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Política

“Pelo fim do 171”, delegado que não é da polícia quer ser vereador

João Andrade quer entrar para a política, mas foi barrado após provocar ira de delegados e parar na mira da PF

Por Anahi Zurutuza | 02/08/2024 17:54

João Manoel de Andrade, de 36 anos, é formado em Engenharia e dono de um lava-rápido em Campo Grande, mas decidiu entrar para a política como “Delegado João Andrade”. Embora não tenha qualquer ligação com a polícia, a não ser por tentativa no passado de ingressar para a Polícia Militar, ele anda pelas ruas da Capital vestido de preto e com distintivo no pescoço, além de divulgar “abordagens” nas redes sociais, o que provocou a ira da Adepol-MS (Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul) e o colocou na mira da PF (Polícia Federal).

Com o slogan “pelo fim do 171” – artigo do Código Penal para enquadrar a prática de estelionato – carimbado nos vídeos que divulga no Instagram, o aspirante a vereador também lançou jingle que diz: “o delegado chegou”. Só fez postagem explicando ser, na verdade, “delegado” do Confep (Conselho Federal Parlamentar) – associação privada criada em 2004 – nesta quinta-feira (1º), depois que a entidade representante dos delegados de polícia de Mato Grosso do Sul intimou o PL (Partido Liberal) a tomar providência.

No Facebook, João Manoel de Andrade se apresenta como engenheiro, empresário, delegado, especialista em licenciamento ambiental e criador de conteúdo digital (Foto: Reprodução)
No Facebook, João Manoel de Andrade se apresenta como engenheiro, empresário, delegado, especialista em licenciamento ambiental e criador de conteúdo digital (Foto: Reprodução)

No vídeo, ele tenta esclarecer a diferença entre um “delegado do Confep” e o ocupante do cargo público que chefia investigações policiais. Andrade mostra um documento que se parece muito com as carteiras de identidade funcionais de servidores públicos e diz dar a ele “livre trânsito para o bom desempenho das funções” com base na Lei nº 6.206. A legislação, contudo, só dá valor de identidade expedidas pelos órgãos, criados igualmente por lei federal, controladores do exercício profissional – a carteirinha da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para advogados, por exemplo.

Fato é que o comportamento de João Andrade, divulgado por ele mesmo nas redes sociais, causou “indignação e preocupação generalizadas” por parte dos delegados de polícia do Estado, conforme diz o presidente da Adepol-MS, André Matsushita, em ofício enviado ao PL de MS na quarta-feira, dia 31.

A entidade avisa o partido que o uso da palavra delegado antes do nome, distintivo e camiseta preta como o brasão do República “levar a crer” que se trata de um membro da carreira da Polícia Civil. Para a Adepol, a postura do pré-candidato é “inaceitável, incabível e imoral”.

Para delegado de carreira que analisou as postagens e conversou com a reportagem, o pré-candidato “age de má-fé”. “Quer induzir as pessoas a pensarem que é delegado. É o próprio 171. O jingle contém as palavras segurança, firmeza, que são as palavras que remetem a características desejáveis de policiais. Tem toda uma semiótica que remete a condição de policial. Ele viu que isso pode ser bom pra ele na eleição. É oportunista”.

João Andrade nega que queira enganar eleitores e diz que não tem vontade alguma de ser policial. “De maneira alguma. Na minha biografia, falo delegado do Confep e fiz vídeo explicando a diferença”, justifica. Sobre a medida tomada pela Adepol, para ele, não passa de “ciúmes”. “Estão com ciúmes do nome delegado”

"Delegado" diz trabalhar na fiscalização do poder público (Foto: Instagram/Reprodução)
"Delegado" diz trabalhar na fiscalização do poder público (Foto: Instagram/Reprodução)

Investigado e barrado – O material divulgado pelo “Delegado João Andrade” nas redes sociais também o colocou na mira da Polícia Federal. No dia 26 de julho, a PF instaurou inquérito para investigar denúncia anônima de usurpação da função pública.

Por fim, toda essa confusão fez com que João Andrade tivesse a candidatura barrada pelo próprio partido às vésperas da convenção do PL, marcada para a noite desta sexta-feira (2).

O advogado Vinícius Monteiro Paiva, do Partido Liberal, explica que a sigla “preferiu não submeter o nome dele à convenção para não criar uma crise institucional”. “A gente não concorda com a forma como ele se apresenta”.

O empresário não acredita. Acha que há alguma conspiração por trás da desculpa de que a candidatura dele criaria problemas para o PL. Por isso, diz estar à disposição de outras legendas, embora janela partidária para a troca de partidos já tenha terminado.

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