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Cidades

Motoristas enfrentam buracos e temem acidentes com bicho na rota da celulose

Excesso de caminhões e ultrapassagens perigosas fazem parte da rotina de quem trafega na BR-262

Por Gabriela Couto | 07/11/2023 17:10
Buracos e desníveis na BR-262 dificultam o transporte de cargas principalmente próximo a Água Clara (Foto: Paulo Francis)
Buracos e desníveis na BR-262 dificultam o transporte de cargas principalmente próximo a Água Clara (Foto: Paulo Francis)

Um verdadeiro ‘mar de eucaliptos’ de todos os tamanhos dominam as margens dos 328,2 quilômetros da BR-262, que parte do entroncamento da BR-163 em Campo Grande e vai até a divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, na cidade de Três Lagoas.

A estrada que é a principal rota do escoamento da produção sul-mato-grossense para os portos paulistas possui uma infraestrutura deficitária para suportar a carga de toneladas de troncos de árvores que são transportadas em pistas simples e esburacadas.

Segundo os caminhoneiros que estão no trecho há mais de um ano por conta da construção da fábrica da Suzano, em Ribas do Rio Pardo, a rodovia já foi muito pior. No entanto, todos ressaltam que apesar das melhorias que vieram com a indústria da celulose, ainda é preciso melhorias e equipamentos de segurança para diminuir os acidentes.

Trecho é trânsito extremamente pesado e perigoso, com ultrapassagens irregulares e sem fiscalização (Foto: Paulo Francis)
Trecho é trânsito extremamente pesado e perigoso, com ultrapassagens irregulares e sem fiscalização (Foto: Paulo Francis)

“Quando comecei a fazer o trajeto para Suzano (indústria de celulose) era bem ruim, principalmente a estrada chegando a Água Clara. Já vi muito acidente feio neste período”, recorda o caminhoneiro Everton Thiago Negoseki de Carvalho, 36 anos.

Ele revela que todos têm medo de dirigir à noite por conta do risco de atropelar um animal silvestre. Em nenhum ponto há passagem de fauna na rodovia. Nesta terça-feira (7), duas carcaças foram vistas no km 292 e 51 da rodovia. É comum ver bichos mortos ao longo da rodovia.

Na última sexta-feira (3), Everton estava na cabine do caminhão do amigo, Marcelo Aparecido Santo da Paz, 38 anos, que atropelou uma anta na entrada de Ribas do Rio Pardo.

“Tem muito animal na pista. Falta sinalização para a passagem dos bichos. Por isso muitas vezes carregamos o caminhão e não saímos. Preferimos clarear o dia para pegar a estrada. Isso até atrasa a carga, mas é pela segurança”, destacou.

Motoristas de caminhão que trabalham para a Suzano, carregando infraestrutura da construção da fábrica (Foto: Paulo Francis)
Motoristas de caminhão que trabalham para a Suzano, carregando infraestrutura da construção da fábrica (Foto: Paulo Francis)

A anta atravessou em frente ao caminhão, quando eles estavam chegando na cidade para jantar. “Não tinha o que fazer. Estou há 16 anos na estrada e essa foi a primeira vez que me envolvi em um acidente”.

As ondulações, também chamadas pelos caminhoneiros de facão ou costelão, atrapalham o trajeto. Em pontos que ainda existem trilhos de trem, motoristas tentam desviar pelo ‘projeto’ de acostamento da via. A reclamação é que as passagens de nível são muito malfeitas e por isso recorrem à lateral da pista.

“Isso deixa a carga remexida. Temos que parar e reforçar o material para não se soltar, porque eles se mexem com tanta vibração causada pela estrada esburacada”, ressaltou o caminhoneiro Walmir Lopes dos Santos Filhos, 58 anos.

Carcaça de tamanduá-bandeira atropelado no km 50 da BR-262, próximo a Três Lagoas (Foto: Paulo Francis)
Carcaça de tamanduá-bandeira atropelado no km 50 da BR-262, próximo a Três Lagoas (Foto: Paulo Francis)

O percurso inteiro não possui sinal de internet fora da zona urbana. A constatação é preocupante, já que fica difícil comunicar acidentes. Ultrapassagens perigosas e em locais proibidos ocorrem durante todo o caminho. Em 5h de viagem, nenhuma fiscalização foi avistada no trecho.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte).

A Agência destacou que o assunto deve ser discutido com o Ministério dos Transportes, que é o formulador de políticas públicas para o setor. A comunicação do departamento e do ministério ainda não se manifestaram até o momento. O espaço segue aberto.

Em rotatória da BR-262 é possível ver o trânsito de carretas carregadas de eucalipto indo em sentido a São Paulo e veículos voltando vazios para carregar (Foto: Paulo Francis)
Em rotatória da BR-262 é possível ver o trânsito de carretas carregadas de eucalipto indo em sentido a São Paulo e veículos voltando vazios para carregar (Foto: Paulo Francis)

Concessão – O caminho entre a Capital e Três Lagoas, conhecido como rota da celulose, faz parte do PMI (Procedimento de Manifestação de Interesse), que tem como objetivo permitir que o setor público avalie as opções disponíveis para a realização de um projeto ou serviço público antes de lançar um edital formal de licitação.

O consórcio contratado para realizar os estudos técnicos que serão utilizados para embasar o projeto destinado à manutenção e conservação da MS-040, MS-338 e MS-395 e trechos das BR-262 e BR-267 deve apresentar os dados em 180 dias.

A previsão é que um edital seja publicado após abril do ano que vem e o leilão dessas rodovias ocorra na B3, a partir do segundo semestre de 2024.

Pode parecer distante, mas o governador Eduardo Riedel (PSDB) já tem divulgado que os 900 km passarão por concessão por onde passa para divulgar Mato Grosso do Sul.

O projeto faz parte do plano de infraestrutura e logística de transportes que serão concluídas até o fim do mandato.

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