Ex-prefeito se diz ameaçado e vai à Justiça contra secretário de Segurança
A notícia de crime é relacionada a mensagens sobre o conflito em fazenda de Amambai
Candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, Marquinhos Trad (PSD) ingressou com representação criminal contra o titular da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), Antônio Carlos Videira, por suposta prática de ameaça. O documento tramita sob sigilo no TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e está sob a relatoria do desembargador Luiz Gonzaga Mendes Marques.
A representação criminal é quando a vítima aciona a Justiça para pedir providências. Conforme apurado pela reportagem, a notícia de crime é relacionada à troca de mensagens entre Marquinhos e Videira após conflito entre policiais militares e índios em fazenda no município de Amambai, a 351 km de Campo Grande.
A ação foi no dia 24 de junho. O guarani-kaiowá Vito Fernandes, 42 anos, morreu e outros sete índios foram feridos tiros. Três policiais militares também sofreram ferimentos a bala.
Marquinhos fez manifestação nas redes sociais, com declarações de que a Justiça precisava punir os responsáveis e que ninguém estava acima da lei.
Na sequência, no mês passado, Marquinhos foi acusado de assédio sexual contra mulheres quando ainda era prefeito de Campo Grande. O político reagiu afirmando tratar-se de armação dos adversários.
Após as denúncias, foi dada publicidade a troca de mensagens entre o ex-prefeito e o titular da Sejusp em aplicativo de bate-papo. Videira afirma ser necessário alinhar as falas sobre a segurança pública, pediu que o candidato se retratasse e, ainda, que fizesse elogios para os policiais do Batalhão de Choque, posto que três foram feridos.
Em certo ponto do diálogo, Marquinhos Trad questiona se a conversa “é uma ameaça”. O candidato se manifestou por meio de nota à imprensa.
“Depois de conversar, via whatsapp, com o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, o agora candidato ao governo do Estado Marcos Trad (PSD), se sentiu ameaçado. Em razão da prerrogativa de foro do secretário, Trad entrou com pedido de investigação junto ao Tribunal de Justiça para a apuração do crime de ameaça. Também solicitou ao Ministério Público Federal pedido de instauração de inquérito para apurar abuso de poder político, econômico e crime eleitoral”, informa o comunicado.
Conversa respeitosa - Nesta segunda-feira, o secretário Antônio Carlos Videira afirmou ao Campo Grande News que ainda não foi notificado sobre o teor da representação criminal, mas assegurou não ter ocorrido ameaça no diálogo.
“Em relação às afirmações atribuídas ao ex-prefeito Marcos Trad, registro que em momento nenhum a gente ameaçou ele. Até porque o diálogo foi uma conversa respeitosa entre duas autoridades, onde dei ciência a ele sobre o teor da operação em Amambai, onde ele havia tecido duras críticas à ação policial, dizendo, inclusive, da inobservância da necessidade de ordem judicia”.
Segundo Videira, a conversa foi para explicar que a Polícia Militar foi ao local atendendo pedidos da comunidade indígena endereçados para a Sejusp, Funai (Fundação Nacional do Índio) e MPF (Ministério Público Federal).
“Onde o capitão da aldeia relatava que um grupo violento estava praticando diversos fatos dentro da aldeia e pedia o apoio da segurança pública. Nós estávamos atendendo à própria liderança. O MPF também já havia pedido apoio da Sejusp naquela região em face dos crimes violentos. Não tem porque ter ordem judicial, não era uma reintegração de posse. Não era uma área invadida. Expliquei isso para o ex-prefeito, encaminhei toda a documentação. Expliquei da liderança negativa que estava usando trabalhadores indígenas da roça de maconha para promover esses atos de violência”.
Ainda de acordo com o titular da Sejusp, a declaração direcionada ao candidato sobre não se esquecer do passado era relativa à longa carreira profissional.
“Estou na segurança pública há 32 anos e trabalhei 25 anos na região de fronteira, justamente onde ocorreu esse episódio. Eu não estava falando com achismo, estava falando de um fato que conheço como delegado de polícia e como secretário. Critiquei a forma como ele se referiu aos policiais militares num grupo de segurança pública. Os policiais estavam cobrando uma posição e três deles, do Choque, foram feridos a tiros. O helicóptero que foi empregado na operação para transporte de tropa foi atingido por dois tiros. Então, disse que ele tinha que, na verdade, elogiar os policiais, não tecer críticas. Sugeri a ele que fizesse uma retratação, mas encerramos de forma respeitosa. Vou sempre defender os nossos policiais. No texto, ele pergunta se é uma ameaça, e eu respondo: de forma alguma”.