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Cidades

Artimanhas do tráfico: drogas recheiam cartão de Natal, postes e até cebola

Na crônica polícia versus bandido, versões mal amarradas revelam os criminosos

Aline dos Santos | 06/02/2022 08:34
Aparelho raio-x decobriu cebolas recheadas com maconha em presídio. (Foto: Divulgação/Agepen)
Aparelho raio-x decobriu cebolas recheadas com maconha em presídio. (Foto: Divulgação/Agepen)

Num Estado em que toneladas e toneladas de drogas são retiradas de circulação por ano, o tráfico se esmera na criatividade: tem droga no cartão de Natal endereçado à Espanha, recheando cebola no presídio, engomando papel com propaganda em inglês ou oculto em postes de concretos.

Mas as invencionices mencionadas acabaram não dando certo, sendo alvos de flagrantes. Nessa crônica polícia versus bandido, versões mal amarradas revelam os criminosos. Na fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia, porta de entrada da cocaína, a droga mais rentável do mercado, policiais federais encontram o pó em pedregulhos, cebolas, batatas, quadros. Em geral, os artifícios são flagrados nas vistorias de bagagens de ônibus em veículos.

As equipes também passam pelos Correios, onde, por exemplo, chamou a atenção alguém enviar cartão de Natal para a Espanha. Sabidamente, o envio desse tipo de correspondência caiu em desuso. Bastou usar o reagente e verificar a presença de cocaína. Mesmo em menor quantidade, o envio da droga para o exterior rende dinheiro. Na Espanha, a grama da cocaína é cotada em 48 euros (R$ 288). Outros disfarces quando se trata de envio de mercadorias são brinquedos, folha de papel, artigos femininos.

Cartão com conteúdo em inglês foi engomado com cocaína e apreendido em Corumbá. (Foto: Divulgação)
Cartão com conteúdo em inglês foi engomado com cocaína e apreendido em Corumbá. (Foto: Divulgação)

Na semana passada, em Corumbá, a PF (Polícia Federal) apreendeu quatro quilos de cocaína engomada no papel. Os cartões, escritos na língua inglesa, estavam no compartimento de bagagens de van de passageiros. A suspeita foi levantada pelo peso do papel, que fica mais denso quando é engomado com a droga, num processo realizado com produtos químicos.

Em 2021, a Polícia Federal tirou 4,5 toneladas de cocaína de circulação. Ainda foram apreendidas 117 toneladas de maconha. As grandes cargas são ocultas em transporte de mudança, implementos agrícolas, peças automotivas e cargas de grão. As quantidades menores vão amarradas ao corpo, engomada em tecidos ou, ainda, engolidas pelos traficantes.

Carga de maconha avaliada em R$ 4 milhões viajava dentro de postes de concreto. (Foto: Divulgação/PRF)
Carga de maconha avaliada em R$ 4 milhões viajava dentro de postes de concreto. (Foto: Divulgação/PRF)

Quatro milhões em postes – Por fora, postes de concretos, por dentro, uma fortuna em maconha. O flagrante foi feito em setembro de 2021 pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), em Ponta Porã. Cidade na fronteira com o Paraguai e fundamental na logística do tráfico de drogas.

Os policiais rodoviários federais abordaram o condutor de um caminhão Mercedes-Benz, que transitava pela MS-386. O nervosismo do motorista provocou desconfiança e o veículo foi escoltado até à base da PRF. Os policiais descobriram que os postes de concreto serviam de esconderijo para duas toneladas de maconha, avaliadas em R$ 4,7 milhões.

Noutro flagrante, em Anastácio, na BR-262, era a lasanha que vinha recheada com cocaína. A droga também estava oculta em um travesseiro.

Nas rodovias, as preferências do tráfico são cargas a granel (soja e milho), além de compartimentos ocultos em veículos. A PRF apreendeu cinco toneladas de cocaína e 244 toneladas de maconha em 2021.

No ano passado, policiais penais flagraram maconha recheando cebolas. O legume com 510 gramas da droga era destinado a interno do Presídio de Segurança Média de Três Lagoas, a 338 km de Campo Grande. A maconha foi identificada no raio-x.

Do botijão a caroço de manga - No maior flagrante do ano passado, a Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico) aprendeu 455 quilos de cocaína em botijões de gás.  A carga foi a avaliada em R$ 10 milhões.

“A cada época, o traficante usa uma maneira diferente de agir. Ele vai testando e vai evoluindo o que dar certo. O traficante sempre se vai se ajustar para ir dificultando mais. Usam fundo falso, misturam drogas em cargas como madeira, tijolos, cimento, terra, pedra, raspas de pneu”, afirma o titular da Denar, delegado Gustavo Ferraris.

 A droga já foi flagrada até no caroço de manga, que é quebrado e passa a ser esconderijo de papelotes. No ano passado, a delegacia apreendeu 8,1 toneladas de maconha e 488 quilos de cocaína.

"O traficante sempre se vai se ajustar para ir dificultando mais", diz delegado Gustavo Ferraris. (Foto: Paulo Francis)
"O traficante sempre se vai se ajustar para ir dificultando mais", diz delegado Gustavo Ferraris. (Foto: Paulo Francis)


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