Denúncia mostra núcleo para cooptar policiais e PMs para Máfia do Cigarro
Há indícios veementes da prática de delitos por agentes da Polícia Militar, como corrupção passiva, concussão e prevaricação
A Justiça Federal aceitou denúncia contra 16 pessoas alvos da operação Trunk, realizada pela PF (Polícia Federal) para combater o contrabando de cigarro. O documento detalha que a organização criminosa se estrutura em cinco núcleos, sendo um destinado à corrupção de policiais, e traz indícios veementes de envolvimento de policiais militares. Na operação, realizada em 31 de julho, foram presos dois policiais rodoviários federas.
No recebimento da denúncia, a 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande, a pedido do MPF (Ministério Público Federal), autorizou o desmembramento e remessa à Justiça Militar Estadual.
“De fato, compulsando os autos, verifico que há indícios veementes da prática de delitos por agentes da Polícia Militar, tais como corrupção passiva, concussão e prevaricação. O processamento de tais crimes seria de competência do Juízo Especializado supramencionado, já que não se verifica, na conduta de tais policiais, crimes que justifiquem a competência ratione materiae [em razão da matéria] deste Juízo Federal”, informa a decisão.
A Justiça Militar vai receber cópia do processo e das interceptações telefônicas. A estreita relação entre o cigarro contrabandeado do Paraguai e policiais, crime visto como menos grave, já resultou em duas grandes operações contra a Máfia do Cigarro no ano passado.
Organograma – Na operação Trunk, a denúncia do MPF descreve a hierarquia da organização criminosa. Os setores são chefia, núcleo operacional e de apoio logístico, núcleo financeiro, núcleo responsável pela corrupção de policiais, e núcleo de agentes policiais responsáveis pela facilitação do contrabando.
No topo, são apontados como chefes Francisco Job da Silva Neto (preso em MS) e José Antônio Mizael Alves (preso em São Paulo). No núcleo operacional, são destacados três gerentes: Irismar Gadelha Soares (vereador de Riacho dos Cavalos, na Paraíba), Fernando da Silva e Paulo Henrique Xavier (preso em MS). O vereador e Fernando estão foragidos.
Atualmente presa, Elaynne Cristina Dantas de Farias é apontada como coordenadora do núcleo financeiro. O setor responsável por cooptar policiais teria a liderança de João Miranda Luciano, com endereços em Ponta Porã e Sidrolândia.
A operação prendeu, em Dourados, os policiais rodoviários federais Moacir Ribeiro da Silva Netto e Alaércio Dias Barbosa. Nas gravações, o posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal) é chamado de “casinha”. Com o dinheiro da propina, Alaércio teria arrendado o Prime Motel e Pousada, localizado em Ponta Porã.
A engrenagem da quadrilha também exigia executores (quem prestava toda sorte de serviços), como motorista, “olheiros”, “mateiros” e “batedores”. Os crimes denunciados são de organização criminosa, contrabando, corrupção ativa e facilitação de contrabando. Dois réus também vão responder por favorecimento pessoal por auxiliar terceiro a escapar de ação policial.
Flagrante de R$ 3 milhões – No período de julho de 2018 a março de 2019, foram aprendidos quatorze caminhões e dois carros de passeios, todos lotados de cigarro. Durante oito meses de investigação, o prejuízo ao erário público foi calculado em R$ 42 milhões. Num único flagrante, a carga foi avaliada em R$ 3 milhões.
A operação cumpriu mandados na Capital, Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante, Embu-Guaçu (SP) e São Bento (PB). O nome da operação faz referência ao modo de operação da quadrilha, que utilizava caminhão-baú para transporte do cigarro contrabandeado do Paraguai.