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Paz no Oriente Médio?

Isaac Roitman (*) | 11/05/2023 13:30

A motivação deste artigo foi a leitura do artigo Jerusalém da devoção, publicado no Correio Braziliense, de autoria de Rodrigo Craveiro. No final do artigo, ele escreveu: "Em Jerusalém, muçulmanos, judeus e cristãos confluem para louvar o divino. Nesta Semana Santa, na antevéspera da Paixão de Cristo e a quatro dias da Páscoa, desejo a você a busca da conexão com o superior, com o infinito, como o quer que o conceba. Faz bem para a alma. Acalma e traz confiança de dias melhores".

O Oriente Médio e particularmente Jerusalém historicamente foi palco de eventos considerados importantes sob o ponto de vista religioso, cultural e civilizatório. Esse território foi cobiçado por impérios, como o babilônico, o romano, o bizantino e o otomano. Antes da partilha da Palestina pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1947, lá habitavam dois grandes grupamentos humanos, judeus e árabes muçulmanos, além de pequenas comunidades de cristãos e drusos. Todos eram palestinos, pois viviam na Palestina sob mandato britânico (1920-1948).

Nas últimas décadas, os conflitos entre israelenses e palestinos são recorrentes. Apesar de algumas iniciativas, a paz plena nunca foi alcançada. A extraordinária polarização é o cenário predominante. É preciso entender que a única forma de garantir o futuro de Israel como Estado democrático judeu é viver em paz e segurança com os vizinhos. É também a única forma de garantir um futuro de liberdade e dignidade ao povo palestino.

A situação humanitária em Gaza é alarmante e tem que terminar. Da população de 1,8 milhão de Gaza, 1,3 milhão de pessoas precisam de assistência diária para se alimentar e se abrigar. A maioria tem eletricidade menos que a metade do tempo e somente 5% de água pode ser bebida com segurança. Esse cenário de barbárie precisa ter um fim e causa imensa indignação a todo ser humano que se preocupa com o bem-estar de todos.

A solução com possibilidade maior de ser concretizada é a de dois Estados com a criação de um Estado para o povo palestino, onde ambos os lados afirmem o compromisso de preservar direitos iguais e plenos para todos os respectivos cidadãos. Os dois Estados terão como objetivo principal atingir suas aspirações nacionais. É importante dar menor valor aos interesses geopolíticos e ao comércio de armas que lucra com as guerras. A intolerância entre os judeus e árabes deve ser extinta. Cabe aos israelenses e palestinos fazer as escolhas para alcançar a paz e pensarem em uma economia de longo prazo, com construção, reconstrução e planejamento do Estado palestino.

Existem já vários entendimentos entre lideranças dos dois povos, como a Iniciativa de Genebra, que mapeiam soluções aceitáveis para os dois lados de pontos críticos como fronteiras, refugiados, assentamentos, Jerusalém e lugares sagrados. É preciso eliminar o discurso de palestinos extremistas de tirarem Israel do mapa, como também a insensibilidade de judeus radicais que não respeitam o direito dos palestinos de terem uma vida digna dentro de seus valores culturais.

Muitas lideranças de ambos os lados são pacifistas e são peças fundamentais nas negociações para uma paz duradoura. Um deles, o saudoso escritor Amos Oz, assim se expressou: "A criação de dois Estados independentes soberanos, vizinhos, que reconheçam as fronteiras e os direitos um do outro e vivam em paz". Um outro pacifista judeu é Gershon Baskins, autor do livro Israel e Palestina: um ativista em busca da paz, que faz uma profissão de fé: "Uma paz justa como única saída do labirinto em que ambos os povos se encontram".

É pertinente lembrar do saudoso primeiro-ministro de Israel e Prêmio Nobel da Paz de 1994, Yitzhak Rabin, que foi assassinado em 1995 por um extremista judeu após um evento pela paz. No final do evento, foi entoada a canção Shir la Shalom (Canção para a paz), que nos dois últimos versos, diz: "Não digam: o dia virá / Tragam esse dia / Porque ele não é um sonho / Em todas as praças / Aplaudam a paz / Então apenas cantem, uma canção para a paz / Não sussurrem uma oração / É melhor que vocês cantem uma canção para a paz / Num grito forte". Oxalá consigamos a paz no Oriente Médio e em todo o planeta.

(*) Isaac Roitman é doutor em Microbiologia.

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