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Cidades

Negócio familiar que "lavou" R$ 80 milhões do tráfico em 4 anos é denunciado

Ale Tahir Della e Ioneide Nogueira Martins comandavam esquema em Corumbá e usavam familiares como laranjas

Por Lucia Morel | 31/10/2023 14:47

Negócio familiar que movimentou R$ 80 milhões em quatro anos – entre 2017 e 2021 – foi denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas. Pequenas empresas eram usadas como fachada pelo grupo para esconder os milhões que eram garantidos com a venda de entorpecentes. Os fatos fazem parte da Operação Mamon, da Polícia Federal, em abril de 2021, em Corumbá.

Foram denunciados como líderes do esquema: Ale Tahir Della e Ioneide Nogueira Martins, conhecido como “Paraná”. O primeiro usava seus dois filhos no esquema: Matheus Prado Della e Allex Prado Della, que é vereador em Corumbá pelo Republicanos e líder do prefeito Marcelo Iunes (PSDB) na Câmara Municipal.

Já “Paraná” no esquema se associou com os irmãos Ademilson Dias Bezerra, conhecido como “Paranazinho”, e Maria Lúcia Martins, e ainda com o sobrinho, Lukas Martins Nogueira, e a cunhada, Mayara Pinho Tucan.

Mas, além deles todos, também foram denunciados Luciano Cestari e Guilherme Regenold Neto, que são acusados de emprestarem seus estabelecimentos comerciais para a lavagem de capitais em troca de benefícios em bens ou espécie.

As investigações identificaram que Ale e Ioneide não registravam bens em seus nomes e não movimentavam valores em contas bancárias de sua titularidade. Mas se utilizavam de sobrinhos, irmãos ou dos próprios filhos, que atuavam em conjunto com outros integrantes do grupo, como “laranjas” em empresas de fachada que lavavam os recursos oriundos do tráfico.

Na época da operação, em 2021, chamou atenção a quantidade de carros luxuosos nas mãos das duas famílias (Foto: Divulgação PF)
Na época da operação, em 2021, chamou atenção a quantidade de carros luxuosos nas mãos das duas famílias (Foto: Divulgação PF)

Na época da operação, chamaram atenção os carros luxuosos que desfilaram pelas ruas de Corumbá, entre eles um Porsche e um Mustang, que juntos, são avaliados em pelo menos R$ 1 milhão. Em abril de 2021, os mandados de busca e apreensão e de prisão foram autorizados pela 5ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande e, ainda, o sequestro de 4 imóveis e de 61 veículos, avaliados em R$ 8 milhões.

Modus operandi - Conforme o MPF, por meio de estabelecimentos comerciais de pequeno porte, o grupo movimentou quantias milionárias, incompatíveis com o perfil dos empreendimentos. Um mercadinho de bairro, por exemplo, movimentou R$ 63 milhões entre 2017 e 2021. Uma loja de conveniência, também investigada no esquema, transacionou mais de R$ 23 milhões em apenas dois anos.

“As empresas constituídas em nome dos investigados são precipuamente de fachada. Ainda que exerçam alguma atividade lícita, os valores desta são irrisórios perto do montante movimentado por eles”, ressalta a denúncia do MPF.

Outra forma de lavar dinheiro ilegal era a utilização de cartões de créditos para efetuar compras fantasiosas, de forma a aparentar que se tratava de um negócio com grande movimento de compra e venda, quando, na verdade, o local possuía pequeno fluxo de clientes.

Com esse mecanismo, havia uma troca de recursos ilícitos, os quais eram utilizados para efetuar os pagamentos das faturas dos cartões, por recursos lícitos, creditados pela operadora de crédito. Em um dos estabelecimentos investigados, cerca de 90% do faturamento vinha de cartões de crédito dos próprios integrantes da família.

Investigações conduzidas pelo MPF e pela Polícia Federal analisaram extratos bancários, faturas de cartão de crédito, além de relatórios de inteligência financeira que, considerados em conjunto com as mensagens apreendidas nos telefones celulares dos investigados, evidenciaram os indícios das relações criminosas entre os integrantes da organização.

Nas mensagens há, ainda, tratativas dos denunciados sobre formas de receber e enviar dinheiro para a Bolívia, evidenciando a prática de evasão de divisas por meio de câmbio ilegal. Segundo as investigações, o grupo mantinha contato com organizações criminosas responsáveis pelo tráfico de drogas entre o Brasil e o vizinho sul-americano, um dos maiores produtores mundiais de cocaína.

Todos foram denunciados pelos crimes de organização criminosa, de caráter transnacional e lavagem e ocultação de bens. Além das penas de reclusão, o MPF pede a fixação de indenização por danos morais coletivos, em valores que chegam a R$ 2 milhões para os líderes do esquema.

Advogados de alguns dos denunciados, André Borges e Julicezar Barbosa afirmam que "os acusados ainda não foram citados e estão surpresos com a denúncia, porque acreditavam que tudo restou bem esclarecido no inquérito da Polícia Federal". Também informam, em nota, que "em breve irão se defender perante o Judiciário, que saberá decidir de maneira justa e imparcial”, finalizaram.

Matéria editada às 16h30 para acréscimo de informação.

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