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Política

Exames "de graça" eram pagos com dinheiro público para comprar votos

Conclusão faz parte da investigação da PF para apurar participação de servidores em fraude eleitoral

Viviane Oliveira | 19/11/2021 15:17
Transcrição de áudio que revela o esquema. (Foto: Reprodução)
Transcrição de áudio que revela o esquema. (Foto: Reprodução)

“Os exames são pagos normalmente pela prefeitura com os recursos públicos, mas são entregues à população a título de ‘favor ou caridade' por parte dos agentes públicos, os quais solicitam apoio político ao povo em contrapartida”.

A conclusão faz parte da investigação da Polícia Federal, que deflagrou no mês passado a Operação Mercês para apurar participação de servidores públicos e membros do Poder Legislativo em fraude eleitoral, em Corumbá, distante 419 quilômetros de Campo Grande.

Conforme apurado pela reportagem, as provas (prints de conversas e áudios) recolhidas ao longo do inquérito policial mostram que funcionários comissionados utilizavam seus cargos na administração municipal para angariar votos a candidatos nas eleições municipais do ano passado.

Policiais federais no Citolab em operação sigilosa e a cinco dias da eleição. (Foto: Direto das Ruas)
Policiais federais no Citolab em operação sigilosa e a cinco dias da eleição. (Foto: Direto das Ruas)

As investigações começaram depois que foram apreendidos documentos e o celular de um funcionário comissionado da prefeitura, em abordagem da Polícia Federal, no dia 4 de novembro do ano passado. Na ocasião em que foi parado pela PF, ele deixava o comitê político do atual prefeito Marcelo Iunes, reeleito com 42,65% dos votos válidos.

Conforme investigação policial, o funcionário agia com outros servidores, incluindo membros do alto escalão da prefeitura, que atuava estrategicamente dentro da Central de Regulação para “agilizar” e facilitar o acesso dos pacientes que fossem indicados pelo grupo político. Enquanto isso, outra parte da população precisava aguardar um longo período para realização de exames.

Os materiais colhidos durante a primeira fase da investigação indicam “a existência de uma associação criminosa composta por agente públicos que atuava, e provavelmente ainda atue, no município visando a prática de crimes eleitorais, especialmente o de compra de votos, bem como outros crimes contra a administração pública”, segundo documento no qual o Campo Grande News teve acesso.

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Em uma das conversas encontradas no aparelho celular do funcionário comissionado, um vereador solicita urgência no atendimento de pedidos de exames que seriam para pessoas que chamou de “Pessoal Nosso”.

O servidor responde que naquele pedido especificamente, os exames que são realizados pelo laboratório Citolab são gratuitos, mas que outros que precisam ser realizados fora da cidade, o esquema cobraria apenas o “preço de custo”. Na mensagem, o servidor ainda revela que Marcelo Iunes era o dono do laboratório e a pessoa responsável por autorizar a realização dos exames. Veja, abaixo, na transcrição do áudio.

Conversa entre funcionário comissionado da prefeitura e um vereador integrante do grupo. (Foto: reprodução)
Conversa entre funcionário comissionado da prefeitura e um vereador integrante do grupo. (Foto: reprodução)

Diálogos entre os envolvidos também apontavam o medo que o grupo tinha de ser descoberto pela Polícia Federal, durante a articulação para compra de votos nas eleições.

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O documento, no qual a reportagem teve acesso, segue em sigilo e, por isso, os nomes dos investigados não foram divulgados. Procurada, a assessoria de imprensa da administração municipal informou que "o prefeito não foi notificado, nem o laboratório que pertence ao irmão dele. A Prefeitura também está averiguando se existem servidores envolvidos em auxílios indevidos junto a vereadores".

Laboratório  - O Citolab Laboratório foi alvo de apuração da Polícia Federal no dia 10 de novembro do ano passado. Desde 2017, a empresa que está no nome do irmão do atual prefeito, Marcelo Iunes, até então, já havia recebido R$ 982 mil, num contrato sem licitação.

Especificamente em 2020, o Portal da Transparência da Prefeitura de Corumbá mostrou que foram pagos R$ 45.297 à empresa JBA Iunes, com reserva de R$ 364.431 no orçamento municipal. Com nome fantasia Citolab Laboratório Clínico, a empresa tinha dois proprietários até 2017: José Batista Aguillera Iunes e Amanda Cristiane Balancieri Iunes, respectivamente, irmão e esposa do prefeito.

Em maio de 2017, Amanda Iunes deixou a sociedade, restando somente José Batista. Desta forma, a empresa mudou de nome: de A.C.B. Iunes (iniciais de Amanda) para J.B.A. Iunes (iniciais de José). Marcelo Iunes assumiu a prefeitura de Corumbá em novembro de 2017, após a morte do prefeito Ruiter Cunha.

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