Dia mundial da água: momento de reflexão
Em 22 de março comemora-se o dia Mundial da Água, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, a qual escolhe a cada ano, desde então, um tema relacionado para servir como reflexão para as populações do mundo todo e promover debates. O deste ano é “a natureza e as mudanças climáticas”. Sem dúvida, um assunto importante, mas especificamente no Brasil deveríamos nos preocupar muito mais com as perdas de água, até porque elas poderiam ser evitadas, ou drasticamente reduzidas, se as empresas públicas e privadas de saneamento básico adotassem tecnologias já existentes e disponíveis para melhorar o monitoramento e a gestão dessas perdas e, com isso, tomar ações efetivas para reduzi-las de forma substancial.
É importante que a população saiba que no Brasil são extraídos mais de 16 bilhões de m³ de água por ano dos mananciais hídricos (segundo dados da SNIS 2018) que são transformados em água potável, mas apenas metade desse total é bem utilizado. A outra metade, chamada de “perdas de água", representa um enorme desperdício, cujas consequências danosas são sentidas por toda a sociedade, além dos prejuízos causados ao meio ambiente. Não podemos ficar indiferentes diante desta situação e só nos darmos conta disso quando falta água nas nossas torneiras. Como cidadãos, somos orientados a fazer o mínimo para preservar a água com mensagens do tipo: "feche a torneira para escovar os dentes", sendo que os 99% restantes das ações corretivas deveriam ser de responsabilidade das empresas de saneamento que por um motivo ou outro continuam a desperdiçar 50% da água potável processada. Não é com ações isoladas e mínimas que iremos preservar a água para a nossa sobrevivência e a das futuras gerações.
A conscientização da população sobre esse assunto é fundamental porque com maior conhecimento sobre o que ocorre na sua cidade, os cidadãos terão argumentos fortes para cobrar dos gestores públicos e privados as ações efetivas de combate à má utilização da água. A boa notícia é que já existe um aplicativo gratuito para sistemas Android e iOS (o App SmartAcqua) que permite a qualquer pessoa de qualquer localidade do Brasil verificar qual é o volume de água retirado dos mananciais hídricos de sua cidade, quanto desse total é realmente bem utilizado, quanto se perde e quais os benefícios que poderiam ser alcançados se fossem tomadas ações corretivas pelos gestores públicos e privados da área de saneamento.
Vale destacar que se apenas a água que se perde por vazamentos fosse recuperada, haveria quantidade suficiente para abastecer 37,5 milhões de brasileiros consumindo 150 litros de água por dia. E concomitantemente, se a água que os consumidores utilizam fosse corretamente medida e faturada, em termos de valores seriam acrescidos R$ 12 bilhões ao ano de receita às empresas de saneamento básico, que poderiam ser investidos na qualidade e universalização dos serviços de água e esgoto.
Haveria outros ganhos recorrentes como na saúde pública, com a diminuição de doenças relacionadas à água e esgoto; equilíbrio econômico das empresas de saneamento básico; recuperação da receita sobre a água consumida; otimização de investimentos na produção de água e tratamento de esgoto; potencialização das empresas de saneamento básico para realizar investimentos na universalização dos serviços de água e esgoto, o que resultaria na melhoria na qualidade dos serviços prestados, na cobrança justa pela água consumida e na prática de tarifas adequadas.
A modernização da gestão de distribuição da água, com a adoção de uma solução eficaz, sistemática e definitiva possibilita também a melhoria da gestão ambiental no que se refere à preservação dos mananciais hídricos e do meio ambiente. Mas a população também deve fazer a sua parte por meio de ações corriqueiras e preventivas tais como: não ocupar áreas de preservação ambiental e de mananciais, não poluir os córregos e rios, descartar o lixo de forma correta, e ainda obter mais informações sobre a produção e distribuição de água potável para, assim, ter voz ativa e exigir dos gestores ações efetivas de combate às perdas e ao desperdício desse bem tão essencial para a vida.
(*) Enéas Ripoli é graduado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), em Engenharia de Sistemas pela Fundação Armando Álvares Penteado e em Tecnologia em Eletromecânica pelo CTIEO. Hélio Samora é graduado em Engenharia Mecânica (Mackenzie), com pós-graduação em Marketing Industrial (ESPM).