Líder da greve dos caminhoneiros é do PSDB e próximo a entidade patronal
José da Fonseca Lopes está filiado ao partido há mais de 20 anos e cultiva proximidade com a cúpula da CNT, em cujo prédio em Brasília funciona a Abcam
Tucano de 76 anos que circula com desenvoltura entre patrões do setor de transportes, José da Fonseca Lopes (PSDB) é o líder do movimento dos caminhoneiros que praticamente parou o país nos últimos 10 dias, participando das negociações com o governo federal em nome da categoria.
Reportagem do jornal Folha de São Paulo desta quarta-feira (30) mostra que, além da militância, ele cultivou relação com lideranças de entidades patronais como a CNT (Confederação Nacional dos Transportes).
Fonseca é o presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) e tem filiação ativa no Diretório Municipal do PSDB de Presidente Prudente (SP, a cerca de 100 quilômetros da divisa com Mato Grosso do Sul), no qual ingressou em 1995.
Um ano antes, foi cabo eleitoral do então candidato a governador Mário Covas, já mobilizando naquele momento uma caravana de caminhoneiros em favor do tucano. E, em 1996, recebeu pouco mais de 1,8 mil votos na disputa por vaga de deputado federal, não sendo eleito.
Fonseca, afirmou a Folha, apresentou-se como líder dos caminhoneiros antes mesmo de a greve ter início, apontando o risco da paralisação. Com o protesto já em andamento, recusou a primeira proposta do Governo Temer, mas sinalizou o fim da greve no domingo (27). A indicação, no entanto, não desmobilizou toda a categoria.
O dirigente também passou pelo comando da Fetrabens (Federação dos Caminhoneiros Autônomos de São Paulo) e o Sindtanq (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Combustíveis). Fundada por ele em 1993, a Abcam afirma ter 600 mil representados.
O trânsito com empresários do setor adquirido ao longo de 23 anos o levou a assumir cadeira na vice-presidência da CNT, entidade patronal, como representante dos transportadores autônomos de passageiros e cargas.
Relações – A sede da Abcam fica no prédio da CNT, em Brasília. Fonseca seria próximo a Clésio Andrade, presidente da confederação –a assessoria do dirigente patronal, ex-senador por Minas Gerais e condenado a cinco anos de prisão no mensalão tucano por lavagem de dinheiro (o qual afirma que provará a inocência), afirma que ele mantém apenas “relações institucionais com outros integrantes da confederação”.
A CNT divulgou nota classificando como “desproporcional” a política de preços da Petrobras, o que levou os caminhoneiros a deflagrarem o protesto devido ao alto preço do diesel. Ao mesmo tempo, empresas do setor anunciaram apoiar o movimento paradista, levantando suspeitas sobre a prática de locaute (quando empresas fomentam greves, o que é proibido por lei).
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Polícia Federal e a PGR (Procuradoria-Geral da República) apuram se empresas e sindicatos patronais premeditaram a greve dos caminhoneiros. A lista de suspeito envolve 21 alvos, incluindo a CNT e José da Fonseca Lopes –que, em 1995, quando dirigiu o Sinditanq, já havia ameaçado o governo com uma paralisação no transporte de cargas caso o frete não fosse reajustado, levando a denúncia de locaute.
Procurado pela Folha de S. Paulo, Lopes não retornou os contatos da reportagem. Já o PSDB afirma que suas atividades classistas não se confundem com a filiação partidária, “ocorrida há mais de duas décadas”.
A CNT, por sua vez, afirmou que “a Abcam, assim como diversas entidades representativas do setor de transporte, está localizada no Edifício CNT, no setor de autarquias Sul, em Brasília”.