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Cidades

Na Espanha, ex-major de MS vivia sob 'dupla identidade' e teve morte notificada

Após sentença de prisão na Espanha, advogado informou a morte de "Paul Wouter" por covid, outro nome usado por Sérgio Carvalho,

Nyelder Rodrigues | 25/11/2020 18:02
Documento com os dados originais sobre Major Carvalho, que vivia na Espanha sob a identidade falsa de Paul Wouter (Foto: Reprodução/La Voz de Galicia)
Documento com os dados originais sobre Major Carvalho, que vivia na Espanha sob a identidade falsa de Paul Wouter (Foto: Reprodução/La Voz de Galicia)

No Brasil, Sérgio Roberto de Carvalho, major expulso da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) por envolvimento com a jogatina local, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Na Espanha, Paul Wouter, empresário nascido na Guiana e com passaporte do Suriname, investigado por chefiar o tráfico na Europa.

A vida dupla de 'Major Carvalho' veio à tona em Mato Grosso do Sul com a deflagração da Operação Enterprise, deflagrada pela PF (Polícia Federal) na terça-feira (23) e que teve ele como principal alvo. Foram 149 mandados de busca e 66 de prisão cumpridos em 10 estados brasileiros, o território sul-mato-grossense.

Na Espanha, ele morava em Pontevedra, no território autônomo da Galícia - onde, inclusive, a língua oficial é o galego, além do espanhol - e em uma luxuosa casa de 2 milhões e euros, cerca de R$ 12 milhões.

Essa casa e mais 37 aeronaves, sendo uma delas um jatinho avaliado em R$ 20 milhões, foram sequestradas pela Interpol (The International Criminal Police Organization), que participou junto com a PF e Receita Federal da Enterprise.

Do litoral espanhol, ele coordenava bilionário esquema de narcotráfico com entrada de cocaína a ser distribuída por toda Europa e Ásia. Em agosto de 2018, o navio Titan III foi interceptado com 1,7 tonelada de cocaína, atribuídas à ele. Esse fato foi ponto-chave para que seu esquema fosse desmantelado.

Imagem publicada por jornal espanhol mostra foto mais atual do ex-major, expondo mudança de aparência (Foto: Diário de Pontevedra)
Imagem publicada por jornal espanhol mostra foto mais atual do ex-major, expondo mudança de aparência (Foto: Diário de Pontevedra)

Prisão em 2018 - Como Paul Wouter, o ex-major chegou a ser preso por causa dessa carga, mas foi solto pouco depois, segundo a imprensa local. A PF apurou, de acordo com o jornalista Josmar Jozino, do portal UOL, que ele possuia uma empresa em Lisboa.

Ainda conforme as informações, Carvalho frequentemente, se deslocava da Galícia até Dubai, no Emirados Árabes Unidos, onde também mantinha uma empresa denominada PWT General Trading. Emirados Árabes, Espanha e Portugal, além da Colômbia, também foram alvos da Operação Enterprise nesse semana.

Carga apreendida com grupo de Carvalho, e agosto de 2018. (Foto: El Mundo)
Carga apreendida com grupo de Carvalho, e agosto de 2018. (Foto: El Mundo)

Morte por covid - De acordo com o jornal galego La Voz de Galicia, o inquérito que investigava Paul Wouter por narcotráfico foi encerrado pelas autoridades locais devido a notícia de sua morte, dada por seu advogado dois dias após se tornar de conhecimento público pedido de prisão de 13 anos e seis meses contra ele.

O motivo do falecimento alegado por sua defesa foi covid-19, segundo divulgou o jornal em matéria publicada no início da tarde desta quarta-feira, no horário brasileiro. Ainda segundo a publicação, a morte teria ocorrido há 10 dias.

Contudo, no Brasil, ainda não há nada sobre a morte de Sérgio, que continua recebendo normalmente salário bruto de R$ 11.105,64 como aposentadoria do cargo de major da PM de Mato Grosso do Sul, conforme consta no Portal da Transparência.

Ainda de acordo com o La Voz de Galicia, investigadores que estariam trabalhando no caso de Paul Wouter não descartam que a notificação do óbito dele se trate apenas de uma estratégia, fingindo sua morte para que consiga fugir.

Imagem do ex-major em maio de 2011, quando foi julgado em processo derivado da operação Las Vegas (Foto: Francisco Júnior/Arquivo)
Imagem do ex-major em maio de 2011, quando foi julgado em processo derivado da operação Las Vegas (Foto: Francisco Júnior/Arquivo)

Major Carvalho - Paul Wouter, ou Major Carvalho. Vivendo com dupla identidade, ele foi preso pela primeira vez em 1997, quando já estava no quadro da reserva dos oficiais da PMMS. Ele foi pego em um hotel no Guarujá (SP) depois que 237 kg de cocaína foram flagrados em aeronave pronta para decolar em Rio Verde de Mato Grosso (MS).

Tudo aconteceu na Fazenda Cordilheira, de sua propriedade. Pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico, o narcotraficante foi condenado a 15 anos de prisão no Brasil. Em 2007 e 2009, quando já cumpria pena em regime semiaberto, voltou a ser preso por envolvimento em jogos de azar.

Carvalho foi alvo das operações Xeque-Mate e Las Vegas, que o colocaram 'na mira' da Polícia Federal, ao todo, 140 policiais militares. Em 2010, ele também virou notícia durante a Operação Vituvriano, também da PF, que apurou uma fraude ao espólio de José Olímpio, que morreu sem deixar herdeiros.

O ex-major seria o chefe da quadrilha que tentava ficar com a herança do milionário, que vivia em São Paulo (SP) e morreu em 2005, deixando sem herdeiros uma fortuna estimada em mais de R$ 100 milhões. Sua demissão da PM foi publicada em 7 de março de 2018, porém, recursos mantiveram ele no quadro.

Casa onde ele morava na Espanha, avaliada em 2 milhões de euros (Foto: PF/Divulgação)
Casa onde ele morava na Espanha, avaliada em 2 milhões de euros (Foto: PF/Divulgação)


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