Gerson morreu aos 40 e pode ter infectado mais pessoas em festa de família
Sem saber que estava com a doença, morador da cidade que tem 3 casos, esteve em evento com 200 pessoas e até prefeito participou
Gérson Rosa de Oliveira, 40 anos, está entre as 12 pessoas que acabaram falecendo de covid-19 em Mato Grosso do Sul antes dos 60 anos. Ele também não apresentava qualquer comorbidade, ou seja, doença prévia, assim como outras seis vítimas da doença.
Morador de Anastácio, ele trabalhava com roçada, fazendo limpeza de áreas públicas para empresa terceirizada do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Para a filha dele, Maekele Wendy Martins de Oliveira, 19 anos, o pai contraiu a doença trabalhando.
A morte de Gérson ocorreu ontem, 17 de junho, e deixou a família e também o pequeno município de 25.135 habitantes assustados. Ele engrossou a estatística de óbitos pela doença no Estado, que até ontem, era de 39 pessoas. Em toda Anastácio são apenas três casos confirmados da doença, e uma morte.
O número é considerado alto, levando-se em conta que a quantidade de mortes, desde 11 de junho, tem sido de pelo menos duas ao dia. Antes disso, a média era de ocorrer uma a cada cinco dias. A aceleração começou a partir de junho, já que em maio, chegou-se ao recorde de o espaço entre um óbito e outro ser de 11 dias.
Maekele, que é chamada também de Kelly, conta que o pai foi internado em 9 de junho, depois de alguns dias apresentando febre e dor de cabeça. “Cheguei a levar dipirona pra ele na casa dele”, lembrou.
Quando chegou ao ponto de ser internado, Gérson já estava com dores no peito, “pontadas duplas”, segundo a filha e foi direto para o Hospital de Aquidauana, onde foi entubado e passou a respirar com ajuda de aparelhos.
Segundo informações da SES (Secretaria de Estado de Saúde), o fator complicador do caso dele pode ter sido o fato dele ser fumante, como consta nos registros. Para a filha, houve mesmo demora para que se fizesse o diagnóstico adequado e que se cogitasse que se tratava de covid-19. “Fizeram o exame só um dia antes dele morrer”, lamenta.
Kelly conta ainda que depois que foi para o hospital, o quadro de saúde “só piorou”, com comprometimento tanto do pulmão, que estava com pneumonia em estágio avançado, quanto do fígado. “A doença atacou os órgãos dele”, acredita.
A filha conta que Gérson era um bom pai, que estava presente sempre que precisava e que gostava de ficar com o neto, filho dela, de 2 anos de idade.
“Depois do que aconteceu, o certo é que eles (prefeitura) testassem a família inteira, mas só testaram a mim, a esposa dele e meus avós”, reclamou.
Para ela, a criança, assim como pelo menos outras 20 pessoas da família que mantinham contato direto com ele deveriam ser examinadas. No entanto, a administração municipal orientou o isolamento de todos, que estão em chácara dos pais de Gérson, conhecida como Chácara da Dona Calu, como a mãe dele é chamada.
Festa – Conhecidos na cidade, a família carrega o peso de poder ser a responsável por mais contaminações. Pelo menos 200 pessoas, conforme relatos em redes sociais e também de moradores de Anastácio que falaram com a reportagem, participaram de festa em 7 de junho, em comemoração ao aniversário da mãe de Gérson. Ele participou da comemoração, bem como o prefeito da cidade, Nildo Alves.
A população reclama do mau exemplo dado pelo gestor e teme que por causa da atitude, a doença se alastre na cidade. Em comentário na página pessoal do prefeito, morador questionava o caso e pedia explicações. Não houve reposta e o post foi apagado.
Em página de rede social, a indignação é grande e morador afirma que "o prefeito de Anastácio, Nildo Alves faz politicagem e participa de festa regada a churrasco e muita cerveja onde estava o paciente que infelizmente veio a óbito por covid-19 no município. E o pior, sem o uso de máscara e com aglomeração gigantesca, pegando na mão de todos os presentes".
A prefeitura nega e diz, inclusive, se tratar de fake news. "Vigilância em Saúde fez todo o mapeamento das pessoas que tiveram contato com esse caso positivo e o prefeito Nildo Alves não é contactante desse paciente, que infelizmente veio a óbito. Por esse motivo, ele não está em isolamento domiciliar'.
Sobre a festa, o município confirma que Vigilância em Saúde constatou que "40 membros de uma mesma família residem no terreno pertencente à mãe desse paciente. E a foto em questão, onde aparece o prefeito Nildo, não é atual e não diz respeito à residência da família do paciente positivado. Tanto que ele olha para a câmera no momento em que a mesma foi registrada", garante.
39 mortes – De todos os óbitos registrados até agora em Mato Grosso do Sul, 20 são homens e 19 mulheres. Chama a atenção dado de que, entre um dos sintomas mais comuns da doença, a dificuldade respiratória, apareceu em apenas 21 (53%) dos 39 óbitos e entre as 12 pessoas com menos de 60 anos, somente cinco apresentaram problemas para respirar.
Os outros sintomas comuns apresentados entre as 39 pessoas que morreram da doença foram dor de garanta, febre e tosse. Em seis dos casos, o único registro de sintoma foi tosse e em outros sete, febre e tosse juntas.