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Quem não se vira é jabuti

Heitor Rodrigues Freire (*) | 09/10/2021 08:58

É muito comum a prática de se transferir aos outros a responsabilidade de um ato  cometido, para evitar consequências indesejadas.

É frequente ouvirmos: “Não fui eu”. Essa expressão demonstra a tentativa de se eximir da obrigação. Penso que tudo diz respeito a todos, independentemente da responsabilidade direta com o ato em questão, porque a partir do momento em que  buscamos uma solução, desenvolvemos um processo criativo que enriquece todos os que se dispõem a resolver o problema.

Outra expressão que é comum ouvir por aí: “Sempre foi assim”. É o surrado hábito de  deixar como está para ver como é que fica. É a manifestação do mais perfeito comodismo, e é o que emperra qualquer empresa, porque provoca preguiça institucionalizada. É a negação da inteligência e da criatividade. É eximir-se da ação.

Como sabemos, o trabalho dignifica o homem. E quando executado com consciência, contribui para o aprimoramento geral.

Há um famoso texto de Helbert Hubbard, jornalista americano, que retrata com muita fidelidade esse comportamento, chamado “Mensagem a García”: quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava aos americanos era conseguir se comunicar rapidamente com o chefe dos insurretos, García, que se encontrava em alguma fortaleza no sertão cubano, mas ninguém sabia exatamente onde. Era impossível, naquela época, contactá-lo por correio ou telégrafo. No entanto, o presidente MacKinley tinha que se assegurar da colaboração de García, seu aliado, e o quanto antes. Mas como fazer?

Alguém lembrou ao Presidente: ‘Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar García, há de ser o Rowan’. Então providenciaram para que Rowan fosse trazido à presença do presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a García, e somente a ele. Pois Rowan, pegou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, depois de quatro dias de peregrinação incessante, saltou de um barco sem coberta, alta noite, no litoral de Cuba; ele se embrenhou no sertão, para depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil, quente, e entregar em mãos a carta a García. Os detalhes são coisas que não vêm ao caso narrar aqui.

O ponto é este: O presidente MacKinley entregou a Rowan uma carta para ser entregue a García; Rowan pegou a carta e nem sequer perguntou: “Quem é ele?” “Onde é que ele está?” Ele simplesmente assumiu a missão e foi em frente, na certeza de que iria cumprir o combinado.

Há um ditado popular que diz: “Quem não se vira é jabuti”. Porque ao jabuti, que não consegue se desvirar sozinho quando cai, é atribuída uma inação que não depende dele mesmo. Se ninguém ajudá-lo, o bicho corre o risco de morrer. Daí a conclusão de que como não somos jabutis, podemos nos desvirar sozinhos, porque isso só depende de nós mesmos.

No Pará, há uma variação desse ditado: “Te vira, tu não é jabuti: Resolva teus problemas, tu é capaz! Só o jabuti quando fica com o casco para baixo é que não consegue se desvirar sozinho”.

O que mais se espera de todos é exatamente uma ação consciente para resolver os próprios problemas.

Quando atingirmos esse estado ideal, sem dúvida, o mundo será outro. Não vai ter mais aqueles que dizem que já cumpriram seu trabalho, que merecem o descanso, etc.

E tudo ficará melhor. Naturalmente, com as bençãos de Deus.

Heitor Rodrigues Freire (*) – Corretor de imóveis e advogado.

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