Escassez de água pode afetar geração de energia elétrica
Oregime irregular de chuvas que parte do País está vivendo pode afetar a geração de energia elétrica. A última temporada de chuvas não foi suficiente para abastecer principalmente os reservatórios da Região Sudeste, onde estão importantes bacias hidrográficas e nelas, diversas usinas hidrelétricas. A fonte hidráulica tem hoje no Brasil 1.367 empreendimentos de todos os portes, desde grandes usinas até PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), que juntas têm uma potência outorgada de aproximadamente 109,3 GW.
Para comparação, termelétricas de combustível fóssil e biomassa têm potência outorgada de 44,4 GW e eólica tem 18,3 GW. Isso mostra a predominância da fonte hidráulica no País.
Na tabela a seguir é possível ver o volume dos reservatórios por subsistema regional do Brasil (dados atualizados em 31/5/2021). Para esta época do ano, os reservatórios do subsistema Sudeste / Centro-Oeste deveriam estar mais cheios e isso é um indicativo da escassez hídrica.
Apesar dos avanços nos últimos anos de outros tipos de geração de energia elétrica, o Brasil ainda é fortemente dependente das usinas hidrelétricas, conforme é possível ver na figura abaixo.
Houve, de 2011 a 2020, uma redução importante na participação da fonte hidráulica na matriz elétrica, devido não a sua diminuição física (que até aumentou), mas devido ao crescimento das outras fontes como gás natural, biomassa e eólica (principalmente).
Mas essa redução da fonte hidráulica de 81,8% para 65,2% ainda é pouco, e pode-se considerar que há pouca participação das outras fontes na matriz. A segurança elétrica vem com a diversificação (essa já em andamento) e também com o incremento e balanceamento entre as fontes.
Quando se tem o equilíbrio entre as fontes na matriz elétrica, mesmo que ocorra uma situação como a atual, as outras podem conseguir suprir a demanda por energia. No caso do Brasil, com aproximadamente 65% de uma única fonte, a escassez desta provoca forte impacto e fica mais difícil o suprimento dessa falta.
O governo já sinaliza a contratação de mais geração de energia elétrica de termoelétricas, tornando a fatura de energia mais onerosa ao consumidor. Por isso, e para tentar desestimular o consumo de energia, as bandeiras tarifárias devem ir para vermelha patamar 2 até pelo menos o fim do ano de 2021.
Mesmo com essas contratações, ainda assim há risco de não se ter a geração de energia elétrica em níveis satisfatórios. Se houver aceleração da economia, esse risco de falta de energia fica ainda maior.
O Brasil é rico em recursos naturais, sendo assim o estímulo à diversificação e ao incremento das outras fontes de energia é viável e torna-se essencial para trazer segurança no abastecimento de energia elétrica no País e evitar situações como a que se apresenta agora.
(*) Fernando de Lima Caneppele é professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP em Pirassununga
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