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Cidades

Com protesto em delegacia, Marquinhos não aparece para depor

Ex-prefeito e candidato ao Governo seria ouvido na Deam nesta tarde em inquérito sobre casos de assédio

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 21/09/2022 15:23
Protesto em frente à Casa da Mulher Brasileira, liderado por Eunice (de camiseta branca à frente) e Rose (de preto). (Foto: Marcos Maluf)
Protesto em frente à Casa da Mulher Brasileira, liderado por Eunice (de camiseta branca à frente) e Rose (de preto). (Foto: Marcos Maluf)

Com protesto de mulheres armado em frente à Deam (Delegacia Especializada Atendimento à Mulher), o ex-prefeito e candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul, Marquinhos Trad (PSD), não apareceu no local para prestar depoimento à delegada Maíra Pacheco, que o investiga crimes sexuais. Uma funcionária do escritório Alves De Arruda & Flores Advogados Associados, que representa Marquinhos, foi até a delegacia para protocolar pedido de adiamento.

Por volta das 13h30, várias mulheres uniformizadas com camisetas contendo mensagens como “#chegadeassédio” e “#chegadeviolência” começaram a chegar ao local. Um carro de som também estacionou em frente à Casa de Mulher Brasileira, no Jardim Imá, em Campo Grande, e o motorista procurava pela contratante, de nome Rose.

Minutos depois, Roseli Rocha se aproximou e se identificou como professora aposentada do município, uma das líderes do movimento “Gritando por Justiça”. “Na verdade, a gente vinha formando esse grupo há algum tempo, mas ele tomou força devido a essa situação envolvendo o ex-prefeito. A gente está aqui para cobrar uma atitude das autoridades”, afirmou, completando que o grupo é composto por mulheres, ela e suas amigas, indignadas com a escalada nos casos de violência contra a mulher.

Rose, como prefere ser chamada, não quis dizer quem pagou pelo carro de som. Mas, o Campo Grande News apurou que a empresa de locação cobra R$ 300 por hora.

Ainda pouco antes das 14h, horário para qual estava marcado o interrogatório do investigado, Eunice Costa Silva, de 55 anos, que também se identificou como líder do movimento, deu entrevista. Neste momento, já eram pelo menos duas dezenas de mulheres no local, sendo que parte delas chegou a pé.

Carro de som que foi contratado para ir ao local, mas acabou indo embora. (Foto: Marcos Maluf)
Carro de som que foi contratado para ir ao local, mas acabou indo embora. (Foto: Marcos Maluf)

A organizadora garantiu que o protesto é apartidário. Ela disse que o grupo soube pela imprensa que o depoimento de Marquinhos era hoje e resolveu organizar a manifestação. “Não tem partido aqui. Se meu carro tem um adesivo, é porque eu tenho meu candidato, assim como todo mundo tem. Aqui nós temos o PT, temos o PSD inclusive [partido do candidato], temos PDT. Temos mulheres, apartidárias. Não temos partido, nós temos uma causa. Não é por candidato nenhum”, afirmou.

Eunice confirmou a história de Rose, de que o grupo foi criado antes das denúncias contra Marquinhos virem à tona. “Nosso propósito aqui é sério, não é brincadeira. Nosso movimento surgiu devido aos altos índices de violência contra a mulher no nosso Estado e de feminicídio. Sem sabermos, no mês seguinte veio o caso o ex-prefeito. Ele é um servidor público, foi eleito, colocou o nome à disposição para administrar e está sendo denunciado, investigado e hoje seria interrogado. Nós queremos justiça, porque um político tem de ter lealdade com o povo, respeito com o povo que o elegeu. Se o político pode fazer qualquer coisa, imagine os outros?”, explicou sobre o fato das manifestantes acreditarem que pessoas com cargo eletivo têm de dar exemplo.

A reportagem tentou falar com a delegada Maíra Pacheco, mas ela informou que não comentaria nada sobre o inquérito, que tramita em sigilo.

Delegada Rafaela Lobato, que falou em nome da Deam. (Foto: Marcos Maluf)
Delegada Rafaela Lobato, que falou em nome da Deam. (Foto: Marcos Maluf)

Mais tarde, a delegada Rafaela Lobato atendeu a imprensa em nome da Deam, afirmando que nenhum detalhe seria repassado, nem se o depoimento de Marquinhos havia sido adiado, embora a reportagem já tivesse confirmado a informação do pedido de adiamento feito pela defesa.

Neste momento, guardas municipais fecharam o acesso à Casa da Mulher Brasileira, para que apenas a imprensa se aproximasse da delegada Rafaela. O grupo de mulheres se indignou e começou a gritar: "Como assim, mulheres não podem entrar na Casa da Mulher?” e "Marquinhos Trad, cadê você?".

A investigação – Conforme a última contagem a qual o Campo Grande News teve acesso, pelos menos 12 mulheres (e o marido de uma delas) haviam procurado a Polícia Civil para fazer denúncias contra o ex-prefeito por crimes sexuais, que estariam acontecendo desde 2005. Seis acusações foram arquivadas.

Atrás de provas, a Deam já fez duas operações - no dia 9 de agosto, quando foram cumpridos mandados de busca e apreensão no Paço Municipal, e no dia 31, quando o ex-servidor da Prefeitura de Campo Grande, Victor Hugo Ribeiro Nogueira da Silva, de 36 anos, foi preso.

A investigação foi aberta após as primeiras denúncias, feitas por quatro mulheres: duas de 32 anos, outra de 31, e uma mais jovem, de 21 anos. Marquinhos Trad admitiu relações extraconjugais, mas negou crime, classificando como mentirosas as denúncias de assédio sexual atribuídas a ele e estratégias de adversários durante campanha eleitoral.

No dia 26 de julho, as advogadas Andrea Flores e Rejane Alves Arruda, que defendem o ex-prefeito, afirmaram que o cliente é vítima de uma armação “vergonhosamente política” e que uma cafetina arregimenta garotas de programa para denunciá-lo.

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