MPF cita depoimento de ex-mulher para sustentar denúncia contra Amorim
Declarações de Marinês de Araújo Bertagnolli, ex-mulher do empresário João Amorim, estão anexadas a uma das denúncias da Operação Lama Asfáltica, acatada pela Justiça Federal, revelando que o suposto esquema do empreiteiro, de desvio de dinheiro de verbas públicas, remonta à década de 90. O foco, à época, seria a Prefeitura de Campo Grande.
Conforme consta na documentação do MPF (Ministério Público Federal), Marinês prestou declarações, em 2004, postas em escritura pública em um cartório de São Paulo (SP). Na ocasião, em resumo, detalhou como o ex-marido se valia de contatos com políticos para ter vantagens ilícitas em acordos com o Poder Público, de onde desviava dinheiro.
Marinês relatou que Amorim trabalhou como tesoureiro e coordenador de campanha de André Puccinelli (PMDB) para a Prefeitura de Campo Grande. Também conta que o ex-marido abriu a empresa MBM Construções Ltda, que teria vantagens em licitações públicas, realizando as melhores obras do município.
A mulher diz que era sócia da empresa e relata que assinava cheques e contratos, sem saber seu conteúdo, a pedido de Amorim. Sobre esta relação política, cita em seu depoimento que Eolo Ferrari, engenheiro já considerado braço-direito de Amorim e ex-diretor da Engecap, e o então secretário municipal de Obras, Edson Giroto, faziam frequentes reuniões em sua casa, acompanhadas de pessoas ligadas à prefeitura, algumas vezes com a presença do então prefeito André Puccinelli (PMDB).
Ela conta que Amorim, junto com Ferrari, à época procurador da empresa Engecap, tinham um escritório na mesma sala, onde eram dirigidas as empresas, e que muitos pagamentos eram feitos em dinheiro, sendo depositados no cofre da sua residência. Por esta razão muitas pessoas iriam ao local para receber.
Sobre o período de campanha, diz que Amorim, Ferrari e Giroto "davam as ordens" sobre pagamentos e despesas. Por esta parceria, Marines afirma que as empresas Engecap e MBM venceram várias licitações de obras na Prefeitura de Campo Grande. Depois, a MBM repassou projetos à empresa AS, também ligada a Amorim.
Para o MPF, estas informações demonstram que Amorim já atuava nos "bastidores do poder" desde a década de 90 e que possivelmente financiava a campanha de Puccinelli, para que depois, com auxílio de Edson Giroto, fosse beneficiado em contratos.
O Campo Grande News entrou em contato com a defesa de João Amorim, mas esta não quis manifestar sobre o caso. Já os advogados de Edson Giroto e André Puccinelli não atenderam as ligações.