo bem. O agente comentou na ligação que tinham acionado a polícia para esperá-la na entrada sob denúncia de transporte ilegal de passageiros.

“Ele disse que a polícia tinha sido acionada pelo presidente da Câmara para me esperar na entrada da cidade, alegando que estava carregando de maneira irregular passageiros. Como na honra política eles não podem me atingir em nada, estão tentando pegar alguma falha pessoal para atingir a minha reputação."

Para ela é um absurdo e um espanto o episódio, já que está na vida política há anos e nunca aconteceu nenhum caso tão claro de violência como esse.

"O meu trabalho político tem certa relevância na cidade e eu nunca imaginei ser palco de uma violência política de gênero. Não imaginava que passaria por isso em pleno século 21. Estou aqui representando todas as mulheres que sofrem algum tipo de violência, nós não podemos aceitar sermos cada vez mais sub representada na política.”

Prefeita de Naviraí, Rhaiza Mattos, PSDB (Foto: Wagner Guimarães)
Prefeita de Naviraí, Rhaiza Mattos, PSDB (Foto: Wagner Guimarães)

Já no caso da prefeita, um vereador alegou que ela não seria capaz de executar algumas funções na gestão da cidade por ser mulher. Na fala ele usa a palavra menina para se referir à gestora do município.

“O que eu mais me ofendi talvez tenha sido a comparação entre homem e mulher, da forma que o vereador falou dá a entender que uma mulher não poderia dar conta de uma cidade. Ele fala 'Nem um homem experiente, quem dirá uma menina', é um absurdo o que as mulheres têm passado na política. Não foi a primeira vez, mas eu cansei. Basta.”

Segundo a prefeita, essa não é a primeira vez que as alfinetadas com comparações entre gêneros acontece. “Isso precisa parar pra gente precisa ser respeitado. Em Naviraí, a maioria dos secretariados é composto por mulheres, porém por causa de enfrentamentos alguns tive que trocar e colocar homens. É um absurdo, mas é real. As mulheres não podem se calar, a gente precisa ser respeitada. Temos a mesma capacidade que eles”.

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