Sob acusação de má gestão, para políticos Santa Casa é um "saco sem fundo"
Câmara e Assembleia querem esclarecimentos sobre a recorrente necessidade de aumento nos repasses à entidade
A classe política em Mato Grosso do Sul apertou o cerco à Santa Casa de Campo Grande. Deputados estaduais cobraram, durante a sessão ordinária desta terça-feira (4), na Assembleia Legislativa, providências do Poder Público para solucionar o impasse financeiro na ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), entidade que administra o hospital.
Na mesma manhã, o presidente do hospital, Esacheu Cipriano Nascimento foi à Câmara Municipal, onde se defendeu das acusações de má gestão do hospital. O debate sobre valores e serviços prestados vem à tona tradicionalmente, todos os anos, quando a ABCG pleiteia aumento no repasse de recursos.
Maurício Picarelli (PSDB), por exemplo, foi à tribuna e questionou o caráter filantrópico do hospital e as constantes crises financeiras. "Afinal, se é filantrópico, o hospital recebe recursos do Município, do Estado e do Governo Federal, mas sempre está com o 'pires na mão', fazendo chantagens e ameaças de fechar as portas; e isso não se faz com a população", afirmou.
Segundo ele, há denúncias de que neurocirurgiões estariam sem receber salários há três meses e outros profissionais seriam "fantasmas", recebendo sem cumprir plantões, entre outras irregularidades.
Picarelli lembrou que a Santa Casa está recebendo R$ 2,8 milhões do Governo do Estado e cerca de R$ 2 milhões da Prefeitura todos os meses. "Hoje, mesmo com um total de R$ 136 milhões a mais em repasses e valores de contratualização, a Santa Casa continua sendo um 'saco sem fundo', mas o que falta mesmo é gestão", analisou.
Presidente da Comissão de Saúde da Casa de Leis, Dr. Paulo Siufi (PMDB) defendeu análise rigorosa das contas do hospital e investigação das denúncias divulgadas na imprensa. "Vamos verificar os números, porque disseram que a contratualização não é feita há quatro anos", informou.
Ele garantiu que o grupo de trabalho tomará providências e também acionará o CRM (Conselho Regional de Medicina) para apurar possíveis irregularidades nos plantões médicos.
Para Onevan de Matos (PSDB), seriam necessários "recursos infinitos" ao hospital, já que os valores recebidos do Sistema Único de Saúde (SUS) são insuficientes para garantir atendimento de qualidade à população.
"O SUS repassa um valor de miséria para a Santa Casa, que precisa custear tratamentos de milhares de reais, e quem paga a diferença? Não há reajustes na contratualização, mas tudo aumenta e as demandas também", ponderou.
Na Câmara Municipal, Esacheu Nascimento disse que não há má gestão da Santa Casa, mas sim defasagem nos valores repassados pela Prefeitura. “Temos os leitos mais baratos da Região Centro-Oeste. A Santa Casa tem 666 leitos e gastamos R$ 31 mil mensais com cada um deles”, disse, comparando com o Hospital Regional da Capital. “Lá são 300 leitos com R$ 80 mil mensal de custo cada um.”
Aos vereadores, o presidente da Santa Casa explicou que a entidade pleiteia um aumento para 24% no repasse, o que daria um acréscimo entre R$ 3,5 milhões e R$ 4 milhões na verba. Segundo ele, a dívida total do hospital ficou em R$ 123,16 milhões no ano passado.
O detalhamento das contas da Santa Casa e as explicações sobre o motivo do pedido de reajuste dos valores repassados pelo poder municipal havia sido protocolado pelos vereadores no final da última semana. O objetivo era entender a discussão entre Prefeitura e os representantes do hospital, além da crise pela qual passam as discussões para renovação do acordo de repasse de verbas.
O prazo de 90 dias para a Prefeitura de Campo Grande firmar um contrato anual de repasses de verbas para a Santa Casa, estipulado no fim do ano passado, venceu na última sexta-feira e até agora não houve acordo para a renovação.