O meu porto seguro
No dia 3 de outubro de 1962, há 59 anos, atraquei meu navio num porto que veio a se constituir em seguro e permanente: oficializamos nosso noivado, eu e a Rosaria.
Foi o começo de uma jornada que só foi se enriquecendo ao longo do tempo, com o nosso casamento, em 25 de maio de 1963, e o nascimento de nossas filhas Valéria, Andréa, Raquel, Cynthia, Alessandra, Flávia e Thaís.
Durante um bom tempo eu fui questionado por amigos se havia buscado constantemente um filho homem. Eu sempre respondi que não. Nunca tive essa intenção. As gestações foram acontecendo naturalmente. E naquele tempo, só se sabia o sexo dos filhos no próprio dia do nascimento.
Eu sempre agradeci a Deus por cada uma das minhas filhas, que se constituíram no tesouro maior de nossas vidas. Quem escolheu o nome delas sempre fui eu.
Com o passar do tempo e as vicissitudes, venturas e desventuras vividas, o porto seguro, que se viu acometido de muitas tempestades e até alguns tufões, nunca vacilou nem tergiversou, consagrando uma visão que um amigo vidente teve no dia do nosso casamento. Ele disse que no momento em que o padre consagrava nossa união, viu descer do alto o Espírito Santo, abençoando-nos.
O meu aprendizado se enriqueceu quando comecei a entender que devia aproveitar a convivência com a Rosaria para alcançar a evolução espiritual que sua companhia sempre me proporcionou.
Vou relatar agora um fato acontecido em 1959: eu, soldado raso, servia na 4ª Companhia Média de Manutenção, unidade da 9ª Região Militar, que naquele ano tinha a tarefa de atender no Círculo Militar, por ocasião das festas juninas. Eu fazia o serviço de garçom, quando de repente me vi à frente de uma moça que me causou uma forte impressão espiritual; tentei falar com ela, mas logo pensei: “Uma moça dessa não vai dar bola para um simples soldado”. Assim, não lhe disse nada. Mas fiquei com aquela boa impressão que ela me causou.
Anos depois de casados, ao comentar com a Rosaria sobre esse evento, ela me disse que estava nessa festa, acompanhada de seus tios, Castro e Babel. Naquela noite, uma cigana leu a mão dela e disse-lhe que o seu futuro marido se encontrava ali, naquela festa. Quer dizer, para mim, aquela moça que havia me impressionado só podia ser a Rosaria. O que mais uma vez mostra que nada é por acaso, tudo estava escrito.
A Rosaria é uma pessoa que tem uma qualidade muito rara: é dotada de bom senso. Aprendi com ela que ser sensato e fazer o correto juízo das coisas é dificílimo. Ela não se dá a extremos, não segue fórmulas preestabelecidas e não se impressiona com qualquer novidade. E alia a isso um sentimento de solidariedade para com todos, sem nunca cair no apiedamento.
Por meio do nosso relacionamento e com a convivência com as nossas meninas, eu pude observar e confirmar o quanto, realmente, as mulheres são surpreendentes. No meu caso, se eu tivesse ouvido a minha mulher em inúmeras circunstâncias, não teria cometido tantos erros.
Nós trabalhamos sempre para proporcionar às nossas filhas uma graduação superior. Conseguimos nosso intento. Assim, a Valéria é graduada em direito; Andréa, em artes cênicas; Raquel, em comunicação; Alessandra é psicóloga; Flávia, jornalista, e Thaís, engenheira civil. A Cynthia faleceu com 3 meses, num acidente de carro. Elas nos brindaram, no total, com doze netos: quatro meninas e oito meninos.
E desse meio, emerge, majestosa, Rosaria, e se consagra, para mim, como um exemplo vivo de dedicação, solidariedade e amor, meu porto seguro permanente. Sou profundamente agradecido a Deus por isso.
Heitor Rodrigues Freire (*) – Corretor de imóveis e advogado.