Com CPI naufragando, senadora desconfia do sistema de coleta de assinaturas
Soraya Thronicke (UB-MS), proponente da investigação, diz que assinatura dela mudou de status sem seu aval
Perdendo apoio para abrir CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os ataques de bolsonaristas radicais aos prédios dos três Poderes no dia 8 de janeiro, a senadora Soraya Thronicke (UB-MS) levantou suspeita sobre o sistema eletrônico de coleta de assinaturas do Senado. A parlamentar cobra do presidente Rodrigo Pacheco (PSD-RO) apuração sobre se houve falha ou fraude.
Soraya afirma que arrebanhou, no total, 44 apoiadores. Destes, nove retiraram as assinaturas. Pacheco deu prazo até sexta-feira, dia 17, para que senadores que assinaram o requerimento de abertura da CPI confirmassem o apoio à investigação. Isso porque a senadora havia começado a recolher as assinaturas antes do dia 1º de fevereiro, quando começou a nova legislatura, e de acordo com o presidente, era preciso ter certeza que os parlamentares que permaneceram no mandato manteriam a posição.
Acontece que somente 12 senadores fizeram a ratificação e outros três recém-chegados ao Senado assinaram o requerimento, totalizando 15 signatários. Para a instauração de uma CPI, o regimento da Casa exige ao menos 27 assinaturas.
A senadora por Mato Grosso do Sul defende que, contudo, tem hoje 35 apoiadores, o suficiente para que a CPI seja instaurada. “Nós temos 35 assinaturas, mas aí entramos num imbróglio de que só 15 estão ratificadas. Dentro do regimento, você só tem duas hipóteses. Ou você põe a assinatura ou você retira. Não existe a hipótese de ratificar”, argumentou em coletiva de imprensa no Salão Azul do Senado, nesta terça-feira (21).
Soraya afirma que a assinatura dela, por exemplo, aparece como ratificada, mas não foi ela quem fez a confirmação. “A minha assinatura aparece como ratificada, mas eu não ratifiquei. Eu estou achando que existe um senador fantasma por aqui. Algum senador ratificou por mim”, ironizou.
Ainda conforme a parlamentar, 20 senadores nem retiraram as assinaturas e nem ratificaram. Soraya disse que fará questionamentos à Presidência da Casa sobre o impasse. “O que vai ser feito com 20 assinaturas que estão no limbo, são ‘nem, nem’?”.
A senadora ainda disse que chegou a perder o acesso ao sistema eletrônico de coleta de assinaturas e a situação a deixa insegura. “Estamos implantando o sistema agora, então eu vou dar o benefício da dúvida para o presidente Rodrigo, a SGM [Secretaria Geral da Mesa Diretora], a nossa equipe de TI [Tecnologia da Informação]. Eu estou perguntando, não estou acusando”.
Soraya Thronicke adiantou que levantaria questão de ordem durante sessão para fazer os mesmos comentários e perguntas. Para ela, não se pode ignorar a vontade de 35 senadores, engavetando a CPI. “Acredito que o presidente Rodrigo Pacheco vai resolver essa situação, porque senão nós estaremos diante de um fato muito pior do que o que aconteceu no dia 8”.
O naufrágio da CPI, antes mesmo da instauração, está anunciado desde quando até senadores da base governista começaram a retirar o apoio. Para aliados de Lula (PT), uma investigação desse porte gastaria energia de parlamentares que precisam articular a aprovação de projetos do governo, como uma reforma tributária.