Ação do Gaeco contra “bichos cigarreiros” chega à mais alta patente da PM
Sete oficiais, incluindo um coronel, foram alvos de operação. Salário dos suspeitos varia de R$ 22 mil a R$ 33 mil
De nome curioso, a operação Oiketicus, que comemora aniversário de dois anos amanhã, saiu às ruas nesta sexta-feira (dia 15), chamada neste desdobramento de Avalanche, em busca de mais “bicho cigarreiro” em Mato Grosso do Sul.
Não se trata da lagarta oiketicus que batiza a ação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) desde 2018, mas de altas patentes da PM (Polícia Militar), incluindo até um coronel.
Eles são suspeitos de envolvimento na Máfia do Cigarro, aquele esquema em que cigarros contrabandeados do Paraguai passam pelo Estado para inundar o Brasil, deixando rastro de pagamento de propina a policiais.
Nesta sexta-feira, conforme apurado pelo Campo Grande News, os alvos da operação Avalanche foram o coronel Kleber Haddad Lane, os tenentes-coronéis Jidevaldo de Souza Lima, Carlos Lima, Josafá Pereira Dominoni, Erivaldo José Duarte Alves e Wesley Freire de Araújo, além do major Luiz César de Souza Herculano.
Ex-comandante do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), Kleber Haddad Lane também foi superintendente de Segurança Pública, posto na cúpula da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). Conforme consulta ao Portal da Transparência, a remuneração dele em abril foi de R$ 33.899 da aposentadoria de oficial e mais R$ 8.500 pelo cargo comissionado.
O tenente-coronel Jidevaldo de Souza Lima é desde janeiro o chefe da 4ª Seção do Estado-Maior da PM, que coordena assuntos relativos à gestão e projetos e captação de recursos. Ele foi comandante da PM em Amambai.
Na hierarquia da corporação em Mato Grosso do Sul, o topo é o comando-geral, seguido por subcomando-geral e Estado-Maior. A remuneração do oficial em abril foi de R$ 25.588, sendo R$ 22.851 de remuneração fixa e R$ 8.335 de remunerações eventuais.
A operação também prendeu logo no começo da manhã Carlos Lima, comandante do 3ª Batalhão da Polícia Militar em Dourados. Alvo nesta sexta-feira, o tenente-coronel Josafá Pereira Dominoni trocou, no ano passado, o comando da Polícia Militar em Nova Andradina pelo 5ª Companhia Independente da Polícia Militar de Campo Grande.
Hoje, o Gaeco foi às instalações policiais, na Vila Sobrinho. O oficial teve salário de R$ 22.851 no mês passado, além de receber mais R$2.575 por remunerações eventuais. O major Luiz César de Souza Herculano comanda a corporação em Coxim.
A operação Avalanche é em conjunto com a Corregedoria da Polícia Militar. O Campo Grande News questionou a Sejusp e foi informado de que será divulgada uma nota à imprensa em parceria com o Gaeco.
Máfia do Cigarro em fases - Na primeira fase da Oiketicus, realizada em 16 de maio de 2018, foram cumpridos 20 mandados de prisão preventiva contra policiais, sendo três oficiais, e 45 mandados de busca e apreensão. O saldo total foi de 21 prisões porque um sargento acabou preso em flagrante.
A ação foi em 16 localidades: Campo Grande, Dourados, Jardim, Bela Vista, Bonito, Naviraí, Maracaju, Três Lagoas, Brasilândia, Mundo Novo, Nova Andradina, Boqueirão (distrito), Japorã, Guia Lopes, Ponta Porã e Corumbá. Segundo a investigação, a remuneração para os policiais variava de R$ 2 mil por mês a R$ 100 mil.
A segunda etapa aconteceu no dia 23 de maio de 2018, com mandado de busca e apreensão na casa e escritório de então servidor do TCE (Tribunal de Contas do Estado). A terceira fase foi em 13 de junho, quando mais oito policiais foram presos. No dia primeiro de novembro de 2018, a quarta etapa prendeu um tenente-coronel e um sargento.
“Vocês não são daqui” - Exatamente uma semana depois da primeira fase da Oiketicus, durante um flagrante em Bela Vista, o motorista de um caminhão com 370 caixas de cigarro contrabandeado chegou a questionar os policiais: “Vocês não são daqui?”.
Para o MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a surpresa do contrabandista foi uma demonstração sintomática de um mecanismo de corrupção envolvendo policiais militares.
“Essa situação, ocorrida poucos dias após da prisão dos comandantes e guarnição do esquema criminoso, revela bem como era sólida, estável e eficaz a formatação da corrupção orquestrada e, claramente, confirma as razões de inexistência de apreensões de cargas de contrabando de cigarro anteriormente”, apontou relatório da promotoria. A operação já teve vários policiais condenados.
Um caminhão sequestrado – Em dezembro de 2017, dois policiais militares foram presos em Campo Grande acusados de cobrar R$ 150 mil para liberar um caminhão-baú carregado com cigarro vindo do Paraguai. O caminhão foi localizado na rua Verdes Mares, esquina com a avenida Gunter Hans, no bairro Tarumã.