Universidade para todos
Sou de uma geração privilegiada, pois todas as crianças e jovens que tinham vocação para o estudo e residiam próximo a zonas urbanas, mesmo oriundos de famílias sem recursos, tinham a oportunidade de frequentar instituições públicas de ensino de grande qualidade.
No entanto, as escolas públicas, que eram muito boas, não eram suficientes para todo o universo de postulantes e, por isso, uma parcela significativa ficava excluída. Lamentavelmente, a universalização do ensino básico foi efetivada com a redução da qualidade oferecida aos alunos.
Mas essa geração tinha uma frustração: quando concluído o ensino médio, na época com as denominações de Clássico, Científico e Normal, o número de vagas no ensino superior era muito pouco, tanto nas instituições públicas quanto nas particulares. Assim, muitos alunos talentosos não conseguiam prosseguir nos seus estudos.
De lá para cá, a situação mudou pouco, com o aumento das vagas nas instituições de ensino superior, mas os alunos oriundos de escolas públicas, só mais recentemente, com a criação das cotas, estão conseguindo acesso às mais renomadas instituições, normalmente públicas.
De qualquer forma, nosso país ainda oferece menos oportunidades no ensino superior do que muitos de seus vizinhos fronteiriços.
Já está mais que comprovado que, só com investimento massivo na Educação, em todos os níveis, consegue-se o desenvolvimento da nação de forma mais eficiente e duradoura. Temos os exemplos do Japão, da Coreia do Sul e de Cingapura, entre outros, e, mais recentemente, da China e da África do Sul. Reforço que o investimento deve ser em todos os níveis, pois, para alguns, pode parecer lógico começar o apoio aos níveis iniciais da educação, esquecendo que os docentes são preparados pelas instituições de nível superior.
Outro ponto mencionado, por quem não entende o que é ensino, é que a sociedade não necessita de muitos profissionais de nível superior, portanto, basta atender a uma pequena parcela da sociedade. Não conseguem compreender por que, nos países desenvolvidos ou que estão em desenvolvimento acelerado, há oferta para que a maioria de seus jovens se gradue em cursos superiores. Nesses países, os governos entendem (talvez pressionados por populações mais elucidadas) que o ensino superior, mesmo o tecnológico, forma os cidadãos que têm a capacidade de contribuir para a melhoria da sociedade.
Por fim, tem que ficar claro que, se temos, em nosso país, profissionais de nível superior desempregados ou realizando serviços que não necessitam dessa formação, não é por abundância de graduados, mas sim por incompetência do governo federal em planejar a expansão do ensino superior e de acompanhar sua evolução (a distribuição de vagas no ensino superior brasileiro não segue nenhuma lógica). Além disso, essa situação pode ser consequência da situação econômica do País.
Espero que, algum dia, os órgãos responsáveis pela educação no Brasil cumpram sua obrigação e promovam uma expansão planejada do ensino superior para podermos almejar um futuro melhor para nosso país.
(*) Vahan Agopyan, reitor da USP