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O primeiro dia

Heitor Freire (*) | 29/06/2020 15:44

No Antigo Testamento, Segundo o Gênesis, a Criação do mundo se deu ao longo de sete dias. No primeiro, Deus disse: “Faça-se a Luz. E a Luz foi feita” (Gn 1,3). A Criação prosseguiu nos dias seguintes, até que no sétimo dia Deus viu o seu trabalho concluído e destinou esse dia ao descanso. “Deus então abençoou e santificou o sétimo dia” (Gn 2,3).

Esse preceito foi observado desde então pelo povo judeu, por Jesus Cristo e pela Igreja primitiva em seus primórdios: “O sábado foi feito para servir ao homem, e não o homem para servir ao sábado. Portanto, o Filho do Homem é senhor até mesmo do sábado” (Mc 2, 27-28).

No período em que Constantino I (306-337 d.C.) se tornou imperador de Roma, o cristianismo era visto como uma ameaça aos romanos e, por isso, muitos imperadores que o antecederam perseguiam os cristãos.

Em 323, Constantino I se converteu ao cristianismo e passou a promover a nova religião, financiando a construção dos templos.  Apesar de o cristianismo ter sido fortalecido e divulgado em Roma, não se tornou a religião oficial do Estado, que continuou com o paganismo.

Constantino I acabou por entrar para a história como primeiro imperador romano a professar o cristianismo. Segundo a tradição, na noite anterior à batalha da Ponte Nílvia contra Magêncio, perto de Roma, Constantino I sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim: “In hoc signo vinces” (Com este sinal, vencerás).

Segundo a lenda, o rei Afonso I de Portugal também viu o signo, adotando-o como símbolo nacional e como um lema a ser seguido. Esta lenda é narrada em Os Lusíadas, de Camões. O mesmo símbolo seria mais tarde adotado por João III da Polônia, pela nobreza da Irlanda e por outros povos.

Deve-se a Constantino I a proclamação do domingo como dia de descanso – ele tomou essa resolução no ano de 321 d.C. O domingo era considerado o Dia do Deus Sol, divindade oficial do paganismo e do Império naquela época. Antes do advento do cristianismo, esse dia correspondia ao dies Solis, isto é "dia do Sol" (Sunday, em inglês), em honra da divindade do Sol Invicto.

No entanto, o culto ao Sol Invicto ainda permaneceria em Roma (assim como o uso da denominação dies Solis), até a promulgação do célebre édito de Tessalônica, em  fevereiro de 380, quando o imperador Teodósio I estabeleceu que a única religião de Estado seria o cristianismo de Niceia e baniu qualquer outro culto. Assim, em novembro de 383, o dies Solis passou a ser denominado oficialmente dies dominica (Dia do Senhor) em todo o Império Romano.

A Igreja difundiu o entendimento de que o domingo passaria a ser o dia santificado porque foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Ou seja, foi um ato político respaldado por Teodósio, com um efeito tão forte que foi, tempos depois, difundido e adotado por todo o mundo dito civilizado.

Na língua portuguesa, a origem dos nomes dos dias da semana vem da Idade Média. O domingo, derivado do latim "dies Dominica", dia do Senhor, é considerado hoje o último da semana para os cristãos.[R1]

Mas naquela época, era no dia da missa que havia maior aglomeração de pessoas e, por isso, os agricultores se reuniam em torno da igreja para vender seus produtos – o primeiro dia de feira. O dia seguinte, consequentemente, era a segunda-feira. E daí por diante até chegar ao sábado, cuja origem é o termo hebraico shabbatt, o último da semana para os judeus.

 Apesar de ser considerado o “primeiro” dia de feira, paradoxalmente o doming passou a ser tratado como se fosse o último dia da semana, o que de forma alguma lhe   subtraiu a origem e seu significado esotérico, pois é verdadeiramente o primeiro dia da semana, dia em que foi feita a Luz. Para aqueles que compreendem esse significado, o  domingo é o dia correto em que se deve iniciar qualquer atividade a qual se queira dar  continuidade.

É muito comum as pessoas dizerem: “Na segunda-feira vou deixar de fumar, vou   começar uma dieta, vou parar de beber, etc”, e esse propósito não prosperar. Por quê?  Por que começa no dia inadequado. Para se iniciar qualquer atividade o dia certo é o primeiro dia, ou seja, o domingo. Quando eu decidi deixar de fumar, tomei essa decisão num domingo e nunca mais fumei. Comigo funcionou, e deixo a dica para quem quiser tentar.

“Se compreendes, as coisas são como são. Se não compreendes, as coisas são como são”.

(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.

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