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Seguimos sem “Rumo” para extinção

Ângelo Rabelo (*) | 02/05/2023 08:30

Na sequência das inúmeras extinções de espécies silvestres como o cachorro-vinagre, seguimos colocando inúmeras espécies como a onça pintada, na lista crítica das ameaçadas de extinção. Nos esquecemos que nós, seres humanos, estamos, na sequência. Somente esta semana, outras duas onças morreram atropeladas na BR-262, totalizando mais de 25 em cerca de 6 anos. Somada às que morreram pela mesma causa dentro do Pantanal, este número ultrapassa 50. Já se sabe que depois da destruição de habitats, os atropelamentos são a segunda maior causa, na sequência, a caça. No caso da BR-262, o número de animais diários mortos entre mamíferos e répteis ultrapassa a 30 diários. Multiplicando os dias do mês, um número assustador: 900! Duvida? Venha contar e conferir. Entre Aquidauana e Corumbá é triste. Porque isto acontece? Não é somente falta de consciência. Veja os fatos.

1. Nossas exportações para Bolívia, trecho São Paulo - Corumbá, país altamente dependente do Brasil, movimentam cerca de 300 caminhões média dia.

2. A Bolívia exporta para o Brasil diariamente inúmeras insumos de fertilizantes como uréia, borato e ainda gás para o Brasil, cerca de 200 caminhões dia sentido São Paulo;

3. Nossa produção de minério de ferro, além da exportação via hidrovia, gera uma demanda de consumo interno que desce para o centro-sul do país, movimenta média 300 caminhões dia.

Em qualquer conta que fizermos, chegamos à média de 500 caminhões por dia e se somarmos os carros menores vamos à média de 800 veículos diários transitando em uma rodovia feita em um aterro no meio do Pantanal. Uma obra ousada de engenharia nos anos 70 que resiste com dificuldades para aguentar tanta carga. Temos como minimizar este problema? Sim!

A Ferrovia sucateada como resultado de uma desastrosa concessão, pode reduzir drasticamente este desastre ambiental em curso. Não estamos falando somente da onça enquanto espécie, mas também o que ela hoje já representa para o ecoturismo. A revitalização da ferrovia é tema de inúmeras reuniões nos últimos 30 anos e nenhuma decisão. Imaginem o tempo e custo socioeconômico e ambiental. Segue sem “Rumo” e a sua concessionária, num dilema entre o amor e o ódio, não decide se casa ou descasa, se investe ou devolve, resultando no segundo maior desastre ambiental do Pantanal, depois do Rio taquari.

A empresa investe no trecho rentável? O nosso não é? E o custo socioambiental, nós pagamos? Nem vou abordar sobre perdas de vidas humanas e materiais. E o custo hoje de manutenção da BR pelo Dnit. Impagável! Me parece que precisamos de todas as forças políticas e do Ministério Público Federal, da Justiça Federal, para chamarem os gestores do trecho à responsabilidade e, a curto prazo, encontrarmos uma saída, uma solução, um novo “Rumo”, já que o atual, não me parece consciente da sua responsabilidade no desastre em curso.

Para finalizar me permitam fazer uma reflexão sobre nossos caminhos. Todos nós estamos numa estrada e lembrando da passagem bíblica do “caminho de Damasco” me parece que cada vez estamos próximo à entrada da cidade. Como Saulo, depois de muita arrogância, truculência, indiferença na sua caminhada, se ajoelhou diante da divina piedade. Quero crer que nossas escolhas em nossa caminhada, pode nos dar a graça ou tristeza divina. Como diz a música, “cada um compõe a sua história”.

(*) Ângelo Rabelo é presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro).

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