A Ciência e seus caminhos para a Inovação no Brasil
A Ciência=Conhecimento lida com fatos!! E nos dias de hoje, com toda a turbulência das mídias e das redes sociais, torna-se bem mais difícil separar o que é fato do que é “fake”. Para seguir uma carreira científica o jovem tem que ser curioso, habilidoso, persistente, resiliente, pois apenas inteligência não basta. É preciso se dedicar diuturnamente, ou seja, tem que gostar muito!!! Não se faz Ciência de um dia para a noite, assim como não se constrói uma vida honesta do dia para a noite. Gerar conhecimento é algo que envolve a existência de talentos, boa infraestrutura, investimento e conhecimento de mercado, quando a Ciência se propõe a gerar Inovação, mas sobretudo muita dedicação e, para isto a escolha desta carreira deve ser sempre feita com muita ciência=conhecimento das dificuldades e adversidades pelas quais irá passar. Isto acontece em todas as carreiras profissionais, mas uma grande característica que as diferencia de quem faz Ciência é a grande satisfação do trabalho realizado, do conhecimento novo gerado, ou mesmo do uso daquele conhecimento novo gerado pela e para a sociedade, o que entendemos por inovação. Fazer Ciência tem que gostar, tem que experimentar bem cedo na vida, tem que abrir os olhos para o mundo, observar a natureza, do micro ao macrocosmo, saber insistir no caminho proposto, ter paciência para ultrapassar dificuldades, obstáculos, dúvidas e questionamentos, sem ter medo do desconhecido, não é um mundo de facilidades, mas um mundo novo que retroalimenta o desenvolvimento e a racionalidade humana.
O que é fazer Ciência? É a demonstração de um fato, é a resposta mais próxima da realidade possível à uma pergunta intuitiva feita inicialmente, a partir da qual gera-se uma hipótese de trabalho e lá vai o cientista buscar suas respostas. Na área experimental, tudo se desenvolve dentro de laboratórios equipados, modernos e capazes o suficiente para gerarem dados aos experimentos planejados para responder àquela pergunta inicial. E fazer Ciência é gerar conhecimento para a Sociedade, para que ela se torne ciente e conheça ou utilize aquele conhecimento para uma finalidade específica e, hoje isto ocorre com uma velocidade que jamais existiu em nenhum momento da evolução humana, esta velocidade cresceu vertiginosamente nos últimos 100 anos, apenas isto, 1 século!! Se comparado ao tempo da evolução humana é quase “nada”.
O Brasil contribuiu com 3,2% da produção científica mundial, cerca de 372 mil artigos científicos em todas as áreas do conhecimento, no período de 2015-2020, o que possibilitou um crescimento de 32% (comparando 2020 a 2015), conforme publicação feita pelo CGEE (Centro de Gestão de Estudos Estratégicos), Panorama da Ciência Brasileira, CGEE, 2021. A produção global cresceu um pouco menos, cerca de 27%. As áreas de engenharias, química, agricultura, ciências ambientais, física, bioquímica e biologia molecular, matemática foram as que despontaram conforme dados extraídos da Web of Science (fev/2021). Dentro da grande área de Ciências da Vida e Biomedicina, encontram-se em evidência em ordem de impacto as publicações das subáreas de parasitologia, medicina tropical, odontologia, agricultura, silvicultura, zoologia, entomologia, micologia, ciências veterinárias e enfermagem. Sendo o Brasil um País tropical, entende-se a relevância e impacto destas áreas, o que inclui as doenças tropicais, o agronegócio brasileiro e o meio ambiente, impactando fortemente nas atividades socioeconômicas brasileiras. Existe a correlação entre Ciência e Sociedade nestes últimos 5-7 anos, o que demonstra a relevância da Ciência para o País. Estes números, entretanto, não mostram o quanto de fato do conhecimento se transformou ou foi utilizado pela sociedade, apenas mostra uma correlação de necessidades sociais e busca de conhecimento novo pelos cientistas brasileiros.
Na verdade, apesar do Brasil ser hoje considerado a 10ª Economia no mundo e, se posicionar em 12º País que mais contribui com a pesquisa no mundo, alcança apenas a posição 57ª em Inovação. Transforma pouca Ciência em Inovação, precisamos avançar nisto e atender de maneira mais quali-quantitativa as expectativas de inovação, o que gera competitividade, produtividade e crescimento econômico de longo prazo, diferente da produção primária, que é instável ao longo do tempo. Desafios não nos faltam na saúde humana, animal, agricultura, ambiental e industrial, em contraste, o sistema regulatório brasileiro hoje é robusto, se encontra bem organizado, atualizado e harmonizado em nível internacional. A inserção estratégica do Brasil na Inovação Global se viabilizará se forem consolidadas as estruturas de governança e, quando houver agilidade, flexibilidade de gestão, fluxo contínuo e adequado de investimentos, parcerias público-privado e muito estímulo ao empreendedorismo de base tecnológica.
(*) Maria Sueli Felipe é professora emérita da UnB e doutora em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP) e University of Manchester Institute of Science and Technology (UMIST).