Teimoso, Alcides Bernal demorou a ceder e usou pouco a “caneta”
Alcides Bernal (PP) corre o risco de ser o primeiro prefeito cassado pela Câmara na história de Campo Grande. Em razão de sua teimosia, Bernal tentou governar sozinho, com minoria na Câmara e sem articulação política, por 10 meses. Só no dia 5 de novembro, após muita insistência do PT, Bernal resolveu nomear um articulador político, Pedro Chaves (PSC), para a Secretaria Municipal de Governo, que iniciou a lenta montagem de um “governo de coalizão”.
Sem experiência política anterior e enfrentando a resistência de Bernal, Pedro Chaves teve dificuldade de implementar o projeto de reforma política. Buscou inicialmente apoio de partidos para a formação de um “Conselho Político”, que seria composto por sete membros e teria poder deliberativo.
Chaves chegou a anunciar a adesão do PSDB ao Conselho Político, o que foi negado prontamente pelo seu principal líder, o deputado federal Reinaldo Azambuja. Aliás, foram os tucanos que “aconselharam” Chaves a buscar, antes do conselho, apoio diretamente com os vereadores.
Internamente, na Prefeitura de Campo Grande, Chaves enfrentou a resistência de Bernal às mudanças. O prefeito até aceitava atribuir secretarias e agências municipais ainda sem titulares ou sob acumulação a indicados pelos novos vereadores aliados, mas resistia a promover mudanças no secretariado, mantendo intocáveis nomes como o de Wanderlei Ben Hur, secretário de Planejamento, Finanças e Controle, e José Chadid, titular da pasta de Educação.
Antes um pouco, já tinha sido difícil para Chaves e o PT convencer Bernal a demitir Gustavo Freire, o supersecretário, que depois de deixar a Secretaria de Governo, que acumulava, ainda conduzia a Secretaria Municipal de Receita. Freire responde na Justiça pela acusação de receber propina quando era fiscal da Receita Federal em Corumbá. Chegou a ser demitido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas conseguiu reverter a decisão em razão de falha na formação da comissão disciplinar. Exonerado a pedido da Prefeitura de Campo Grande, já havia articulações para que ele voltasse para a assessoria direta de Bernal.
Uso da caneta – Alcides Bernal fez poucas nomeações depois da escolha de Chaves para a Secretaria de Governo, o que gerou insatisfação do articulador político e de um de seus principais auxiliares, o líder do prefeito na Câmara, Marcos Alex (PT). Este, aliás, nunca escondeu a insatisfação com as sucessivas derrotas na Câmara e a lentidão de Bernal em promover as mudanças e nomeações necessárias à ampliação do apoio de forças políticas à administração municipal.
Só neste último mês do ano, Bernal começou a agir efetivamente em busca de apoio de novos vereadores na Câmara. A primeira nomeação de Bernal visando a construção do governo de “coalizão” aconteceu no dia 11 de novembro, com a escolha da médica Lillian Maksoud para comandar o Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande (IMPCG). Com isso, pode ter conquistado o apoio do vereador Jamal Salém (PR), que assumiu que fez a indicação.
No mesmo dia foi feita uma articulação desastrada visando atrair o ex-presidente da CPI do Calote, vereador Paulo Siufi (PMDB). Bernal autorizou a cedência de seis funcionários para o gabinete de Siufi, só que seus articuladores políticos se esqueceram de consultá-lo sobre os nomes, solicitados no ínício do ano, e um dos cedidos já estava aposentado e outro de licença médica. Siufi não se sentiu contemplado e enviou ofício a Bernal devolvendo as cedências.
A segunda e última nomeação, visando atração de apoio político, aconteceu só na semana seguinte, na segunda-feira (23), com a publicação do nome do arquiteto Dirceu Peters para a presidência da Agência Municipal de Habitação (Emha). Com essa nomeação, Bernal conquistou o apoio do vereador Paulo Pedra (PDT).
Estava prevista para esse mesmo dia a nomeação do engenheiro Jean Saliba para a presidência da Agência Municipal de Trânsito (Agetran), mas houve problema na articulação política e a publicação não aconteceu. Saliba contemplaria o vereador Edson Schimabukuru (PTB).