Ex-assessor acusa Odilon de negociata para beneficiar traficante
Jedeão de Oliveira disse que dono de jornal eletrônico assassinado em 2012 “vendia” decisão do amigo juiz na fronteira
O bacharel em direito Jedeão de Oliveira, 49, ex-diretor da 3ª Vara Federal de Campo Grande, acusa o candidato do PDT ao governo de Mato Grosso do Sul, o juiz aposentado Odilon de Oliveira, de negociata para liberar bens de um dos lendários traficantes da fronteira com o Paraguai, Luiz Henrique Rodrigues Georges, o Tulú.
Executado por pistoleiros em outubro de 2012, em Ponta Porã, Tulú teria chegado ao juiz através do ex-policial militar Eduardo Carvalho, dono do jornal eletrônico Última Hora News, também morto por pistoleiros, em novembro do mesmo ano, em Campo Grande. Carvalho era amigo de Odilon e chegava a frequentar churrascos na casa do magistrado, segundo Jedeão.
R$ 30 mil – No documento de 23 páginas registrado em cartório e entregue ao Ministério Público Federal como proposta de um acordo de delação premiada, o ex-braço-direito afirma ter sido alertado por ligações anônimas de um número restrito que Eduardo Carvalho estaria comercializando, por R$ 30 mil, a decisão que seria tomada por Odilon liberando os bens de Tulú.
Para a surpresa geral, segundo Jedeão, dias após ele próprio ter alertado o juiz sobre as denúncias anônimas envolvendo o amigo de Odilon, o magistrado mandou liberar os bens, “exatamente igual aquela pessoa tinha descrito ao telefone, ou seja, estava evidente que o juiz participava daquelas negociações”.
Imóveis – Segundo o documento assinado por Jedeão, a atuação de Eduardo Carvalho – que mantinha grande amizade com o juiz, conforme imagens que circulam até hoje nas redes sociais – foi além de negociar decisões na fronteira. Chegou até à administração dos bens apreendidos na 3ª Vara Federal.
Jedeão afirma que após a recusa de várias imobiliárias da Capital, uma advogada e uma corretora de imóveis se candidataram a administrar os bens imóveis apreendidos. A advogada da parceria, segundo o ex-diretor da Vara Federal, era a filha de Eduardo Carvalho.
As duas atuavam na locação dos imóveis e arrendamento de áreas rurais, mas não demorou para os problemas aparecerem. “No começo eram as prestações de contas mensais que não eram feitas. Depois a bagunça com as contas judiciais onde eram depositados os valores e o sumiço dos valores e a constatação de que os inquilinos pagavam o aluguel, mas não tinha prestação de contas”, diz trecho da denúncia.
Com tantos problemas, segundo Jedeão, Odilon de Oliveira descontava nos servidores da Vara Federal, exigindo rigor na fiscalização. “Tudo não passava de mais uma farsa”, segundo o ex-assessor do candidato do PDT. A administradora só foi descredenciada muito tempo depois, conforme a denúncia.
Operação Nevada – Mesmo depois de ser demitido, Jedeão afirma ter recebido informações comprometedoras contra Odilon de Oliveira, inclusive cobrança de R$ 1 milhão para liberação de presos na Operação Nevada, que desmantelou uma quadrilha de traficantes de drogas em 2016.
O dinheiro, segundo Jedeão, seria para a campanha de Odilon de Oliveira Junior, filho do juiz e vereador eleito em Campo Grande, há dois anos. Odilon Junior foi um dos mais bem votados na Capital, mas Jedeão afirma que ninguém da Operação Nevada foi solto.
Odilon – Em nota publicada hoje no site oficial da campanha, Odilon afirma não ter dúvidas de que as declarações de seu ex-braço-direito têm motivação política.
“Sem credibilidade, por ser réu confesso, e por ter sido exonerado a pedido do juiz Odilon, o ex-servidor Jedeão, nada mais tendo a perder, procura, agora, lançar suspeitas sobre os juízes e servidores da vara e acusar, de modo criminoso, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a Justiça Federal por grampos telefônicos supostamente ilegais”, afirma a nota.
“Em sua carreira na Justiça Federal, Odilon jamais sofreu processo e seu passado limpo incomoda os adversários, que veem nele um candidato forte para vencer a disputa ao governo de Mato Grosso do Sul”, diz o site oficial do candidato.