Vereador ataca artistas mostrando a carteira de trabalho e gera tumulto
Vereador Tiago Vargas fez provocações e foi lembrado que a irmã dele ganha 10 mil na Secretaria de Cultura
Durante a sessão desta quinta-feira (14) na Câmara Municipal de Campo Grande, o vereador Tiago Vargas (PSD) mostrou a carteira de trabalho em tom de provocação diante dos representantes da cultura que lotaram o plenário para cobrar repasse ao setor. O parlamentar citou 1,5 mil vagas de emprego na Funsat (Fundação Social do Trabalho). Houve discussão e diante dos "ânimos exaltados" o presidente da Casa de Leis, Carlos Augusto Borges (PSB), vereador Carlão, suspendeu a sessão por cinco minutos.
Apesar de alguns vereadores pedirem intervenção da comissão de ética, Carlão disse que Tiago Vargas tem prerrogativa do cargo dele, mas pelo comportamento vai levar uma advertência.
Dos artistas ele também sentiu a reação. O grupo lembrou que, ironicamente, a irmã do vereador está nomeada na Secretaria de Cultura de Campo Grande onde em outubro deste ano recebeu salário R$ 9.945,13.
O vereador Valdir Gomes, colega de partido de Tiago, disse que atos como esse envergonham a Casa. André Luis Fonseca (Rede), conhecido como professor André, também se manifestou. "Como ser humano fiquei envergonhado com o que ouvi e vi. Peço desculpas. Tenho certeza que meus colegas estão constrangidos também", disse.
Integrante do Fórum Municipal da Cultura, Romilda Pizani defendeu: "Nós trabalhamos com a essência do ser humano. Somos trabalhadores". Em seguida, pediu que "a Câmara melhore o regimento interno e que isso não seja apenas uma advertência". Neste momento, Romilda teve a fala cortada pelo vereador Carlão.
"Estou na casa do povo onde não posso falar, respeitando autoridade, mas a minha voz foi silenciada porque estava apontando falhas do regimento. Vereadores podem fazer o que quiserem, porém não há um regimento que puna de fato. O Tiago Vargas levanta a carteira de trabalho apresentando para uma classe de trabalhadores que estão aqui reivindicando seus direitos, não dá", disse.
Em seguida, o presidente da Câmara respondeu: "Fui duro com ela, peço desculpas, mas na presidência temos que ter o controle e poderia ter o contraponto do vereador. Ela tem oportunidade de falar quando quiser. Sou a favor da cultura. Toco meu violão e tenho cinco sanfonas".
Durante o desentendimento, uma das mulheres da plateia com pelos nas axilas teria sido alvo de gestos de Tiago Vargas indicando que ela "deveria se depilar".
Reivindicações - Os representantes da cena cultural de Campo Grande foram até a Câmara protestar por repasse. Desde segunda-feira (11), o grupo busca diálogo com a prefeita Adriane Lopes (PP) para publicar os editais que o setor tem direito.
“Os vereadores aprovaram R$ 2 milhões de acréscimo para a cultura e a prefeita alega que não tem como incluir no edital, querendo assim nos repassar somente R$ 4 milhões, mesmo não tendo publicado os editais de 2022 e 2023”, justifica Romilda Pizani. O grupo não aceita o valor, alegando estar defasado. “O mínimo seria R$ 6 milhões para amenizar, porque não atende as demandas de toda a classe artística de Campo Grande”, lamenta.
A secretária Municipal de Cultura, Mara Bethânia Gurgel, afirma que a Prefeitura já pagou o débito no valor de R$ 2,045 do tesouro municipal, firmados pela gestão anterior, quitando todos os editais Fmic (Fundo Municipal de Investimentos Culturais ) e do Fomteatro (Programa Municipal do Teatro) que estavam pendentes.
Conforme a nota, neste ano teve o lançamento do edital de R$ 6,8 milhões referentes à Lei Paulo Gustavo. Isso totaliza o valor de R$ 8,8 milhões investidos na cultura. No entanto, os manifestantes alegam que esse recurso sequer chegou aos cofres do município. A Prefeitura também anunciou que para 2024 estão previstos investimentos na ordem de R$ 9,727 milhões para a cultura.
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