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Cidades

Com 14% de crianças obesas, hora do lanche fica entre o saudável e o salgadinho

Pódio dos vilões da alimentação inclui salsicha, salgadinhos industrializados e refrigerantes

Aline dos Santos e Mariely Barros | 07/12/2022 12:15
Frutas, suco e sanduíche natural no lanche de Manuela e Rafael, alunos do Colégio Adventista. (Foto: Assessoria de Imprensa)
Frutas, suco e sanduíche natural no lanche de Manuela e Rafael, alunos do Colégio Adventista. (Foto: Assessoria de Imprensa)

Enquanto 14% das crianças de cinco a dez anos têm obesidade em Mato Grosso do Sul, a hora do lanche é bem diferente nas escolas, com um abismo entre opções saudáveis e guloseimas que podem custar a saúde no futuro.

Nas redes particular e municipal de Campo Grande, lei em vigor há onze anos garante a oferta de cardápio balanceado nas cantinas, já na rede estadual o Poder Legislativo falhou em fazer vingar legislação para varrer frituras, refrigerante e ultraprocessados dos comércios em ambiente escolar.

Do lado de fora dos colégios, segue o risco nas vendinhas, tendo como chamariz os salgadinhos de valor acessível, mas preocupante por serem pobres em nutrientes e com quantidade estrondosa de corantes. A lista de ultraprocessados também inclui salsicha, refrigerantes e sorvete.

Lei municipal, válida em Campo Grande, exige que cantinas tenham opções de alimentos saudáveis. (Foto: Marcos Maluf)
Lei municipal, válida em Campo Grande, exige que cantinas tenham opções de alimentos saudáveis. (Foto: Marcos Maluf)

No Colégio Adventista, a alimentação saudável faz parte da filosofia, portanto, desde sempre, a cantina oferece salgados assados, sucos e frutas. Na unidade da Rua Rio Grande do Sul, os 900 alunos são envolvidos em projetos sobre importância de se alimentar corretamente.

Na hora do lanche, nada de nariz torcido para as opções saudáveis. Folhado de brócolis e minipizza surgem entre os preferidos. Um aluno de 9 anos conta que nunca provou refrigerante. “A gente sabe que não faz bem à saúde”, diz. A irmã, de 11 anos, endossa que boas escolhas alimentares agora representam investir para evitar doenças quando adulto.

"O ideal é que a gente se preocupasse em descascar mais e desembalar menos", afirma nutricionista. (Foto: Marcos Maluf)
"O ideal é que a gente se preocupasse em descascar mais e desembalar menos", afirma nutricionista. (Foto: Marcos Maluf)

Nutricionista do colégio, Wlyana de Melo alerta que a “conta” por uma alimentação inadequada chega cada vez mais cedo.

“O efeito já é em curto prazo. Você pode notar a diferença no peso. E, hoje, já falamos de adolescentes com problema de pressão alta, com diabetes. O ideal é que a gente se preocupasse em descascar mais e desembalar menos”, afirma a profissional, em alusão a consumir mais alimentos in natura do que industrializados. Para os pais, a orientação é envolver a criança no preparo do alimento.

"Fazer com que ela participe. Não existe você ‘não vai comer isso’, é preciso explicar, fazer substituições. Tenho pavor de terrorismo alimentar. Pode comer algo diferente de vez em quando, mas deve ser a exceção. Na escola, os alunos do período integral têm aula de culinária. Então, eles conseguem entender porque o cardápio é assim. Na grade da escola, por ser embutido na filosofia, eles trabalham com a pirâmide alimentar, a alimentação saudável é muito próxima a eles”, diz a nutricionista.

Com vocês, os vilões – Um pódio dos vilões da alimentação, mas que fazem sucesso entre as crianças, inclui salsicha, salgadinhos industrializados, refrigerantes e macarrão instantâneo.

“O refrigerante tem grande quantidade de açúcar, sódio, corantes, conservantes. Tem uma quantidade estrondosa de sódio por conta do conservante. O salgadinho, como a gente costuma dizer, é uma caloria vazia. Ele vai saciar, mas não vai nutrir a criança. E você tem ali mais um leque de conservantes e corantes. A caloria vazia não te acrescenta em nada. Já a salsicha tem corantes que podem ser considerados cancerígenos”, explica Wlyana de Melo.

Presidente da Asman (Associação Sul-mato-grossense de Nutrição), Anderson Holsbach afirma que salsicha, salgadinhos industrializados e refrigerantes são classificados como ultraprocessados.

Guloseimas à venda em padaria de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Guloseimas à venda em padaria de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Possuem uma alta densidade energética (muita caloria) por conta do excesso de gorduras, açúcares e sal. Além de terem muitos aditivos químicos, como adoçantes, aromatizantes e corantes. Muitos deles derivados do petróleo, o que torna os alimentos hiperpalatáveis e estimulam o consumo. Esses alimentos são pobres em vitaminas, minerais e fibras”.

Apesar de todo esse histórico, os ultraprocessados são opções diante de um estilo de vida sedentário e a roupagem do marketing que estimula o consumo.

De acordo com Holsbach, dados do Sisvan (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional), relativos a 2021, revelam cenário preocupante. Em Mato Grosso do Sul, 32,68% das crianças de 5 a 10 anos estão com excesso de peso. Do total, 14,25% já estão com obesidade.

Salgadinhos industrializados têm corantes e conservantes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Salgadinhos industrializados têm corantes e conservantes. (Foto: Henrique Kawaminami)

Uma lei à deriva - Aprovada na Assembleia Legislativa, a Lei 4.320 passou a valer em fevereiro de 2013. O dispositivo proibia a comercialização, confecção e distribuição de produtos que colaborem para acarretar riscos à saúde ou à segurança alimentar dos consumidores, em cantinas e similares em Mato Grosso do Sul.

Provocado pela Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso do Sul), o Tribunal de Justiça concedeu liminar e suspendeu a lei estadual em junho de 2013. Já no mês de outubro daquele ano, julgou, no mérito, que a legislação era inconstitucional. A federação alegou que a lei deveria ser proposta pelo próprio governador.

Sepultada pela Justiça, a lei já teve várias tentativas de ser “ressuscitada” na Assembleia Legislativa. Em 2017, uma nova legislação sobre a Cantina Saudável foi aprovada pelos deputados estaduais, mas proposta foi vetada pelo governo.

A justificativa foi de que o tema invadia a competência do Poder Executivo, além de legislar sobre área de “livre comércio” e regras da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

No ano de 2018, um novo projeto de lei foi apresentado, mas não conseguiu passar pela CCJR da Assembleia (Comissão de Constituição, Justiça e Redação), que avalia a legalidade das propostas. O parecer contrário destacou a decisão do Tribunal de Justiça, que sepultou a lei em 2013.

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