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Alimentos: o escudo contra esta guerra com um inimigo invisível

Roberta Züge (*) | 04/04/2020 08:39

O mundo está vivendo uma situação sem precedentes frente a uma doença. Ruas de grandes centros estão vazias, como se fosse jogo de final de campeonato, mas sem direito às comemorações. Afinal, neste jogo que vivemos não há ganhadores. Mas, há protagonistas que precisam enfrentar um oponente invisível: que não respeita classe social, idade, caráter nem força física.

Os envolvidos nas ações de saúde estão no primeiro escalão do combate, literalmente digladiam com o oponente para salvar os que foram atingidos. A pesquisa busca uma arma que seja letal ao inimigo. Em outra frente estão os que precisam produzir e levar os suprimentos para os que batalham e para os que aguardam a guerra terminar. Começando pelo produtor rural, em seu campo ao caixa do supermercado, passando pelo padeiro do bairro, do trabalhador de laticínios ou o transportador rodoviário. Os combatentes da cadeia alimentar são estratégicos para alimentar uma população confinada em casa e nos hospitais, que estão em alerta de saúde total.

Este segundo escalão precisa vencer os combatentes que se escondem em cidadãos ou em qualquer parte que possamos tocar e até respirar. Parece roteiro de filme de terror, mas é exatamente como deve ser encarado.

Além da necessidade de produzir e se esconder do inimigo, o setor precisa atingir aos que demandam seus produtos. A reinvenção do mercado é uma necessidade. Antes o que seria um ponto de venda, precisa ser pulverizado em muitos. Os clientes estão amotinados, reclusos em suas casas, mas preocupado em como obter alimentos que sejam saudáveis e sem perigos de ganhar um hóspede indesejado.

Prioritariamente, a população deve buscar alimentos que possuam maior saudabilidade, afinal, como amplamente conhecido, um corpo bem nutrido tem mais chances de vencer uma batalha viral. É o momento de acompanhar mais de perto a alimentação da família, trocar aquele refrigerante da tarde, por um saudável copo de leite. Mas como os fornecedores podem alcançar estes reclusos?

Uma das formas será a indústria se capilarizar, chegar mais perto do seu cliente. Os mercados de varejo, de todos os tamanhos, estão oferecendo o serviço delivery, ou seja, de entrega em casa. Por aplicativos de trocas de mensagens pode-se solicitar qualquer produto. O mercadinho da equina aqui já distribuiu folders pelos prédios do bairro. Assim, menos pessoas circulam enfrentando os oponentes.

Witmarsum, uma cooperativa de produtores que fica num município próximo de Curitiba, que mantém uma indústria láctea, está comercializando seus produtos, e outros produzidos na Colônia, também diretamente ao consumidor. Pode-se pedir pelo telefone e eles levam leite, queijos, embutidos, cervejas e até geleias diretamente para o consumidor, na segurança do lar. Sem sair de casa, posso manter o velho hábito de degustar um cálice de vinho (que já estava estocado na adega) acompanhado de queijos finos, para amenizar este estresse do cárcere.

Outras ações deverão ser criadas. Os clientes precisam consumir, alimentação é a necessidade mais básica dos indivíduos. Os pequenos mercados estão se aproximando mais de seus clientes. Fazer parcerias com eles, que já estão se organizando para atender aos consumidores, pode ser uma excelente saída aos que produzem perecíveis.

(*) Roberta Züge; Diretora Administrativa do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS); Diretora de Inteligência Científica Milk.Wiki; Médica Veterinária Doutora pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).

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