Do defensor da cloroquina ao fã de gibis, o que pensam os estreantes na Câmara
Dos 29 vereadores, 15 nunca se elegeram e têm pautas que trazem diversidade de temas e perfis para a Casa
Se depender dos novatos da Câmara Municipal de Vereadores, pelo menos dos 15 eleitos pela primeira vez, o plenário será testemunha de uma diversidade de pautas. A partir de janeiro, as cadeiras da Câmara serão ocupadas por defensor da cloroquina no tratamento da covid-19 até fã de gibi.
A cidade ganhou novas figuras, algumas até já conhecidas, mas agora com mandato. A última vez em que esteve na Câmara Municipal foi para defender o uso da cloroquina no tratamento da covid-19. Sandro Trindade Benites é médico, eleito pelo Patriota, e garante que levará adiante a bandeira em nome da prevenção, a valorização do profissional de saúde e políticas voltadas ao combate das drogas.
Cloroquina - "Lógico que o kit prevenção será uma das bandeiras, a gente tenta atacar a pandemia como qualquer outra doença que se for atacada na fase inicial da doença, a chance de sucesso é maior do que esperar a falta de ar", diz Sandro sobre o uso do remédio no tratamento da covid-19.
Sandro Benites tem outros vínculos, como médico do Civitox (Centro Integrado de Vigilância Toxicológica) no Hospital Regional e também é militar. Sobre isso, ele diz que o estatuto prevê que quando militares são eleitos vão para a reserva remunerada proporcional ao tempo de serviço.
Gibis - Das histórias em quadrinhos para a Câmara, foi um caminho de muita persistência até o psicólogo e professor do Senai, Ronilço Guerreiro se eleger. Desde 2012 ele tentava uma vaga como parlamentar. Foram disputadas as eleições de 2012, 2014 e 2016. "Tive mais votos em 2016 do que nesta, mas estava na chada errada. Essa foi a terceira tentativa [para Câmara] e graças a Deus eu estou muito feliz", agradece.
Dos 50 anos de vida, Ronilço é professor há 17. Fã de gibis, foi ainda na infância que descobriu a paixão pelas histórias em quadrinhos.
"Eu morava na região do Jardim Seminário, tinha um lixão lá na comunidade e a gente brincava ali. Subia e saia rolando o morro, eu brincava no lixo mesmo e encontrei um gibi do Zé Carioca, com capa rasgada, ali que passei a gostar de gibis", conta.
Ronilço criou em 1995 a Gibiteca, projeto que leva sobre rodas a coleção de gibis para empréstimo nos bairros da Capital. O acervo que começou com 120 gibis hoje tem 25 mil e essa a bandeira que ele vai levar ao plenário das sessões.
Minha principal luta é pela cultura e educação como ferramenta para transformação social. Além de fiscalizar, quero usar meu mandato para fazer de Campo Grande uma cidade de leitores. Não quero ficar envolvido em brigas, quero estar envolvido em projetos para a cidade".
Saúde animal - Um dos nomes de relevância entre os defensores da causa animal na cidade vai tomar posse como vereador em janeiro. Professor na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), médico veterinário, advogado, mestre em Imunologia e Doutor em Saúde Pública Internacional e Doenças Tropicais pela USP/ SP, André Luis Soares da Fonseca tem há décadas um trabalho voltado para a saúde animal, em especial na pesquisa e incentivo ao tratamento da leishmaniose, além do apoio aos animais resgatados, às ONG's e ainda às consultas mais acessíveis
Nesta segunda-feira, o professor estava inclusive em aulas na UFMS. Segundo a assessoria do futuro parlamentar, além da causa animal, será levantada também as bandeiras de Meio Ambiente e Educação.
Projetos assistenciais - Foi do empréstimo das cadeiras de rodas, camas hospitalares, bengalas e doações de fraldas geriátricas que saiu o assistente social Eduardo Miranda, de 58 anos, eleito pelo Patriota. Ele já vinha tentando uma cadeira na Câmara há duas eleições. Coordenador do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) no Bairro Vila Nasser, são 16 anos voltados às assistências. "Será pautado em assistência social, educação, saúde e qualidade de vida. São os quatro pilares do meu mandato e do que eu sei fazer", diz.
Bairro - "Zé da Farmácia sem farmácia". É assim que se apresenta o candidato eleito para a Câmara pelo Podemos, José Jacinto de Luna Neto. Dos 50 anos de vida, os últimos 33 ele passou nas Moreninhas, desde que chegou de Vicentina a Campo Grande.
A explicação do apelido vem ainda da juventude, quando aos 12 anos teve a primeira oportunidade de trabalhar em farmácia.
E quando eu cheguei aqui nas Moreninhas, em 1988, tinha uma grande carência de médicos e eu me tornei aquele médico natural das pessoas, sem diploma, mas com conhecimento. Algumas situações a gente consegue resolver na farmácia aí fiquei sendo o Zé da farmácia", descreve.
Há nove anos, o Zé vendeu a farmácia que tinha no bairro para uma rede, mas continuou como funcionário. Esta foi a segunda disputa dele na Câmara. De pauta, ele trará um "olhar especial aos bairros que estão abandonados".
Professor - Um dos eleitos que usou a profissão ao lado do nome nas urnas foi o professor Riverton Francisco de Souza, eleito pelo Democratas. A história de Riverton chega a ser comovente, deixado pela mãe biológica na casa da família onde ela trabalhava, ele foi criado dos 6 aos 12 nesta família, mas depois da morte dos pais adotivos foi para um abrigo.
Riverton tem 40 anos e já tinha disputado as eleições para a Câmara em 2016. Ele trabalhou na campanha da primeira candidatura do prefeito Marquinhos Trad (PSD) e ocupou o cargo de Superintendente de Gestão de Pessoas na Secretaria Municipal de Educação. "Salvo" pela educação, Riverton promete levar a bandeira da educação para a Câmara.
"Cidadão de bem" - O vocabulário do pastor Clodoilson Pires, de 55 anos, que se elegeu pelo Podemos revela o viés evangélico e conservador que chega à Câmara. O único candidato que se apresenta como sacerdote conseguiu ser eleito dessa vez, também na segunda tentativa.
Pastor auxiliar da Igreja Evangélica de Campo Grande, Clodoilson tinha como cabo eleitoral o apóstolo Edmilson e acredita que 80% dos votos tenham vindo do "segmento" evangélico. "Grande parte da nossa igreja e também da Igreja Batista Imperial foi fundamental neste apoio conosco", diz.
Sobre as bandeiras, Clodoilson resume em "Deus, defesa da vida e da família". Ele é pastor há 28 anos.