Dia Internacional do Preservativo: mais necessário do que nunca!
Lançado em 2008 pela AIDS Health Care Foundation (AHF), uma grande organização não governamental norteamericana de combate à aids (www.ahfbrasil.com.br), comemoramos mais um Dia Internacional do Preservativo, ontem, 13 de fevereiro. A criação da data teve o objetivo de difundir o uso da camisinha como estratégia preventiva de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), bem como da gravidez indesejada.
Contando com registros históricos sobre seu uso desde 3000 a.C., referências a dispositivos semelhantes à camisinha foram encontrados na Grécia e no Egito. Em seus primórdios, era confeccionada com linho bem fino ou membrana de vísceras de animais. Mas apenas em meados do século 19 que avanços tecnológicos modificaram a camisinha, a partir do processo de vulcanização da borracha, que permitiu a confecção com um material flexível e elástico, além de durável. Outros avanços se deram a partir da invenção do látex sintético, na segunda década do século 20, fato que revolucionou a camisinha masculina, deixando este insumo preventivo mais próximo do que conhecemos nos dias atuais, como a texturização, a lubrificação, além da oferta em tamanhos, cores e sabores variados.
Não obstante ser um recurso dos mais usados no mundo como método contraceptivo (só perdendo para a esterilização feminina), foi o advento da epidemia de aids que popularizou o preservativo devido à sua incorporação às políticas de prevenção dos países para o combate à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV. Por ser de baixo custo e de fácil utilização — além da eficácia comprovada para prevenir a transmissão sexual do HIV e outras ISTs —, o preservativo faz parte das políticas, programas e ações de prevenção em todo o planeta para barrar o aumento da incidência de infecção pelo HIV e outras ISTs, como a sífilis e o Papiloma Vírus Humano (HPV).
Mas, e hoje, 44 anos após os primeiros casos de aids, ele ainda é importante para a prevenção? Não há dúvida. Além do masculino, no final dos anos 1990 o médico dinamarquês Lasse Hershel inventou o preservativo feminino (também chamado de preservativo interno ou camisinha feminina), método de barreira que permite à mulher tomar decisão, ser protagonista e ter autonomia na prevenção de ISTs e do HIV. Ainda que menos conhecido e utilizado se comparado ao preservativo masculino, é um recurso importante que vem sendo difundido e incorporado às práticas de autocuidado na vivência da sexualidade.
A Prevenção Combinada é a política que vem sendo aplicada pelo Ministério da Saúde brasileiro (Brasil, 2017) há quase 10 anos, incluindo várias estratégias, algumas mais novas como a Profilaxia Pós-exposição Sexual (PEP) e a Profilaxia Pré-exposição Sexual (PrEP), ao lado de outras como testagem para diagnóstico, tratamento de ISTs e do HIV e uso da camisinha masculina ou feminina nas relações sexuais. O objetivo desta política é respeitar as características das pessoas e dos grupos sociais, ofertando um leque de alternativas preventivas que vão ao encontro da garantia dos direitos humanos e de cidadania das pessoas, respeitando suas subjetividades na vivência da sexualidade, levando em conta também contextos socioculturais diversos e momentos específicos de suas vidas.
Mas, desafios persistem: é necessário ampliar o acesso da população aos preservativos gratuitos no Sistema Único de Saúde, difundir informações com base em evidências científicas e modificar crenças negativas e preconceituosas (por exemplo: "sexo com camisinha é chupar bala com papel"). No âmbito da saúde, fortalecer o papel da atenção primária, implementando políticas de educação, comunicação e promoção da saúde sexual e reprodutiva, além de capacitar profissionais para uma abordagem mais abrangente acerca da saúde sexual. Outros desafios são os resultados de estudos com jovens brasileiros universitários, que revelam percentuais elevados de não uso do preservativo nas relações sexuais, com destaque para menor utilização em parcerias fixas/estáveis e em contextos de consumo de álcool e outras substâncias psicoativas (Guariglia et al., 2024; Moreira et al., 2022; Wohlgemuth et al., 2020). Ainda que os desafios sejam grandes, temos motivos para comemorar mais um Dia Internacional do Preservativo! Afinal, prevenção é a melhor solução!
(*) Eliane Maria Fleury Seidl é professora do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília.
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