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Política

Manifestantes de oposição vestem verde e amarelo para retomar símbolos nacionais

Professores, estudantes e outros militantes entendem que a bandeira do Brasil representa todos

Guilherme Correia e Caroline Maldonado | 07/09/2021 16:39
Em começo de ato esvaziado, Grito dos Excluídos teve pessoas que fizeram questão de utilizar verde e amarelo. (Foto: Paulo Francis)
Em começo de ato esvaziado, Grito dos Excluídos teve pessoas que fizeram questão de utilizar verde e amarelo. (Foto: Paulo Francis)

Na tarde desta terça-feira, 7 de setembro, manifestantes de oposição à atual gestão do governo federal decidiram utilizar também as cores verde e amarelo para protestarem na Praça Ary Coelho, em Campo Grande. A escolha foi feita na tentativa de ressignificar a paleta, que virou símbolo de simpatizantes do presidente, Jair Bolsonaro.

Kelly foi de polo amarela com bandeira do Brasil estampada. (Foto: Paulo Francis)
Kelly foi de polo amarela com bandeira do Brasil estampada. (Foto: Paulo Francis)

Marcado para 15h, o "Grito dos Excluídos" já chamava pessoas por volta das 13h. O ato está em sua 27ª edição e ocorre em todo o Brasil, sempre no feriado do Dia da Independência.

A professora Kelly Ribeiro, de 40 anos, foi uma das primeiras a chegar com a coloração auriverde, em uma camiseta polo amarela estampada com a bandeira do País, e admite que a escolha chamou a atenção de outras pessoas.

“Vim de amarelo, porque essa camiseta é do Brasil, de todo brasileiro. Representa nossa luta social, por dignidade, porque do jeito que está hoje, não está havendo igualdade. Todos necessitamos de comida, educação e gasolina".

O amarelo é do povo, não de um partido”, diz Kelly.

Manifestante com máscara em homenagem ao ex-presidente Lula. (Foto: Paulo Francis)
Manifestante com máscara em homenagem ao ex-presidente Lula. (Foto: Paulo Francis)

O estudante de Direito João Oliveira, de 26 anos, fez questão de combinar camiseta amarela, bermuda verde e tênis azul e branco. Ele entende que é necessária a apropriação do símbolo, mesmo em grupos de esquerda, sempre conhecidos pelo vermelho. “A bandeira é nossa, e as cores mostram o amor a nossa bandeira”.

João levou panelas para fazer barulho, enfeitadas com fitas com as cores brasileiras, e comenta a polêmica de hastear bandeira do Brasil utilizada na época do Império, no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). “Quiseram usar a bandeira do Brasil imperial e isso é uma ofensa”, completa.

Vestido de amarelo, João fez "panelaço" contra Bolsonaro, ação que se popularizou nos atos contrários a ex-presidente Dilma Roussef, do PT. (Foto: Paulo Francis)
Vestido de amarelo, João fez "panelaço" contra Bolsonaro, ação que se popularizou nos atos contrários a ex-presidente Dilma Roussef, do PT. (Foto: Paulo Francis)

Muitos tons - Outras tons que colorem o protesto na Praça Ary Coelho são o preto que indica luto, o vermelho dos partidos de esquerda e o arco-íris da diversidade sexual.

O amarelo também estava presente nas bandeiras do movimento LGBTQIA+. Com o estandarte nas costas, o integrante desse grupo setorial do PT (Partido dos Trabalhadores), Plínio Bressani, de 60 anos, reforça que o movimento é de luta por liberdade de expressão e manifestação, além de ser exercício de cidadania dentro de uma democracia.

Para ele, os grupos que fizeram atos pró-Bolsonaro e contrários ao STF (Supremo Tribunal Federal) querem desmobilizar entidades democráticas para instituir, diz, “uma ordem fascista”. “Por isso, fazem ataques, para que o STF não venha a se manifestar contra as ilicitudes deles”.

Defendendo a representativaide, Plínio compareceu no Grito dos Excluídos nesta tarde, para se manifestar. (Foto: Paulo Francis)
Defendendo a representativaide, Plínio compareceu no Grito dos Excluídos nesta tarde, para se manifestar. (Foto: Paulo Francis)

Vários outros docentes, de diversos municípios do interior de Mato Grosso do Sul, foram até a manifestação na Capital, mobilizados por sindicatos da categoria. Partidos mais alinhados à esquerda, como o PT ou PDT, também levaram filiados e políticos, além de sindicatos, movimentos estudantis, associações e a população em geral.  Os que não puderam comparecer, foram convidados a protestar em suas cidades.

Vindo de Nova Andradina, Edson Gramado, de 60 anos, ressalta que o verde e amarelo não representa um espectro político, assim como a manifestação em questão. “O verde e amarelo é de todos, não é de esquerda, de direita. Assim como o "Grito dos Excluídos" também sempre foi um movimento de todos os partidos que quisessem participar”.

Ato teve concentração pelas ruas do Centro. (Foto: Paulo Francis)
Ato teve concentração pelas ruas do Centro. (Foto: Paulo Francis)

Jean Antônio, de 21 anos, é estudante Terena que vive na aldeia urbana Marçal de Souza, em Campo Grande. Hoje, ele resolveu usar a tradição como vestimenta, para aproveitar o "Grito dos Excluídos" para lembrar dos riscos que a população indígena corre diante da tentativa de fixar o marco temporal das demarcações, que pode retirar dessa população o direito à terra que estava nas mãos de fazendeiros, antes da Constituição de 1988.

 "O movimento é contra todo o retrocesso que está acontecendo neste governo que está contra as demarcações", finaliza.

Militantes de questões indígenas também compareceram no ato. (Foto: Paulo Francis)
Militantes de questões indígenas também compareceram no ato. (Foto: Paulo Francis)
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