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Estar presente

Heitor Rodrigues Freire(*) | 09/08/2021 14:16

À medida que vamos vivendo, cada vez mais se evidencia a singularidade que nos caracteriza como seres únicos. Nem todos se dão conta da própria originalidade, imersos que estão na frivolidade e correria dos dias.

Para sair desse torpor que envolve muita gente, a manifestação da autoconsciência é fundamental. É a consciência que nos proporciona o meio e as condições necessárias para a libertação. Não adianta seguir os ensinamentos de um guru ou de algum sábio de fora. O verdadeiro despertar acontece do lado de dentro.

Estou aprendendo a despertar minha própria consciência, a assumir os meus atos, sem condicioná-los a quem quer que seja. Aprendi com Ortega y Gasset, filósofo espanhol, um ensinamento que considero fundamental: “Eu sou eu e a minha circunstância”.

Esse aprendizado me mostrou a importância de estar presente. Como é importante estar presente! Responsabilizando-me por todos os meus atos. Aprendi também a eliminar do meu vocabulário as palavras sempre e nunca. Em sã consciência, não devemos usar essas palavras. Tudo vai depender do momento e das circunstâncias.

A mudança verdadeira e transformadora é aquela que cada um pode realizar nos seus próprios atos e deve ser feita de forma consciente. Por menor que seja. Por exemplo: na forma de pensar e agir, não devemos pensar uma coisa e fazer outra; cumprir aquilo que prometemos; não julgar o próximo, não condenar ninguém, não reclamar. Essas mudanças de atitude se refletem diretamente na vida das pessoas e se irradiam de modo circular em todo o planeta, embora não sejam perceptíveis visivelmente.

Assim, agora é o momento exato de pararmos tudo. Ouvir o nosso coração. Refletir. Meditar. Buscar o verdadeiro sentido do que está acontecendo, para que cada um possa avaliar o seu próprio comportamento. Cada um tem dentro de si, todas as ferramentas necessárias para fazer essa avaliação e mudar.

É hora e tempo de acordar, de agir com lucidez, com firmeza, com disciplina; de eleger a sinceridade como expressão dos nossos pensamentos e dos nossos atos. Com todas as consequências daí advindas.

E não devemos dar importância às opiniões dos outros a nosso respeito. Ao não responder, não discutir, passamos a praticar um dos ensinamentos do Tao Te King: agir pelo não agir.

E assim, sabendo que as opiniões dos outros são apenas opiniões, sem oferecer-lhes resistência, o silêncio interno me torna sereno. Aprendi a arte de não falar. A praticar o nobre silêncio. Que me fortalece internamente. Convertendo-me em meu próprio Mestre. Deixando aos demais que sejam o que são. Ponto.

Está cada vez mais difícil julgarmos o que pode e o que não pode entrar em nossas vidas. A quantidade de informação disponível sobre qualquer assunto, o ritmo acelerado de nossas rotinas e a nebulosa relação entre o que é público e o que é privado, fazem com que fiquemos dispersos e acabemos negligenciando nossa privacidade, que é um bem imaterial e deveria ser melhor preservado.

A vida moderna, que não pede licença para ser invasiva, acabou dificultando, sem que percebêssemos, a privacidade de cada um. E, paradoxalmente, fomos nós mesmos que demos sinal verde para a nossa exposição pública: é divertido, todo mundo faz, e dá prazer.

E, com isso, renunciamos voluntariamente a esse privilégio maravilhoso, que é o direito à privacidade. Todos querem ser celebridade, ainda que num círculo restrito. A fama virou virtude. Todos querem exibir suas conquistas, sua família, seus momentos de sucesso.

Na contramão disso, a privacidade nos permite, com o trabalho silencioso e consciente, a manifestação da humildade. A humildade está presente agora e não no futuro. A humildade emerge naturalmente da consciência do ser, quando se aprende que ninguém é melhor que o outro. E ela nos conduz à busca da verdade e nos mostra a importância de nos conhecermos na essência. Esse processo de autoconhecimento nos liberta de todas as amarras que condicionavam nosso comportamento. Sem essa conquista, tudo é ilusão.

E para isso acontecer, estar presente é fundamental.

Heitor Rodrigues Freire(*),  Corretor de imóveis e advogado.


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