Ex-assessor rompe silêncio e acusa Odilon de Oliveira de manipular dados
"A ponto de ele ter que, de repente, inventar coisas para estar na mídia. Por exemplo, inflar ou aumentar o número de bens apreendidos ", diz ex-assessor de juiz
Demitido em junho de 2016, após mais de duas décadas como funcionário de confiança do juiz Odilon de Oliveira – atual candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, Jedeão de Oliveira rompeu o silêncio, faz acusações contra o ex-chefe e acena com pedido de colaboração premiada.
Sem querer falar com a imprensa de MS, sempre indicando seu advogado para as entrevistas, o ex-funcionário da Justiça Federal de Campo Grande deu entrevista para a Folha de São Paulo.
Na reportagem, Jedeão afirmou que Odilon concedia à PF (Polícia Federal) autorizações genéricas de interceptações telefônicas, abrindo espaço para gravações clandestinas, mandava inflar dados divulgados à imprensa e abrir inquéritos com base em cartas anônimas para legalizar gravações.
“É algo assim como necessidade. A ponto de ele ter que, de repente, inventar coisas para estar na mídia. Por exemplo, inflar ou aumentar o número de bens apreendidos na vara para dizer que ele era o cara que tinha bilhões de valores apreendidos graças ao trabalho contra o crime organizado”, diz Jedeão na entrevista à Folha.
No quesito inflar números, o ex-funcionário de confiança afirma que a apreensão de 18 documentos de aeronaves viravam, no balanço oficial, 18 aviões apreendidos, “embora não fosse possível saber ser as aeronaves existiam de fato”.
A Folha de São Paulo informa que localizou um documento com 23 páginas registradas por Jedeão em cartório no interior de São Paulo e, depois, o encontrou no Mato Grosso, para onde se mudou após se sentir ameaçado.
Há dois meses, Jedeão entregou documento ao MPF (Ministério Público Federal) com proposta de delação premiada. Sobre o sumiço de dólares, que resultou na sua demissão, o ex-funcionário disse que foi uma manobra financeira para solucionar um problema nas contas da vara e não ficou com nenhum centavo.
“Na época, ele procurou o juiz para se explicar. Odilon gravou a conversa e entregou o áudio para a Polícia Federal”, diz a reportagem.
Jedeão de Oliveira se tornou alvo de várias ações na Justiça Federal. Um dos processos cobra R$ 10,6 milhões. Por meio da defesa, ele sempre negou ter desviado dinheiro da 3ª Vara da Justiça Federal, onde por 21 anos foi funcionário de confiança do juiz.
A 3ª Vara Federal de Campo Grande é especializada em crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e valores e crimes contra o SFN (Sistema Financeiro Nacional).
O Campo Grande News não conseguiu contato com o candidato Odilon de Oliveira. À Folha de São Paulo, o juiz aposentado negou ter inflado dados e que as acusações de Jedeão “têm fundo político”.
A Polícia Federal informa que, em todas as suas investigações, atua dentro da mais estrita legalidade. “Todas as representações e diligências são objeto de controles rígidos, seja internamente (por meio das Corregedorias), seja em âmbito externo pelos órgãos de controle”, declara por meio de nota à imprensa. (Matéria editada às 10h para acréscimo de informação)